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manuel da costa pinto

 

16/12/2012 - 03h00

Tolstói ganha duas novas traduções feitas do russo

Acabam de ser lançadas, simultaneamente, duas edições de "Os Cossacos", de Tolstói. A coincidência mostra que o "boom" que a literatura russa vem registrando no Brasil desde 2000, com o início das traduções de Dostoiévski pela Editora 34, transformou-se em fenômeno permanente. Aliás, a tradução de Sonia Branco para o romance de juventude de Tolstói marca a criação de uma nova editora, a Livros da Matriz, do jornalista Aluizio Leite, um dos responsáveis pela implantação da linha russa da 34.

A recepção dessa literatura não é recente, como prova "Da Estepe à Caatinga" (Edusp), interessantíssimo estudo de Bruno Barretto Gomide sobre a identificação estética e política que escritores e leitores brasileiros da virada do século 19 para o 20 tiveram com autores russos como Gógol.

Reprodução
Ilustração de Hélio de Almeida para a edição de "Os Cossacos" da editora Amarilys
Ilustração de Hélio de Almeida para a edição de "Os Cossacos" da editora Amarilys

A diferença é que essa recepção se dava por meio de traduções feitas a partir de línguas intermediárias (francês, inglês), ao passo que a nova onda estabeleceu a versão diretamente do russo como parâmetro incontornável.

Precedidas de excelentes prefácios, as traduções de Sonia Branco e Klara Gourianova contrastam, por exemplo, com o tom formal, cerimonioso, da versão de "Os Cossacos" por Milton Amado, dos anos 1960. Além disso, preservam as variações idiomáticas do original --já que, nesse romance com forte teor autobiográfico, Tolstói narra a história de um oficial da nobreza moscovita que decide ir para o Cáucaso, onde convive com os cossacos.

O contraste entre a frivolidade cosmopolita e a autenticidade camponesa, que atravessa obras como "Guerra e Paz" e "Anna Kariênina", insinua-se de forma complexa: a idealização inicial do "bom selvagem" e da natureza (tendo como símbolo as montanhas caucasianas) se projeta no enlace do protagonista com uma jovem cossaca.

Antecipando sua apologia de um cristianismo primitivo, Tolstói faz da impossibilidade amorosa e do retorno à antiga demarcação social uma crítica do progresso, que produz visões de mundo irreconciliáveis, mas sobretudo das próprias idealizações nostálgicas --mais um motivo para os leitores de hoje, bombardeados pelo discurso "multiculturalista", redescobrirem o eterno fascínio do mestre russo.

*

LIVROS

OS COSSACOS ****
Autor: Lev Tolstói
Tradução: Sonia Branco
Editora: Livros da Matriz (256 págs., R$ 37)

OS COSSACOS ****
Autor: Lev Tolstói
Tradução: Klara Gourianova
Editora: Amarilys (264 págs., R$ 44)

GRANDES HEROÍNAS DA LITERATURA ***
José de Alencar e Machado de Assis
(Pavana; "Lucíola", 256 págs.; "Senhora", 448 págs.; "Helena", 320 págs.; R$ 39,90, caixa com três livros)

A edição de bolso, com apresentação escassa, só deixa claro no título geral a proposta de reunir personagens femininas do romantismo. Com Lucíola e Aurélia (em "Senhora"), Alencar aclimata sob o "céu fluminense" a cortesã de "A Dama das Camélias", de Dumas Filho. Com Helena, herdeira ilegítima às voltas com um amor incestuoso, Machado antecipa o tema do desajuste social e moral presente em sua fase realista.

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DISCO

RAVEL + DEBUSSY ****
Clara Sverner (Azul Music, R$ 19,90)

Clara Sverner é uma pianista que vai do registro clássico (gravações das sonatas de Mozart e de peças de Chopin) a parcerias com o clarinetista e saxofonista Paulo Moura. Aqui, a celebração dos 150 anos de nascimento de Debussy acolhe também obras fundamentais de Ravel, em interpretações que dão tom justo à revolução discreta dos impressionistas franceses.

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FILME

CELEBRATION DAY ****
Led Zeppelin (Warner Music, R$ 74,90)

Em 2007, os integrantes do Led Zeppelin se reuniram para um tributo a Ahmet Ertegün, produtor turco que projetou dezenas de nomes na galáxia pop e que morrera no ano anterior. Demorou para sair a versão em DVD do show, acompanhada de dois discos com antologia de hits da banda inglesa. Mas o resultado é triunfal: um autêntico epitáfio da era de ouro do rock.

manuel da costa pinto

Manuel da Costa Pinto é jornalista e mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP. É editor do 'Guia Folha - Livros, Discos, Filmes' é também do programa 'Entrelinhas', da TV Cultura. Escreve aos domingos.

 

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