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marcos augusto gonçalves

 

10/09/2012 - 03h00

Arquitetando o futuro

Tudo que São Paulo não precisa é de "uma igreja em cada esquina", como sugeriu Celso Russomanno num devaneio retórico para bajular a frente cristã que abençoa sua campanha à prefeitura.

Se eleito (toc,toc,toc), esperemos que o "católico fervoroso" filiado a um partido evangélico consiga, por obra de algum milagre, reunir pessoas com propostas sensatas e corajosas para formular uma nova política urbanística e arquitetônica na cidade. O mesmo vale, é claro, para os demais concorrentes.

O Brasil ingressa numa nova fase, pós-reconstrução democrática. Perde vigor toda uma agenda política, com seus temas e personagens declinantes, sem que uma nova já tenha se configurado com clareza. Talvez o sucesso de Russomanno nas pesquisas seja um sintoma, quem sabe transitório, da desorientação causada por esse lusco-fusco.

Os dilemas ideológicos que tensionaram o período pós-ditadura, com polarizações do tipo FHC x Lula, privatização x estatismo, dizem mais sobre o passado do que sobre o futuro. Manifestação tardia desses antagonismos, o embate entre "petralhas" e "demo-tucanos", por exemplo, que teve lá seu interesse, já virou um "Zorra Total" ideológico, de tão farsesco, pueril e previsível.

Enquanto isso, no mundo real, o governo petista fomenta a expansão dos mercados e dá início às reformas exigidas pelo capitalismo. O próximo passo, meninos, não será a revolução.

Cansada também está a pauta das cidades. São Paulo, a mais complexa, precisa abandonar a rotina letárgica e barriguda das obras viárias, da precariedade do transporte público, da ocupação liderada pela especulação imobiliária, sócia do poder público. A cidade merece mais do que essa arquitetura jeca de "alto padrão" e a segregação urbanística entre ricos e pobres.

A metrópole pós-industrial tem desafios de envergadura. Vão desde a licitação de milhões de metros quadrados de moradias populares ao pólo tecnológico previsto para o bairro do Jaguaré. São oportunidades que não podem ser desperdiçadas.

Essa nova realidade --que não se resume às obras para a Copa e a Olimpíada-- atrai escritórios estrangeiros ao país e impulsiona a renovação de nossa arquitetura. Um sinal é o interesse despertado pelo evento Arq. Futuro (www.arqfuturo.com.br), ideia de Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim, sócios da editora Bei. Já trouxeram a São Paulo e ao Rio nomes de ponta como a iraquiana Zaha Hadid e o suíço Jacques Herzog, presentes em sessões concorridíssimas --uma delas na Faculdade de Arquiteura e Urbanismo da USP.

O próximo encontro será em São Paulo, nos dias 24 e 25 deste mês, no auditório do Ibirapuera. Vai ter gente como o norte-americano Tod Williams, o chileno Alejandro Aravena e o brasileiro Isay Weinfeld, em debates sobre habitação popular, tecnologia e futuro das cidades.

Numa das mesas --essa para convidados-- estará presente o brasileiro Philip Yang, empresário do setor de petróleo, que criou o Instituto Urbem, voltado para o equacionamento de problemas urbanísticos de São Paulo.

Os candidatos à prefeitura receberão seus convites. É uma chance preciosa de intercâmbio entre pessoas sofisticadas, envolvidas com o assunto, e aqueles que podem, por intermédio da política, transformar expectativas em realidade.

marcos.augusto@grupofolha.com.br

marcos augusto gonçalves

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York. É editorialista e colunista do jornal. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' (Publifolha, 2008) e de '1922 - A semana que Não Terminou' (Cia das Letras, 2012).

 

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