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marcos augusto gonçalves

 

31/12/2012 - 03h00

Oportunidade e sorte

Fernando Haddad parece ser um homem de sorte. Sim, eu já ouvi dizer que a sorte é o encontro da competência com a oportunidade. Nem sempre, convenhamos. De qualquer forma, o novo prefeito paulistano, que toma posse amanhã, terá nos próximos anos algumas boas oportunidades para mostrar-se competente --o que não deixa de ser uma sorte.

Pessoas que acompanham de perto as mudanças por que passa São Paulo consideram que a gestão de Haddad vai coincidir com um período decisivo para a definição da cara que a cidade vai ter uma vez consolidada a transição pós-industrial.

O processo de desconcentração da indústria deixou para trás áreas inteiras de galpões e velhas instalações fabris, muitas vezes na vizinhança da região central, sobre as quais uma nova São Paulo vai se erguer. Que cidade será essa? Que tipo de empreendimento imobiliário e intervenção urbana vai moldar a nova face da metrópole? Assistiremos a uma nova onda de edifícios de baixa qualidade arquitetônica, com condomínios segregados para classe média e conjuntos vilipendiados para habitação social? Ou veremos alguma coisa que faça a diferença, na direção de uma cidade mais propícia ao convívio e à fruição da vida pública?

Nesse assunto, Haddad começou bem ao indicar para o Desenvolvimento Urbano um nome --Fernando de Mello Franco-- que goza da melhor das reputações.
Isso no entanto não basta.

O prefeito terá de aprovar na Câmara Municipal um novo Plano Diretor, que venha a consolidar a proposta, na verdade já delineada pelo planejamento anterior, do Arco do Futuro. Mais emprego na periferia, mais habitação no centro, uma fórmula mais fácil de enunciar do que de implementar.

É claro que Haddad tem a sorte --ou será competência?-- de estar no centro das expectativas de seu partido, que ocupa, há dez anos, o palácio federal e continua sonhando em transpor as muralhas do estadual. Ungido pelo homem, contará com a boa vontade do Planalto.

A boa vontade de Brasília, contudo, é insuficiente. Os desafios são importantes e não se resumem ao Plano Diretor. Transporte, educação, saúde, lixo, enchentes... São Paulo não decepciona quando se trata de agenda. O novo prefeito terá, além disso, de demonstrar que sabe fazer política. As subprefeituras, ora ocupadas por coronéis egressos da PM, voltarão ao tabuleiro e se constituirão em espaço --contíguo ao da Câmara-- para esse exercício. Delicado e perigoso exercício, diga-se, numa capital com orçamento de R$ 42 bilhões (o dobro do carioca), que contrata serviços bilionários e oferece variadas e atraentes possibilidades de mamatas para aproveitadores e apaniguados em geral.

Para infelicidade dos que idealizam o poder sem contestações, Haddad terá também de enfrentar uma oposição política. E será, como outros foram, acompanhado pela imprensa --que, como de hábito, à primeira reportagem crítica sobre a nova gestão, será acusada de golpista pelos "jornalulistas" de carteirinha.

Os laços que hoje unem, às claras, o governo petista e o prefeito que se retira, Gilberto Kassab, indicam que as diferenças ideológicas não são nem tão ideológicas, nem tão diferentes assim -o que se torna mais verdadeiro quando a questão, afinal, é administrar bem uma cidade.

Fica aqui meu voto de boa sorte a São Paulo para este ano --e o novo ciclo-- que se inicia.

marcos.augusto@grupofolha.com.br

marcos augusto gonçalves

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York. É editorialista e colunista do jornal. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' (Publifolha, 2008) e de '1922 - A semana que Não Terminou' (Cia das Letras, 2012).

 

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