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marcos augusto gonçalves

 

21/01/2013 - 03h00

Restaurar o Copan

DE SÃO PAULO

É um vexame para os paulistanos e para São Paulo que não se consiga levantar fundos para restaurar o Copan. A novela vem se arrastando nos últimos anos. O edifício, embora histórico, não é tombado, mas a prefeitura já concedeu autorização para a venda de publicidade na tela que o recobrirá durante a reforma --seguindo uma estratégia que deu certo em Barcelona.

Numa cidade limpa de outdoors e anúncios em espaço público, fazer propaganda naquela superfície sinuosa de 140 metros de extensão por 118 de altura seria, em tese, um atrativo e tanto para o mercado --que geraria os recursos para o restauro, estimado em pouco mais de R$ 20 milhões. Até aqui, porém, nada aconteceu.

Alô, empresas, alô publicitários, alô Nizan Guanaes: se o edifício-símbolo da maior e mais rica cidade do país, desenhado por Oscar Niemeyer, está caindo aos pedaços agora, imagina na inauguração da Copa!

Faz tempo que a elite paulista virou as costas para o belo centro de sua capital. Já está na hora de desvirar. Não faz sentido continuar a manter aquela zona fantasma, abandonada e maltratada.

Bacanas adoram ir a Nova York. Alguns até parece que viram americanos quando pisam no JFK. Babam de orgulho pela maneira como seus compatriotas emprestados se relacionam com a magnífica metrópole em que vivem, sempre se reinventando, sempre engendrando novos espaços e situações. Mas quando retornam à jungle tropical, puf, o encanto se desfaz. Viram abóbora, entram no carrão com insulfilm e boa noite. Todos direto para a redoma particular, devidamente segregada do espaço público, visto como sinônimo de pobreza e desordem.

É um tipo de comportamento que já deu. Chega. Acorda. As pessoas querem mudar a cidade, querem mais cuidado, mais beleza, mais convivência, mais respeito, mais civilidade. É nessa onda que a nova São Paulo quer surfar. E os sinais, basta olhar, estão por todos os lados.

A cidade tem alguns prédios incríveis pedindo restauro. Não é só o Copan. Há outros à espera de ajuda. Insisto no Copan porque, ladeado pelo Itália, tem sido há décadas o cartão-postal da cidade. É um edifício admirável, que fascina qualquer um que se ponha aos seus pés ou o vislumbre à distância.

Já contei aqui que o projeto do Copan é do início da década de 1950, quando se inaugurava uma importante e moderna instituição paulistana --a Bienal Internacional de Arte, obra do espírito empreendedor de Ciccillo Matarazzo. Projetado por Oscar Niemeyer, com apoio de seu escritório paulista, comandado pelo arquiteto Carlos Lemos, deveria ser um conjunto com dois prédios interligados. Um deles de apartamentos, o outro, um hotel.

Dificuldades financeiras mudaram o rumo dos acontecimentos e retardaram a obra, que trocou de mãos. O projeto original sofreu modificações e o hotel deixou de ser construído. Niemeyer, por isso, relutava em abraçar o resultado final --embora assumisse que eram suas as sublimes linhas curvas do edifício, inaugurado em 1966.

Quem finalizou o prédio foi o Bradesco, que acabou se instalando naquele bichão feio de mármore na frente. Aliás, boa ideia: alô, Bradesco, olha a chance passando! Restaurar o Copan seria um presente para São Paulo e uma homenagem à memória de nosso grande arquiteto.

marcos augusto gonçalves

Marcos Augusto Gonçalves escreve para a Folha de Nova York. É editorialista e colunista do jornal. É autor de 'Pós Tudo - 50 Anos de Cultura na Ilustrada' (Publifolha, 2008) e de '1922 - A semana que Não Terminou' (Cia das Letras, 2012).

 

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