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matias spektor

 

26/03/2012 - 10h46

Malvinas aos trinta anos

A ocupação argentina das ilhas Malvinas completa trinta anos. É um capítulo nefasto da história.

O assalto às ilhas foi um equívoco trágico. Toda a operação baseou-se na estimativa errônea de que o Reino Unido não reagiria. Assim, quando o conflito eclodiu, os generais argentinos não tinham munições, mantimentos, comunicações e planos para a batalha. Os custos foram quase mil vidas e dezenas de milhões de dólares.

Os comandantes argentinos enviaram adolescentes sem treinamento militar para uma guerra convencional contra uma potência da OTAN. Como inúmeros relatos evidenciam, entre os oficiais de alta patente houve inúmeros casos de roubo de comida e agasalhos para os jovens que estavam lutando nas trincheiras.

A condução da diplomacia argentina somente piorou a situação. Às vésperas do conflito, fez estimativas errôneas sobre o comportamento de seus aliados e de seus inimigos. Quando já era impossível impedir o ataque britânico, rejeitou um plano de paz americano que lhe era benéfico: segundo a proposta, ambas as partes retirariam seus homens das ilhas e uma força de paz multinacional as governaria durante um ano, prazo estipulado para que Londres e Buenos Aires chegassem a um acordo negociado.

Isolada em seu desespero, a Junta Militar em Buenos Aires, um governo que matou entre quinze e trinta mil cidadãos em nome da luta anticomunista, terminou fazendo negócio com a União Soviética, da qual tentou obter quatro navios e o apoio de dois submarinos nucleares. Recebeu apoio contundente de Fidel Castro, cujo enviado começou a conversa com o General Fortunato Galtieri na Casa Rosada assim: "Vim lhe dizer que Cuba vai fazer o que vocês determinarem... Enviar-lhe um submarino e afundar um barco... qualquer coisa". Sempre fiel a seu estilo, o ditador argentino retrucou: "Diga a Fidel Castro que eu agradeço e que a Argentina não vai esquecer... nós temos diferenças... [mas] o senhor pegar sua escova de dentes e uma cueca para vir até a Argentina... é um gesto de Cuba que a gente não esquece".

Ao ocupar as ilhas em 1982, o governo argentino jogou no lixo o persistente trabalho diplomático de vinte anos. Antes do conflito, o continente e as ilhas haviam estabelecido laços de proximidade que prometiam facilitar o futuro da relação. A população das Malvinas precisava da Argentina para obter eletricidade, combustível, tratamento hospitalar e a educação de seus jovens. Hoje, a ilha reage com virulência a qualquer gesto de Buenos Aires.

Embora a maioria dos argentinos rejeite os métodos empregados naquela ocasião, quase todos consideram a causa justa e legítima. Nenhum político argentino pode se dar ao luxo de ignorá-la.

Isso é um problema para todos. Afinal de contas, o Atlântico Sul é palco de crescente competição estratégica entre velhas e novas potências, e o governo em Buenos Aires acredita ser este um bom momento para regionalizar uma disputa que sempre foi essencialmente bilateral.

Trinta anos depois da guerra, o drama das Malvinas ainda não acabou.

matias spektor

Matias Spektor ensina relações internacionais na FGV. É autor de 'Kissinger e o Brasil'. Trabalhou para as Nações Unidas antes de completar seu doutorado na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Foi pesquisador visitante no Council on Foreign Relations, em Washington, e em King's College, Londres. Escreve às quartas, a cada duas semanas.

 

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