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moisés naím

 

05/10/2012 - 03h30

O que Mitt Romney pode aprender com Henrique Capriles?

Mitt Romney é o candidato de uma das máquinas políticas mais poderosas do mundo, o Partido Republicano dos EUA. Henrique Capriles é o candidato de uma amálgama rudimentar de grupos políticos venezuelanos. Ambos concorrem com presidentes que são políticos hábeis e gozam de amplo apoio popular.

As semelhanças entre eles acabam aqui.

Romney compete numa democracia madura em que o titular da Presidência enfrenta limites rígidos ao uso que pode fazer dos recursos do Estado em sua campanha.

Capriles, ao invés disso, enfrenta Hugo Chávez, um dos chefes de Estado no poder há mais tempo no mundo, alguém que nunca se esquivou de tratar a riqueza petrolífera do país como sua.

Capriles travou uma campanha sem erros, que no próximo domingo fará Chávez enfrentar o maior desafio que ele já encarou nas urnas. Contrastando com isso, a campanha de Romney foi descrita por Peggy Noonan, uma colunista republicana, como "uma calamidade ambulante".

Logo, a pergunta é: existe algo que Mitt Romney, o experiente político e executivo-chefe de 65 anos, possa aprender com um político de 40 anos, de um país atrasado, dotado de uma democracia profundamente falha? Sim, e não é pouca coisa.

Seja entusiasticamente inclusivo: procure aproximar-se de eleitores que, de acordo com seus assessores, nunca o apoiarão.

Capriles já teve contato com até mesmo os partidários mais firmes de Chávez e constantemente reafirma que será inclusivo, tolerante e não permitirá nenhum acerto de contas contra os seguidores de Chávez.

Romney, ao invés disso, disse que não tinha esperanças de atrair os 47% dos eleitores cujo estilo de vida e situação econômica os aproximam de Obama.

Cuidado com a ideologia. Não se paga o aluguel ou trata um filho doente com ideologia.

"O que aprendi como prefeito e governador é que as pessoas querem soluções concretas para seus problemas concretos", Capriles diz com frequência.

Já o discurso de Romney se alonga sobre princípios ideológicos e escamoteia os detalhes, um padrão que o está deixando vulnerável.

Não discuta sobre picuinhas. Enquanto Chávez regularmente despeja uma enxurrada de insultos horríveis contra seu rival, Capriles sempre tratou o presidente com respeito.

Capriles entendeu que, não obstante a polarização, existe uma sede popular crescente por reconciliação e um grande desejo de que os políticos parem de brigar.

Embora nos EUA a polarização não seja tão pronunciada quanto é na Venezuela, pesquisas indicam que os eleitores americanos sentem que as altercações dos políticos estão frustrando o progresso.

Há benefícios políticos importantes a serem auferidos satisfazendo a vontade dos eleitores de que haja mais harmonia entre políticos.

Sinta a dor dos eleitores. Pior que um político que demonstra empatia forçada é um político que não demonstra empatia alguma. Embora a empatia com os pobres seja natural para Capriles, ele vem sendo obsessivo em fazer dela um aspecto fundamental de sua persona política.

Também Romney vem se esforçando para transmitir que sente o sofrimento das pessoas. Mas com frequência suas gafes deixam claro que sua vida privilegiada faz com que lhe seja difícil colocar-se realmente na posição dos pobres.

A lição final: a despeito da campanha sem erros de Capriles, ele ainda pode perder a eleição do domingo e, apesar da campanha cheia de falhas de Romney, ele pode ganhar a eleição em novembro.

Obama pode revelar-se uma presa eleitoral vulnerável, e, graças a seu carisma, o petróleo e seu jogo sujo, Chávez pode revelar-se invencível nas urnas.

Mas talvez a lição mais importante que Capriles acabe ensinando ao mundo será vencer no domingo.

Sua vitória mostrará que autocratas abusivos podem, sim, ser derrotados por um ótimo candidato que faça uma campanha impecável.

twitter @moisesnaim

Tradução de Clara Allain

Moisés Naím

O escritor venezuelano Moisés Naím, do Carnegie Endowment for International Peace, foi editor-chefe da revista "Foreign Policy". Escreve às sextas na versão impressa de "Mundo".

 

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