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moisés naím

 

12/10/2012 - 03h00

O que aconteceu na Venezuela?

No domingo passado, Golias esmagou Davi.

Hugo Chávez, o gigante político da Venezuela, derrotou Henrique Capriles, o candidato de 40 anos da oposição, por mais de dez pontos percentuais. Se ele completar seu novo mandato de seis anos, Chávez terá passado duas décadas na Presidência.

Mas ainda é possível que esta eleição assinale uma virada na política venezuelana. A oposição está mais bem organizada, e Capriles é o melhor líder que ela tem desde que Chávez chegou ao poder.

Ele conseguiu aumentar o voto anti-Chávez em 60% em comparação com a eleição passada. Milhões de antigos partidários de Chávez o abandonaram. É impossível conquistar os 6,5 milhões de votos que Capriles recebeu no domingo passado sem o apoio de milhões de pessoas pobres que, em eleições passadas, foram eleitoras fiéis de Chávez.

Apesar disso, Capriles não conseguiu destronar o presidente. Isso aconteceu, para começar, porque seu carisma e sua astúcia fazem de Hugo Chávez um rival formidável, que goza de apoio popular enorme. Neste caso, porém, o óleo pesa mais que o talento.

Os líderes em exercício sempre gozam de vantagens em relação a seus rivais pelo poder, e Chávez é um líder em exercício multiplicado muitas vezes. Ele controla todas as alavancas do poder e pode recorrer livremente à enorme receita petrolífera venezuelana.

Henrique Capriles disse: "Não estou competindo com outro candidato, estou competindo com o Estado venezuelano". Em apenas um exemplo, segundo dados compilados por sua campanha, na semana antes do pleito Chávez esteve no ar por nove horas na televisão estatal, enquanto Capriles, depois de protestar, foi autorizado a dirigir-se à nação por dois minutos.

Esse abuso de recursos do Estado e esses limites impostos à oposição são comuns em países semidemocráticos ricos em petróleo e pobres em freios e contrapesos impostos ao presidente. Pense, por exemplo, nas eleições recentes na Rússia, vencidas por Dmitri Medvedev e depois por Vladimir Putin.

O presidente Chávez vai continuar a ter enorme poder discricionário. Nos próximos anos, porém, ele terá que usar seu poder para lidar com algo que uma vitória eleitoral não pode modificar: o país está um caos.

A Venezuela tem índices de inflação e homicídios entre os mais altos do mundo, uma infraestrutura decrépita, produção petrolífera em queda, economia profundamente distorcida, produtividade baixíssima, setor público que não funciona a contento e corrupção deslavada. Se Chávez não mudar suas políticas públicas, é pouco provável que tenha êxito em seus esforços para aliviar esses problemas

Mas o elemento da política venezuelana que talvez seja mais importante e que a eleição tampouco pode modificar é a saúde do presidente.
Ele vem lutando contra o câncer, e a condição e o prognóstico exatos de sua doença são um segredo de Estado. É muito possível que, nos próximos anos, o destino da Venezuela seja determinado pela fragilidade humana, mais que pela ideologia.

Moisés Naím

O escritor venezuelano Moisés Naím, do Carnegie Endowment for International Peace, foi editor-chefe da revista "Foreign Policy". Escreve às sextas na versão impressa de "Mundo".

 

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