Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

mônica bergamo

 

12/08/2012 - 03h00

Clientes da Daslu e do JK Iguatemi comentam o julgamento do mensalão

Na tarde de terça, 7, um grupo de empresárias, socialites e "descoladas" de SP assistia ao desfile de lançamento da nova coleção de verão da Daslu, no shopping Cidade Jardim. Naquele momento, o STF (Supremo Tribunal Federal) realizava a segunda sessão para ouvir os advogados dos réus do mensalão.

*

Em 2005, no auge do escândalo, o maior da era Lula, a dona da butique, Eliana Tranchesi, foi presa por suspeita de sonegação. A investigação que atingiu a empresária, ícone do luxo, foi interpretada por sua clientela como retaliação, uma forma de o governo desviar a atenção. Eliana morreu em fevereiro, sem que seu julgamento, ao contrário do mensalão, chegasse ao fim.

*

A Daslu foi vendida, mas conserva parte da freguesia. Que torce, de forma quase unânime, pela prisão dos principais réus.

*

"Chego em casa à noite e leio quem falou que mentira. Fico nervosa e não consigo dormir", diz Marcela Tranchesi, 21, filha da empresária. "O ideal é que todos sejam condenados. Não digo os 38 [réus], não sei se todos são culpados. Mas muitos."

*

*

"Eu tenho nojo! Fico com a Carminha [da novela 'Avenida Brasil', da Globo], não com o Zé Dirceu!", diz a socialite Anna Maria Corsi, 71.

*

Carolina Pires de Campos incentiva a amiga a continuar: "E o que é o mensalão, Anna?"."Sabe o que é isso? É nordestino querer fazer alguma coisa em São Paulo", responde Anna. "E é erradíssimo. Eles têm de ficar lá, em Garanhuns [cidade de Lula], lá no fuuundo do Pernambuco, lá no fuuundo do Ceará. Aqui, não, aqui é de paulista e de paulistano. É por isso que isso está acontecendo".

*

A coluna lembra que há vários paulistas no mensalão. "Ah, claro...", diz ela, para arrematar: "Eu não gosto do [José] Serra. Aqui, nós precisamos é de pessoas como o Fernando Henrique!".

*

Carolina Pires interrompe Anna. "Deixa eu falar uma coisa. Meus filhos eram petistas, assim, fanáticos. Eu tenho um filho juiz, outro advogado, que não é mais petista. Aliás, a pessoa que eu mais adoro é a [Luiza] Erundina [PSB-SP]. Eu já gostava [antes de ela desistir de ser candidata a vice-prefeita de Fernando Haddad por causa da aliança do PT com Paulo Maluf]. Agora, mais ainda. Sou apaixonada por ela."

*

Mas, apesar da torcida contra os "mensaleiros" e da intensa cobertura que a imprensa tem dado ao julgamento, a maioria não perde muito tempo com o assunto.

*

Marcela Tranchesi, por exemplo, comentava com as amigas que começou a correr pelas manhãs no parque do Povo, no Itaim. "Quero ter corpo para usar um vestido de tricô que vi no desfile."

*

A estilista Mirelle Moreno, 24, que desenha roupas masculinas para a Daslu, comentava como é difícil fazer uma coleção com equipe enxuta. "É capaz que peguem esses 40 e poucos ladrões, mas o Ali Baba, que é o Lula, não vai cair", disse à coluna, voltando logo aos comentários sobre sua coleção.

*

A radialista Stephanie Choate, 26, repórter do programa de Otávio Mesquita, telefonava para a mãe, que também estava na loja, mas em outro ambiente. "Vou entrar no provador de jeans, não está essa bagunça, tá vazio."

*

Provocada pela coluna, diz que está atenta. "Estou totalmente disposta a ir para a rua, lutar por isso [a condenação]. É um arrependimento não ter nascido a tempo de ser uma cara-pintada [jovens que protestavam contra o governo Fernando Collor]." Duas estudantes de moda concordam: "Mas para pintar a cara, passaríamos antes na Sephora [loja de cosméticos francesa], né, amiga?".

*

A produtora Gabriela Bucciarelli, 21, iria junto. "Não sou de algazarra, mas se ninguém for condenado, é o caso de ir até Brasília."

*

A stylist polonesa Ela Pruszynska, 45, é casada com um brasileiro e mora em SP há dois anos. Diz que não tem a menor ideia do que é o mensalão. "É uma coisa grave?"

*

"Não vejo cobrança no meu meio. As pessoas não se importam muito com o assunto", diz Irene Martins, superintendente comercial, tomando champanhe numa pequena garrafa enquanto aguardava o desfile. "São todos [os políticos] farinha do mesmo saco." "A gente torce [pela condenação], mas vai dar pizza", dizia a arquiteta Gilda Arantes, com uma água perfumada para roupas de R$ 59 na sacola.

*

Guiando um carrinho de supermercado cheio de peças, a designer de joias Renata Camargo, 54, dizia que emagreceu e que por isso merece "um guarda-roupa novo". Ela era uma das poucas que, naquela tarde, destoava da torcida. "A Dilma não sabia de nada [do mensalão]. E o Lula sabia pouco. Para mim, ele foi uma revelação. Antes dele, eu era contra o PT. Agora eu sou PT. É uma novela velha, mas temos que acompanhar."

*

O marido de uma tradicional cliente da Daslu, empresário que tem concessão do governo e se aproximou do PT na era Lula, relatou à coluna que quase "apanhou" no casamento de um amigo, na igreja Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins. "Quase quebrei o pescoço, de tanta tensão", disse, pedindo que seu nome não fosse revelado.

*

Na festa, ele foi cobrado por ser amigo de alguns dos réus, que eram chamados de "ladrões, bandidos". "Eu tentava argumentar, mas não deixavam. Principalmente as mulheres." Elevou a voz e, segundo relata, afirmou: "Vocês querem fazer um bullying na era Lula".

*

Diz que não negou a existência do mensalão, mas argumentou que não ocorreu apenas no governo do PT. "Eu disse: 'Gente, nós estamos numa sala de aula. A classe toda tá colando. E agora estamos querendo pegar um aluno, aquele barbudo, com a voz rouca, que não tem um dedo, e expulsá-lo da sala. Isso é bullying puro, bullying da elite branca, que aliás também 'cola' na prova."

*

Alguém lembra que uma consultoria [Tax Justice Network] calcula que em 40 anos os brasileiros depositaram cerca de 1 trilhão de reais em paraísos fiscais.

*

Nada funciona. Ele diz que apelou então para o pragmatismo. "Eu disse: 'Gente, temos que pensar: nós ganhamos muito dinheiro na era Lula. E ele pode voltar. O que vai achar de tudo isso?'." Os homens, ao menos, cederam.

*

No dia seguinte, do outro lado da marginal Pinheiros, em outro shopping, o JK Iguatemi, a Lool lançava a sua coleção de acessórios de verão. Amigas e clientes de Luiza Setubal, filha de Olavo Setubal Jr., se dirigiam para a loja. Alessandra Gabor, 29, redatora do blog da Lool, disse à coluna que estava achando o julgamento "banal, mas dentro do esperado". "O [apresentador] Marcelo Tas colocou hoje no 'Face': no Brasil a realidade supera a ficção."

*

Carmem Luzia, 55, passeava no shopping com sacolas da Le Lis Blanc e da Calvin Klein. "O mensalão podia acontecer com qualquer partido", opinou a dona de casa. E se disse confiante. "Ministra Cármen Lúcia [do STF]? Não conheço. Mas eu gosto daquele [ministro] Gilmar. Mendes, né? Ele tem pulso firme, não vai deixar o povo sair de fininho."

Por ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e CHICO FELITTI

mônica bergamo

Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página