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mônica bergamo
Padre que cuida do Cristo Redentor se prepara para receber o papa em 2013
A lista de contatos célebres no celular do padre Omar Raposo, no Rio, é extensa. E a todos que ligam, de autoridades a atores globais querendo marcar batizado de filho, ele pergunta: "E aí, beleza?".
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Outro dia, Taís Araújo telefonou para combinar o batizado de seu filho com Lázaro Ramos. Com Elba Ramalho, ele fala direto. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, foi o primeiro a ligar quando Omar fez missa "pela paz" em 2010, ano em que o Exército invadiu o Complexo do Alemão.
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Omar diz que está com "a idade boa, 33 anos, idade de Cristo". Mas peso ruim: desde que virou padre, há oito anos, engordou um bocado. Agora, seu médico recomenda que perca 10 kg. A vida paroquial, apesar de ser "show de bola", não dá descanso.
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É dele a tarefa de zelar pelo "chefão": a estátua do Cristo Redentor, encravada há 81 anos no morro do Corcovado. Padre Omar é o responsável pela capela Nossa Senhora Aparecida, construída sob os pés do Cristo. Foi ali que ele rezou "um Pai Nosso com Lula e [Carlos Arthur] Nuzman [presidente do COB] para abençoar a candidatura do Rio à Olimpíada", em 2009.
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Para começo de conversa, o padre diz que o monumento é "carioquíssimo". "Isso é o maior caô", afirma, sobre a autoria da estátua ter sido creditada por muito tempo ao francês Paul Landowski, que desenhou as mãos e o rosto da imagem. No ano passado a prefeitura decidiu, por decreto, que a obra é do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa, responsável pela construção.
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Também acena negativamente quando seu motorista para no semáforo, a caminho de mais um dia de labuta no Corcovado, num domingo de sol. Vê a aglomeração de policiais na orla de Copacabana. A estampa na camiseta dos PMs traz o Cristo de braços abertos. "Deviam pedir autorização...", murmura do banco da frente, olhando a repórter Anna Virginia Balloussier pelo retrovisor, adornado por um terço.
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Veste terno e camisa cinza com colarinho aberto. O carro está com a sirene ligada, abrindo caminho no morro. Lá em cima, o capelão é parado a todo momento por turistas. "Aqui tem tanto chinês que, se você joga moeda no bueiro, sai pastel..."
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Em 2011, para promover a igreja, o arcebispo do Rio, Orani Tempesta, sugeriu a Omar que gravasse um disco. E assim ele entrou no rol de padres-cantores, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo. E lançou em julho o álbum "Peço a Deus", de samba. Omar canta com Diogo Nogueira a faixa-título. Ele agora tem assessoria de imprensa, grande gravadora (EMI) e Facebook. Sua página foi "curtida" 35 mil vezes. "Fui apadrinhado pelos sambistas do Rio", afirma. "Mas não bebo cerveja [que nem eles]. Não tem essa, não. A parada é água benta." Omar continua: "São preconceitos que rolam em torno do samba: que todo mundo é malandro, bebe. Mas a Igreja [Católica] criou um canal de diálogo. Zeca Pagodinho estava comigo esses dias, ficou feliz da vida. Pode até dizer isso na reportagem".
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Ele agora está fazendo um giro por programas de TV --marcou há dias entrevistas com Ana Maria Braga e Renato Aragão. E assessora a Globo em algumas atrações. "O Projac tem uma igreja 'fake'. E tinha muita falha em minisséries, padre entrando com roupa errada... Hoje, figurino de freira e bispo é top."
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Sua maior missão agora é coordenar a Jornada Mundial da Juventude, megaevento católico que terá participação do papa Bento 16 e de cerca de dois milhões de fiéis de todo o mundo em 2013.
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Omar viu um papa pela primeira vez em 1997, quando João Paulo 2º visitou o Brasil. Sentiu um "toque no coração ao olhar o santo no papamóvel".
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"Foi a primeira vez que tive vontade de ser padre", diz. "João Paulo era um papa para ser visto. Bento 16 é para ser lido, mais intelectual."
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Em julho, um evento no Maracanãzinho marcou a contagem regressiva para a Jornada. A deputada estadual Myrian Rios (PSD-RJ) fez o "esquenta" com o público. "Você acredita na importância da evangelização?", perguntava. Em seguida, informava o número de uma conta do Bradesco para doações.
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Omar cantava. E suava. A mãe, dona Marlene, esperava com roupas limpas no camarim. Mas ele preferiu ficar com a camisa cinza que já vestia. "A blusa branca [que ela guardava] deixa ele mais gordinho", palpitava a mãe.
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"Rodízio de massas, cortei pra sempre", diz Omar. "Não é vaidade, é controle de qualidade", diz, rindo. "Padre não pode entrar com batina suja, descabelado, né?"
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Num prédio paroquial em Ipanema, onde mora com seis padres e um bispo, Omar abre o envelope que chegou pelo correio com a fatura de seu cartão de crédito. Diz que só gasta dinheiro em sua folga semanal, no teatro ou em jogos do Fluminense.
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Ele entrou no seminário com 18 anos e saiu de lá em 2004. "[A clausura de] 'Big Brother' é mole perto disso."
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Lembra de um cartaz que ligava igreja à pedofilia. "Isso é loucura. Nossa figura tá pesada. Padre perdoa todo mundo. Quando erra..."
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Antes da batina, teve três relacionamentos. E diz que hoje se sente confortável sem namorar. "Quem é homossexual quer ser respeitado, quem não tem religião... Por que ninguém respeita o celibato? Não dá para entender. Pensa bem: todo mundo quer afirmar suas paradas. Você não vê marcha dos padres contra o celibato. Jesus era celibatário. É só ver isso."
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.
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