Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

mônica bergamo

 

06/01/2013 - 03h00

Absolvido no mensalão, Duda Mendonça festeja Réveillon em mansão na praia

DE SÃO PAULO

No jardim de sua propriedade de cerca de um milhão de metros quadrados em Taipus de Fora, na península de Maraú, no sul da Bahia, o publicitário Duda Mendonça comemorou a passagem do ano ao lado de seis de seus sete filhos, das três mulheres (as duas ex com seus maridos e a atual) e mais de 300 convidados. Entre eles, os advogados Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, e Luciano Feldens, que o defenderam no julgamento do mensalão, em que foi absolvido.

*

O baiano recebe o repórter Morris Kachani inicialmente no gazebo que fica no lado esquerdo da casa, na linha de 300 metros que dá de frente para as piscinas naturais que fazem a fama da região. A conversa só é interrompida pelo ir e vir de um dos dois helicópteros de Duda no heliponto.

*

O encontro começa com um café, evolui para um chope (Duda lembra que havia encomendado seis barris, mas já haviam acabado; vieram mais 12) e termina com champanhe Moët & Chandon, que ele abre à moda dos generais franceses -com um facão que faz voar o bico da garrafa, junto com a rolha.

Em um tour pela propriedade, Duda mostra os pirarucus importados da Amazônia que cria em um lago artificial, o horto com árvores nativas como o dendê, e a cachaça exclusiva envelhecida em carvalho, produzida e presenteada por Emílio Odebrecht. Conta que também tem cinco cavalos e duas vacas: "Para as crianças tirarem leite. Quem mora em São Paulo não faz ideia de o que é isso".

*

Algumas horas mais tarde aconteceria a festa de Réveillon, que teve como ponto alto o banho de champanhe dado pelos filhos em Duda, em Kakay e em Luciano, ao som da canção das vitórias de Ayrton Senna na Rede Globo. A banda do novo gênero musical arrocha universitário Kart Love animou a noite.

*

Os funcionários da casa, segundo Duda, participaram da festa como convidados. Ele conta que presenteia os que têm mais de dez anos de trabalho para a família com uma casa. "Já paguei umas dez", afirma.

*

Duda faz questão de exibir a tatuagem da letra "Ç" estilizado, no tórax. "É nossa marca registrada e está tatuada em todos meus filhos homens", diz. A cauda de seu helicóptero e canecos de chope também levam a espécie de monograma da família.

*

Quando a conversa envereda pelas campanhas políticas, o publicitário que criou o slogan do "Lula paz e amor" em 2002 levanta o que parece ser sua bandeira atual --a de que os custos precisam ser barateados, coibindo o caixa dois ou qualquer tipo de doação ilícita. "Fazer TV é muito caro. É preciso acabar com esse horrível formato do horário eleitoral. Deveria haver um debate semanal no horário nobre. A interferência do marketing diminuiria."

*

"O marqueteiro aumenta o potencial do candidato, mas não faz nenhum milagre. Você pode passar detalhes técnicos a ele, mas não ensina o cara a debater. Isso depende do repertório de cada pessoa. E o marqueteiro só conhece as coisas de forma superficial -a gente vende leite, cerveja, sabão em pó."

*

Em 2014, Duda acha que se Dilma Rousseff for candidata, será reeleita, em condições normais. "O governador Eduardo Campos [PSB-PE] é um candidato forte, mas Dilma demonstrou personalidade. E o povo, que é quem elege, quer é comida na mesa. Não tá nem aí para uma revista como a 'The Economist' [que criticou a política econômica brasileira]. Isso é conversa para intelectual."

*

Aos 68 anos se define politicamente como "mais de esquerda". "Hoje o eleitor é pragmático. Só quer saber qual voto pode melhorar sua vida. Não quer saber quem é mais ou menos correto, se é de direita ou esquerda."

*

Esse pensamento, segundo ele, faz com que hoje "você não encontre diferença entre os partidos. As alianças são feitas por interesses políticos". E quanto ao PT? "Quando chegou ao governo foi obrigado a cair na real. Aí, o discurso muda. Mas ninguém pode deixar de dizer que depois de Lula o Brasil melhorou", diz.

*

A certa altura o advogado Kakay, de óculos escuros e sunga vermelha, interrompe a conversa para lembrar que seu cliente está orientado a não falar sobre o julgamento do mensalão.

*

Duda e sua sócia Zilmar Fernandes foram acusados de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Parte dos
R$ 11 milhões que os dois receberam pela campanha de Lula em 2002 foi paga em um paraíso fiscal.

*

Kakay assume as rédeas da conversa quando o tema é mensalão. E critica a transmissão do julgamento feita pela TV Justiça, ao vivo. "Nenhuma TV no mundo transmite um julgamento penal feito pela corte suprema. Essa superexposição precisa ser revista", diz.

*

Sobre a teoria do domínio do fato, citada no julgamento, o advogado brinca: "Com a ampliação de seu alcance, de fato faltou o domínio da teoria".

*

Para ele, o caso mostrou uma sobreposição de prioridades. "Na medida em que o STF ficou paralisado por cinco meses, por conta de um processo penal, outros julgamentos importantes acabaram sendo adiados, inclusive com réus presos."

*

Kakay dá o último gole em seu chope. Avisa que precisa ir ao encontro da mulher e de seu filho de sete anos que estão na praia. "A pior coisa do mensalão foi a Globo não ter ganho [o direito de transmitir] as Olimpíadas. Isso deu mais espaço para o julgamento", conclui, antes de sair.

*

Duda busca a garrafa de champanhe. Aliviado com a absolvição do STF, afirma que em 2013 "quer curtir o momento" e levar adiante a agência Blackninja em parceria com o sócio, o sociólogo Antônio Lavareda.

*

"Tudo indica", diz, que voltará a fazer campanha política em 2014. Afirma que "pode até ser" junto com João Santana (marqueteiro das campanhas de Dilma e Fernando Haddad), com quem já trabalhou em parceria. "Somos complementares."

*

Quem quiser tê-lo no comando de uma campanha terá que desembolsar muito dinheiro. "Sou um cara caro. Mas ninguém pode se enganar: quando aparece que o custo de uma campanha foi de 20 ou 30 milhões, é preciso lembrar que só 10% ou 15% vão para o marqueteiro."

*

Com as contas bloqueadas há seis anos no Brasil, Duda abriu fronteiras e hoje atende a maior rede varejista portuguesa, o Pingo Doce. Recentemente, inaugurou uma agência na Polônia, por conta da expansão das atividades do grupo português. "Criar campanha em polonês é loucura. Na música, a métrica é completamente diferente, imagine rimar três cês com acento", ri.

*

"No final você percebe que o mundo é igual e o ser humano quer as mesmas coisas em todos os cantos."

mônica bergamo

Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária com informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página