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nina horta

 

22/08/2012 - 03h48

Uniformes e insígnias

Deus, há tanta coisa que nunca se viu nesse mundo! Digo, nunca se estudou. Quero falar de uniformes e vou direto à Amazon. Não tem o que eu quero, quase só livros de uniformes militares.

Compro, então, pelo Kindle um livro caríssimo sobre bufês em geral (vocês já repararam que alguns deles são caros?) e é péssimo, não fala de uniformes.

Claro que num dia só não se consegue chegar ao âmago de um assunto, mas já fiquei com vontade de colecionar mais bótons, não sei como se chamam, insígnias?

Para verem o perigo que sou com compra impulsiva, tenho 500 brochinhos desses de guerra, asas de aviadores, tanques, barcos de guerra. Vi no eBay, imagine, de presente, 500 insígnias das duas últimas guerras. Bom, chegaram, eram quase só russas e foram de uma serventia que vocês nem imaginam.

Sobre uniformes, eu deveria ser a última a falar. Os de escola usava direitinho, que remédio, mas era daquelas meninas em que o elástico da meia três-quartos cedia e caía sobre o sapato. As freiras não perdoavam.

Meu uniforme tinha chapéu de aba, de feltro, e um sapato que parecia ortopédico. Quando me levantava cedo e via que naquele frio paulista ainda me restavam minutos para esperar o ônibus escolar, me enfiava de novo na cama, de uniforme, sapatão e chapéu de feltro e ainda cobria a cabeça com o cobertor.

E quando fui presidente das Bandeirantes do Brasil (setor das meninas pequenas), alguém tinha que me segurar se as chefes de qualquer canto me escrevessem pedindo para trocar o uniforme por um de bolinhas roxas. Claro, responderia eu, vai ficar demais de interessante...

E quando vejo mulheres bonitas, cozinheiras, com redinha branca na cabeça, quero morrer. Enfeia demais. Prefiro um turbante colorido.

Sei ou desconfio de várias coisas em relação aos uniformes. Fizemos uma grande festa à fantasia, e o tema era fetiche. Tinha normalista, enfermeira, tinha de tudo. Mas sucesso mesmo foi um grupo de bombeiros sarados, bombeiros do lugar, bombeiros de verdade. O horror, desbancaram xeques e odaliscas.

Quem nos ensinou, pela primeira vez, o valor de um uniforme foi o Laurent Suaudeau. Passou anos e anos batalhando para que o uniforme dos garçons, das copeiras, dos maîtres, fosse perfeito. Homem teimoso, aquele, mas foi graças a ele que começamos a ter orgulho do uniforme de cozinheiro.

Uma das auxiliares de cozinha que conheço, minha amiga, inteligente, engraçada, me decepcionou totalmente no outro dia. Contou que a filha que está mocinha tem o maior jeito para cozinheira, adora enfiar a mão na massa e quer fazer faculdade de gastronomia. Só que nem morta, só se passar pelo cadáver dela, a filha vai ter que ir para uma profissão com uniforme.

Por enquanto, está treinando como recepcionista de médico.

Tentei convencê-la, mostrar que o uniforme representa um grupo, até os jogadores de futebol milionários se orgulham deles. Como seria na guerra se os dois lados se vestissem iguais?

Pois é, estou fazendo uma pesquisa para uniformes de garçons e copeiras e, quando tiver estudado mais, volto e falo coisa com coisa.

nina horta

Nina Horta é escritora, blogueira e colunista de gastronomia da Folha há 25 anos. É formada em Educação pela USP e dona do Buffet Ginger há 26 anos. Escreve às quartas-feira.

 

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