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luiz rivoiro

 

17/05/2010 - 00h03

Figurinhas

Foi tudo muito rápido. Pelo menos para mim. E olha que não pode-se dizer que eu seja um cara assim desinformado. Mas no caso das figurinhas da Copa, quando percebi, a praga já havia se alastrado. Dos marmanjos sentados aqui ao meu lado na redação à sala de casa, onde o João --e o Pedro, no vácuo-- de uma hora para outra espalhavam os cromos pela mesa se dedicando a colar com cuidado ídolos obscuros de seleções igualmente alienígenas --para eles, claro-- como Eslovênia, Eslováquia, Sérvia ou Coréia do Norte e do Sul e tantas outras.

Não que os meninos não sejam completamente ignorantes no assunto, claro que não. Ambos são orgulhos torcedores do valoroso Botafogo Futebol Clube de Ribeirão Preto, time e paixão do pai (eu mesmo) e do avô. Mas daí conseguir soletrar os impronunciáveis nomes dos jogadores da Grécia vai uma distância enorme, quase a mesma que separa São Paulo de Johannesburgo, na África do Sul. Mas o que mais me surpreendeu foi a velocidade com a qual a mania "pegou", já que nos últimos tempos temos iniciado e pouco completado diversos álbuns de figurinhas, quase todos sobre personagens de desenhos animados.

Intrigado, perguntei ao João o que o levara a iniciar a coleção. A resposta foi simples: "Ué, todo mundo na escola tá colecionando. Achei legal". É isso aí. Uma mania coletiva incentivada talvez por pais, tios, primos, irmãos mais velhos apaixonados pelo futebol que a transmitem feito um vírus que se torna cada vez mais contagioso à medida que o início do Mundial se aproxima. Ou nada disso. Apenas mais uma mania como a do Pokemón, Hot Wheels, Gormits e agora Bakugan. Simples assim. Colecionam porque gostam de colecionar, de trocar as figurinhas, de falar sobre o assunto. E ponto.

Eu mesmo nunca fui de colecionar nada muito a sério. Comecei e parei diversos álbuns e coleções de fascículos, livros e DVDs. Lembro do único álbum que completei, o do King Kong, filme de 1976. E o fiz movido pela paixão avassaladora que me dominou ao assistir pela primeira vez a cena que Jessica Lange é levada a banhar-se numa cachoeira pela gigantesca mão do gorila. Uau! Um motivo que até hoje considero nobre e do qual me recordo com deliciosa nostalgia. No caso da Copa de 2010, no entanto, não dá pra dizer que o motivo seja nem de longe similar. Acho que seja apenas uma mania coletiva, que curiosamente, talvez dada a importância do futebol na nossa cultura, una em torno de um mesmo objetivo --no caso completar o álbum-- adultos e crianças.

Mas ainda que respeite o direito dos meninos colecionarem, deparei-me com a necessidade de controlar, para o bem das finanças familiares, os gastos dos garotos em torno dessa paixão fugaz. Assim, combinei com o João que, se ele quisesse, poderia usar a sua mesada para comprar as figurinhas, mas que estivesse ciente que não receberia nenhum "plus a mais" para este fim. Ele concordou na boa, ainda que venha aqui e acolá convencendo avós, tios e tias a contribuírem para que seu álbum seja devidamente preenchido. Nada contra. Aí vale o poder de persuasão do menino que não é pequeno. Na surdina, venho contando com o apoio dos colegas de trabalho que gentilmente me cedem uma ou outra estampa para completar este ou aquele time. Ressalto entretanto que isso só acontece depois de muita insistência e escambo de produtos menos perecíveis que tenho em meu poder, como livros e DVDs. Afinal de contas, figurinha é coisa séria. Muito séria, aprendi.

Em tempo: Pra quem leu a coluna passada, informo que tudo correu muitíssimo bem durante a nossa ausência. Com o magnífico apoio e boa vontade das Tias e da Vovó Didi e do Vovô Antônio, os meninos viveram dias divertidos, aproveitando cada minuto da rotina diferente. Claro que sentiram saudade, assim como eu e a Mãe sentimos, mas foi legal ver no nosso retorno como eles amadureceram, sobretudo o Pedro que, estimulado pela Vovó, se empenhou em desenhar e a brincar com letras e palavras. No caso do João, a sua fábrica de histórias em quadrinhos nunca produziu tanto em tão pouco tempo: nove HQs novas em 15 dias. Um verdadeiro recorde.

Luiz Rivoiro

Luiz Rivoiro, 42 anos, é pai de João, 8, e de Pedro, 4. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha.com.

 

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