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luiz rivoiro

 

05/09/2010 - 00h01

O conquistador

Pedro é um galanteador. Aos quatro anos costuma dizer, sem modéstia, que tem três namoradas. Isso mesmo, três! Claro que há uma que mexe mais com o seu coraçãozinho, mas nem assim ele garante exclusividade. Volúvel? Nem tanto, uma vez que ele é fiel às três desde muito cedo. Garoto decidido, este meu filho.

O engraçado é nesse ponto (bem, pra falar a verdade, também em vários outros) ele é completamente diferente do irmão mais velho. Lembro que quando tinha a mesma idade do Pedro hoje, João era bem mais tímido. Não que não tivesse uma paquerinha, ou, pra ser mais fiel à realidade, uma quase namoradinha, a C., que desde o berçário esteve ao seu lado na sala de aula e nas festinhas infantis. Mais decidida, C. nunca escondeu que João era o seu preferido. Nas quermesses, era com ele que ela queria tirar foto. E basta uma olhada nos álbuns de fotos para ver que essa relação se prolongou por um bom tempo, até que o João mudasse de escola e a inexorável distância os separasse. Ficaram boas lembranças, sem dúvida. Mas quem sabe seus caminhos não voltam a se cruzar? Sinceramente, torço para que aconteça.

Com o Pedro, no entanto, a coisa flui de maneira mais fácil. Diferentemente do João, sempre tímido e encolhido nas fotos ao lado de C.. Pedro aparece orgulhoso e seguro de si ao lados das meninas. Não importa se T., F. ou D.. Ele adora abraçá-las, pegar na mãozinha e sorrir para a fotografia. Carinhoso, ele inclusive costuma convidá-las para as brincadeiras, rompendo a tradicional barreira entre meninos e meninas que começa a se erguer nessa idade.

Mas ainda que T. e F. sejam umas gatinhas, o fato é que o coração de Pedro balança mesmo por D., que ele conhece desde os primeiros dias na escolhinha. Recentemente, na festa junina, ele teve a oportunidade de revelar todos os seus sentimentos. E em público! Pra mim, foi uma surpresa e tanto, visto que, assim como o João, sofro de uma timidez crônica perante o sexo oposto. Tudo aconteceu na quadra, um pouco antes do início da quadrilha. Com as crianças reunidas em círculo aguardando a chegada de um amiguinho que estava atrasado, a professor pegou um microfone e se postou entre Pedro e D. Na brincadeira, perguntou com quem o Pedro iria dançar. Ele, logo, apontou para D. ao seu lado. Na sequência, ela perguntou se ele gostava dela e o menino, de bate e pronto, emendou que sim, que ela era a sua namorada! Uau! Todo mundo ficou de queixo caído com a coragem do garoto. Menos D., que ainda que tenha ficado um pouquinho mais vermelhinha, confirmou com um sorriso maroto que o sentimento era recíproco. Logo depois, a quadrilha começou e lá se foram os dois pelo caminho da roça.

Esta semana, ele veio com outra. Na hora de levá-lo à escola, lá veio menino com uniforme completo e gravata! Falei: "Pedro, mas o que é isso? Tá um calor monstruoso, deixa a gravata aí...." A resposta veio rápido: "De jeito nenhum. A D. disse que só brinca comigo se eu estiver de gravata. Então vou com ela!" O João, claro, não perdoou. Tirou sarro, zoou, fez piadinha. De nada adiantou. Pegando a malinha e a lancheira, ele se postou diante da porta. "Vamos?" Uniforme completo, cabelo penteado de lado e gravata. E foi.

Luiz Rivoiro

Luiz Rivoiro, 42 anos, é pai de João, 8, e de Pedro, 4. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha.com.

 

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