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luiz rivoiro

 

06/02/2011 - 07h08

Rotina

Esta semana os meninos voltaram às aulas. O Pedro na terça, o João, inexplicavelmente, na quinta. Mas tudo bem. O fato é que é hora de retomar a rotina já que, depois de quase dois meses de papo pro ar, acabou a mamata. Rotina. Isso. Nunca imaginei que daria importância à ela. Mas depois de um mês especialmente confuso, to adorando retomá-la. Explico.

Depois de muita insistência a Mãe conseguiu me convencer que deveríamos aproveitar o período de férias para reformar o apartamento onde moramos. Não que a obra fosse muito complicada, mas como implicaria pintura total e troca do piso, não poderíamos nos dar o luxo de dividir o ambiente com pintores, marceneiros, colocadores de piso e toda sorte de mão de obra especializada num caso desses. A solução, me dizia ela, era uma só: assim que eles entrassem, nós sairíamos. "É apenas um mês... Passa rápido", argumentava, emendando que os meninos viajariam uns dias com a gente e depois passariam um tempo nas casas das avós em Ribeirão Preto e em Campinas. Não tava muito alegre não, mas, como todos nós, homens/maridos sabemos, numa hora dessas não há como mudar a opinião de uma mulher decidida. Então lá fomos nós!

A primeira parada foi fácil. Férias na Bahia, incluindo o réveillon, sossego, sol, tapioca, praia, piscina e tudo aquilo o que esperávamos. Cenário de cartão postal, serviço acolhedor. Rotina, olha ela aí, estabelecida e eficiente. Adorei, e creio que a turma também gostou. Dez dias depois, já de volta a São Paulo, chegava o momento de encarar a fase dois. E lá fomos nós pra Ribeirão!

O curioso é que tínhamos pensado que seria o cenário perfeito, já que estamos falando de uma das cidades mais quentes do Estado, mas no fim não foi nada disso. Choveu praticamente o tempo todo, o suficiente para confinar os garotos em casa. E, como todo mundo sabe, criança em casa, depois de um certo tempo, começa a se estranhar. Dito e feito. Enquanto a Mãe e eu voltamos para São Paulo para retomar o trabalho, os meninos ficaram aos cuidados da avó e da nossa fiel assistente, R. Tenho certeza que todo mundo envolvido nessa operação "deu tudo de si" para que as coisas saíssem nos conformes. O problema, acredito, foi a chuva, que impedia os meninos de aproveitarem a piscina e todas as opções de lazer ao ar livre que a cidade oferece. Sem poder sair, eles acabaram dando mais trabalho que o habitual, o suficiente para deixar a vovó nervosa e estressada. Afinal, por mais que ela curta os netos, é difícil mesmo lidar com a "indocilidade nascida do confinamento", ou, traduzindo, gritos, brigas, correrias e afins dentro do apartamento. E não teve arroz doce que desse jeito nessa molecada. A solução foi antecipar a transferência dos garotos de Ribeirão para Campinas e colocar um, ou melhor, uma dúzia de ovos no telhado para Santa Clara estancar a chuva. E assim fizemos no final de semana seguinte. Se a coisa entornasse, pelo menos estaríamos mais perto.

Enquanto o João e o Pedro estavam no interior, eu e a Mãe abusamos da cordial hospitalidade da tia Cacá e do tio Vivi na capital. Com um saco de filó, eles gentilmente nos abrigaram nos chamados dias úteis. Mas aqui como lá, a chuva castigava a cidade, esgarçando o fiapo de rotina que tentávamos manter longe dos garotos. E, claro, ainda tinha a saudade. Dos meninos, de casa, da minha cama! Anteriormente, eu até achava que ia ser muito legal passar uns dias fora, podendo sair todos os dias, sem horário pra nada e tal. Engano. É legal, pero no mucho. Uma hora cansa e, de novo, o que você quer mesmo é chegar na sua casa na hora de sempre, encontrar seus filhos, jantar com eles, ver um pouco de TV, ler e, bem, fazer umas coisinhas antes de dormir.

A temporada de Campinas foi mais tranqüila. Santa Clara resolveu cutucar São Pedro a chuva deu uma trégua. Nas duas semanas que eles ficaram por lá puderam jogar bola, freqüentar a piscina, ir ao bosque e, inacreditável, ter aulas de piano com As Tias! Donas de infinita paciência, elas conseguiram fazer com que os garotos se interessassem por acordes, melodias e música. O efeito foi devastador. Uma semana depois, o João já tocava umas musiquinhas ao piano. No final da segunda semana, ele e o Pedro apresentaram um verdadeiro concerto, com cinco músicas! Isso que é método. Na quarta-feira, a vovó e o vovô voltaram depois de dois meses de viagem à Austrália. Mais gente, mais movimento, mais carinho.

Bem, depois de três semanas, eis que voltamos pra casa. Não tava 100% pronta (a pintura da sala ainda estava em andamento). Mas não teve problema algum. Estávamos de volta, e era isso que importava. Aos poucos, a rotina foi sendo retomada, hora para acordar e para brincar, refeições na mesa da cozinha, banho, jantar, filminhos, historinhas, soninho. Na terça, o Pedro praticamente acordou de uniforme, animado para ir à escola. Dois dias depois, foi a vez do João, que também se mostrou ansioso para rever os amigos. Neste dia, com os meninos de volta à escola e a sala devidamente liberada, tivemos uma noite juntos como há muito não acontecia. A rotina, antes tão maltratada, estava restabelecida. E todos ficamos muito contentes com isso.

*

Em tempo: agradeço do fundo do coração a todos que nos acolheram nesse período sem-teto. Muito obrigado mesmo. A próxima reforma, espero, só daqui a dez anos!

Luiz Rivoiro

Luiz Rivoiro, 42 anos, é pai de João, 8, e de Pedro, 4. Jornalista, trabalhou na "Folha de S.Paulo" por 14 anos. É editor da revista "Playboy" e autor do livro "Pai É Pai - Diário de um Aprendiz". Escreve quinzenalmente para a Folha.com.

 

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