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patrícia campos mello

 

21/09/2012 - 03h00

Romney pode tirar o segundo mandato de Obama?

O caminho de Mitt Romney até a Casa Branca está cada vez mais íngreme.

Os últimos dias foram definitivamente infelizes para o candidato republicano, que enfrenta o presidente democrata Barack Obama nas urnas no dia 6 de novembro.

Primeiro, foi a sucessão de trapalhadas na convenção do partido em Tampa. Em seu discurso, Romney não agradeceu às tropas americanas no Afeganistão, lapso imperdoável para um presidenciável nos Estados Unidos. E Clint Eastwood roubou a cena com seu constrangedor duo com a cadeira vazia. Resultado: o tradicional impulso pós-convenção nas pesquisas não aconteceu.

Depois, Romney tentou demonstrar suas credenciais de estadista durante a série de ataques antiamericanos desencadeados pelo filme de sátira a Maomé. Mas suas declarações agressivas contra Obama foram precipitadas e fora do tom, e acabaram saindo pela culatra.

Na sequência, o político publicou uma matéria sobre os conflitos internos na campanha de Romney, com vários questionamentos sobre o estrategista-chefe, Stuart Stevens. De novo, mais críticas.

Para coroar o período de más notícias, vazou o vídeo em que Romney falava com certa candura excessiva a doadores de campanha: "47% das pessoas são dependentes do governo, acreditam que são vítimas, e acham que o governo tem a responsabilidade de cuidar delas.eu nunca vou convencer essas pessoas de que elas deveriam assumir responsabilidade por suas vidas."

Tudo isso tirou a campanha do republicano do prumo e o impediu de falar sobre o que é o seu forte: a economia. E bem no momento em que um dos principais assessores de Romney, Ed Gillespie, havia sinalizado que o candidato iria começar a abordar com mais profundidade seus planos de governo - o que era a grande reivindicação dos segmentos conservadores.

As últimas pesquisas mostram Obama com uma vantagem persistente --ainda que muito pequena. Muita água vai rolar. Ainda há três debates presidenciais pela frente, que podem mudar bastante coisa.

Mas, na média de pesquisas elaborada pelo Real Clear Politics, Obama tem 48,2% e Romney, 45,3%.

O mais importante é a previsão do colégio eleitoral --como mostrou a eleição de 2000, é possível ganhar no voto popular, mas perder a eleição. Em 2000, Al Gore teve 543.895 votos a mais que George W. Bush. Mas Bush teve 271 votos do colégio eleitoral, diante de 266 de Gore --e o republicano ganhou a eleição.

Na média de previsões do Real Clear Politics para votos do colégio eleitoral, Obama está com 247, Romney 191 e há 100 indefinidos. São necessários 270 para ganhar.

Nas previsões de Nate Silver em seu FiveThirtyEight, Obama tem 50,9% no voto popular, diante de 48% de Romney. No colégio eleitoral, Obama leva 302,6 votos e Romney, 235,4.

É importante acompanhar os Estados que tradicionalmente decidem as eleições nos EUA, os chamados Estados-pêndulo. Alguns Estados estão já na coluna de um ou de outro. Nova York e Califórnia, por exemplo, tradicionalmente vão para um democrata. Texas e Mississippi, para um republicano.

Outros variam de eleição para eleição, e são os que realmente decidem.

Os maiores troféus são Ohio (18 votos de colégio eleitoral) e Flórida (29 votos).

As pesquisas mais recentes nesses dois Estados não são muito auspiciosas para Romney.

Em Ohio, Obama está 4,2 pontos à frente, segundo a média do RCP. Lá, o plano de resgate da GM e do setor automobilístico são o trunfo de Obama --grande parte dos habitantes do Estado trabalha nas montadoras e indústrias relacionadas. Obama ganhou em Ohio por cinco pontos em 2008.

Na Flórida, o cenário está bem mais apertado --Obama está à frente por apenas 2 pontos, segundo o RCP. Segundo Nate Silver, determinantes na Flórida são as mudanças demográficas, como o crescimento da população hispânica, que tradicionalmente vota em democratas. O reduto dos republicanos, os cubano-americanos linha dura, passam por cisões --os cubano-americanos mais jovens agora tendem a votar em democratas também.

Outros Estados-pêndulo importantes são Virgínia (com 13 votos do colégio eleitoral, 4,7 pontos de vantagem para Obama), Colorado (9 votos, 1,3 ponto para Obama) e Nevada (6 votos, 3,3 pontos para Obama)

Pesquisas recentes mostram também uma melhora do presidente na percepção dos eleitores sobre seu ponto mais fraco, a condução da economia.

No último levantamento Wall Street Journal/NBC News, os dois empatam em 43% quando a pergunta é: "quem seria melhor para lidar com a economia?".

Em compensação, alguns dos Estados em que Obama venceu em 2008, como Carolina do Norte (15 votos de colégio eleitoral), foram para a coluna de Romney (4,8 pontos de vantagem).

A economia ainda pesa muito em vários Estados do país.

Desde Franklin Delano Roosevelt, nenhum presidente americano conseguiu se reeleger quando a taxa de desemprego estava acima de 7,2% no dia da eleição.

Isso é péssima notícia para o presidente Barack Obama. Em agosto, segundo o Bureau of Labor Statistics, o desemprego estava em 8,1%.

É uma melhora considerável - chegou a 10% em outubro de 2009.

Mas quando George W Bush deixou o governo, em janeiro de 2009, estava em 7,8%.

Ou seja, para muitos eleitores, na hora de responder à pergunta "Você está melhor hoje do que há quatro anos ?", mote da campanha de Romney, que roubou a pergunta de Ronald Reagan, muitos americanos não vão poder dizer sim.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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