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patrícia campos mello

 

04/02/2011 - 00h01

O presente de Obama

Em sua visita ao Brasil em março, o presidente americano Barack Obama deveria trazer na bagagem um belo presente para os anfitriões: o apoio às ambições brasileiras a um assento permanente em um novo Conselho de Segurança da ONU. Essa seria uma boa maneira de coroar o 'reset' nas relações entre Brasil e Estados Unidos, que ficaram muito estremecidas nos últimos dois anos e agora mostram sinais de recomeço.

O Itamaraty espera esse gesto dos Estados Unidos.

O presidente Obama, quando foi à Índia com pompa e circunstância em novembro, fez do apoio à entrada dos indianos no Conselho de Segurança a cereja do bolo. 'Eu espero ver uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, que inclua a Índia como membro permanente', disse Obama em Déli.

Os EUA já haviam anunciado apoio às pretensões do Japão. Não importa que o anúncio tenha poucos efeitos práticos, já que dificilmente a reforma do Conselho de Segurança --que permitiria ampliar o número de membros permanentes de cinco para 10, refletindo melhor a nova ordem mundial - vá ocorrer no curto prazo.
Mas o efeito simbólico é enorme.

Na época do anúncio do apoio americano a Déli, o governo brasileiro reagiu de forma positiva. 'Por que a Índia e não Brasil?' Em vez de polemizar, os diplomatas disseram apenas que o apoio de Obama a Déli era bem-vindo, porque significava o empenho dos EUA na reforma do Conselho de Segurança - e o Brasil seria um candidato natural a um assento permanente em um CS expandido.

Houve também as explicações de cunho estratégico. O apoio à Índia faz sentido geopoliticamente, porque os EUA apostam na Índia como contrapeso à expansão do poder da China na Ásia.E a Índia, diferentemente do Brasil, tem a bomba nuclear.

Mas agora que a visita de Obama finalmente vai sair do papel, ficou claro que Brasília conta com esse gesto do presidente americano para selar a nova fase entre EUA e Brasil, uma fase pós-Lula, pós-namoro-com-Ahmadinejad, pós-atritos-hondurenhos.

David Rothkopf, colunista da Foreign Policy que foi integrante do governo Clinton e é próximo do chanceler Antonio Patriota, comentou em seu blog mês passado: 'Um diplomata sênior brasileiro me disse recentemente que, se o presidente Obama for ao Brasil e não oferecer a mesma coisa que ofereceu à Índia, ele não precisa nem ir.

O ex-chanceler Celso Amorim, com a franqueza que caracteriza as fatídicas entrevistas de fim de governo, afirmou no ano passado. 'Se o presidente Obama vier pra cá, depois de ter ido à Índia, será normal ele dizer a mesma coisa do Brasil'

No cálculo diplomático, os EUA teriam pouco a perder ao declarar apoio ao Brasil. Obama fortalece suas credenciais multilateralistas, ao dar apoio a uma representação mais democrática nas instituições internacionais. Está certo, a Argentina poderia ficar um pouco irritada, e o México também. Mas Obama já demonstrou estar pouco preocupado com as sensibilidades dos nossos vizinhos do sul ao pular Buenos Aires em seu giro hemisférico - ele só vai a El Salvador, Chile e Brasil. Já em relação ao México, a saia poderia ser mais justa. Mas, até aí, para apoiar a Índia no CS, Obama topou irritar até o Paquistão, parceiro essencial dos EUA no combate à Al Qaeda.

patrícia campos mello

Patrícia Campos Mello é repórter especial da Folha e escreve para o site, às sextas, sobre política e economia internacional. Foi correspondente em Washington durante quatro anos, onde cobriu a eleição do presidente Barack Obama, a crise financeira e a guerra do Afeganistão, acompanhando as tropas americanas. Em Nova York, cobriu os atentados de 11 de Setembro. Formou-se em Jornalismo na Universidade de São Paulo e tem mestrado em Economia e Jornalismo pela New York University. É autora dos livros "O Mundo Tem Medo da China" (Mostarda, 2005) e "Índia - da Miséria à Potência" (Planeta, 2008).

 

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