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paul krugman

 

28/05/2012 - 17h28

Farsantes fiscais

PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"

Quiz rápido: qual é uma palavra de cinco letras, terminando em "y", que é uma boa descrição de Chris Christie, o governador republicano de Nova Jersey?

A resposta óbvia, é claro, é "bully" [alguém que intimida e destrata os mais fracos]. Mas, como revela um debate recente sobre o orçamento estadual, "phony" [farsante] seria uma resposta igualmente boa. E o partido de Christie segue o mesmo caminho que o próprio Christie.

Até agora o ataque dos farsantes fiscais vem sendo uma questão mais nacional que estadual, tendo como exemplo máximo Paul Ryan, o presidente do Comitê de Orçamento da Câmara.

Como sabem os leitores regulares desta coluna, Ryan de alguma maneira adquiriu a fama de falcão fiscal intransigente, apesar de fazer propostas orçamentárias que, longe de focarem a redução do déficit, tratam principalmente de reduzir os impostos dos ricos e cortar a ajuda dada aos pobres e desafortunados. Na realidade, uma vez retirados os "asteriscos mágicos" de

Ryan --as declarações de que ele, não se sabe como, vai aumentar a receita e reduzir os gastos de maneiras que ele se nega a especificar--, o que resta são planos que, se implementados, elevariam a dívida federal, ao invés de reduzi-la.

O mesmo pode ser dito de Mitt Romney, que afirma que vai equilibrar o orçamento, mas cujas propostas reais consistem principalmente em enormes reduções nos impostos (das grandes empresas e dos ricos, é claro), mais a promessa de não reduzir os gastos com a defesa.

Logo, tanto Ryan quanto Romney são falsos falcões do déficit. E a prova de sua falsidade não é apenas o fato de sua aritmética não dar certo --é o fato de que, apesar de toda sua suposta preocupação profunda com o déficit do orçamento, essa preocupação não é o bastante para induzi-los a abrir mão de absolutamente nada que eles e seus patrocinadores financeiros querem. Eles se dispõem a tirar comida das bocas de crianças (literalmente, com os cortes em programas cruciais de assistência nutricional), mas isso, do ponto de vista deles, é positivo.

Ryan diz que a rede de segurança social não deve "reduzir pessoas saudáveis e aptas a vidas de dependência e complacência". Mas a manutenção dos impostos baixos sobre os lucros e os ganhos de capital, e, na realidade, a redução ainda maior desses impostos, são objetivos sacrossantos.

Ryan e Romney estão tentando agradar a um público nacional. E os governadores republicanos, que precisam lidar com limitações orçamentárias reais --eles são diferentes? Já foram feitas muitas afirmações nesse sentido; Chris Christie, em especial, vem sendo amplamente citado, inclusive por ele próprio, como exemplo de um político que está disposto a fazer escolhas difíceis.

Na semana passada, porém, pudemos vê-lo enfrentando uma escolha difícil de fato --e, deixando de lado o fato de ter gritado com muita gente, ele mostrou que não passa de mais um farsante fiscal como tantos outros.

A história é a seguinte: Christie vem há algum tempo alardeando o que afirma ser a "volta por cima de Nova Jersey". Antes mesmo de suas explosões mais recentes, era difícil entender do quê ele estava falando. Sim, o Estado dos subúrbios novos-ricos teve algumas melhoras no índice de emprego desde que Christie chegou ao poder, mas os avanços foram menores que os do país como um todo e os de Nova York e Connecticut, os pontos óbvios de comparação.

Mesmo assim, Christie anda afirmando terminantemente que Nova Jersey já iniciou seu caminho de recuperação, e que isso cria espaço para --adivinhe?-- reduções nos impostos que beneficiarão os ricos de maneira desproporcional.

Na semana passada, a realidade bateu em cheio: David Rosen, o analista orçamentário estadual, independente e não ligado a nenhum partido político, disse aos legisladores que as contas de Nova Jersey não batem; falta US$1,3 bilhão. Como o governador reagiu?

Primeiro, atacando o mensageiro. De acordo com Christie, Rosen --funcionário público veterano cujo escritório geralmente faz previsões orçamentárias mais precisas que as do governo estadual-- é "o Dr. Kevorkian dos números". Quanta civilidade!

Vale mencionar que mesmo os subordinados do próprio governador estão prevendo um déficit de grandes proporções --apenas um pouco menor que o previsto por Rosen. E as duas grandes agências de classificação de crédito Moody's e Standard & Poor's lançaram avisos recentes sobre a situação orçamentária de Nova Jersey, que a S&P descreveu como sendo "estruturalmente desequilibrada" devido às suposições otimistas do governador com relação à receita.

Portanto, Nova Jersey se encontra em muito má forma fiscal. E nosso governador de discurso intransigente --está disposto a reconsiderar o corte de impostos que defende? Nada disso. Ao invés disso ele quer cobrir a diferença com artifícios orçamentários diversos, entre eles renegar sobre a promessa de reduzir a contração de empréstimos para investimentos em transportes e desviar recursos de programas de energia limpa. A responsabilidade fiscal foi esquecida, portanto.

A explosão de mau humor de Christie em relação ao orçamento vai jogar cal sobre as especulações sobre sua possível inclusão como vice na chapa de Romney? Não faço ideia. Mas isso não importa, realmente. Seja quem for que Romney escolher, ele ou ela vai concordar alegremente com as políticas de Robin Hood invertido, do tipo que acabam com o orçamento, que sabemos que estarão pela frente se o ex-governador ganhar a Presidência.

Isso porque a direita americana moderna não se preocupa com o déficit e nunca se preocupou. Aquela conversa toda sobre a dívida não passou de desculpa para atacar o Medicare, Medicaid, Seguridade Social e auxílio-alimentação. Quanto a Chris Christie, ele não passa de mais um farsante fiscal, diferenciando-se apenas por seu pendor pela invectiva.

Tradução de Clara Allain

paul krugman

Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia (2008), colunista do jornal "The New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA). Um dos mais renomados economistas da atualidade, é autor ou editor de 20 livros e tem mais de 200 artigos científicos publicados.

 

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