Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

ricardo semler

 

05/09/2011 - 07h07

Empresários por dentro

Debutei no ramo de business ouvindo a ladainha de que ninguém pode se dar ao luxo de ser honesto no Brasil.

Sempre ouvi que uma empresa que pagasse todos os impostos estaria fadada à extinção. Isto por que os concorrentes estariam operando por fora, fazendo da meia nota e do empregado sem registro seus instrumentos de sucesso. Ou seja, outros empresários, ao viverem por fora, me obrigariam a fazer o mesmo.

Com o tempo, porém, despontou um Brasil com alguma renovação. Primeiro, só se entrava em estatais, fundos de pensão e concorrências grandes com propina. Num segundo momento, nos anos 80 e 90, isto se espalhou para o setor privado. Passou a ser difícil vender para uma montadora de automóveis, telcos e concessionárias privadas sem uma propina para o pessoal de compras. E, não raro, para a própria diretoria.

Agora que o Brasil começa a fazer contas que indicam a perda de uma Bolivia (acredito que uma Argentina, no mínimo) de corrupção por ano, as coisas, ironicamente, estão um pouco melhores. Há setores novos, na web, em serviços inovadores, fundos financeiros e através de novos empresários-modelo brasileiros (poucos entre eles são os maiores) onde a ética realmente tem algum valor.

Algumas das maiores construtoras do país dão aula de gestão e moral, o que aparenta ser uma gozação. Entre empresários não é visto assim. Entende-se que os impostos são malversados, e que dinheiro bom é o que fica no caixa. Depois, é só destinar algo disto para a responsabilidade social.

A pergunta que me ocorre hoje é: tendo em vista que os empresários que corrompem são também talentosos, teriam eles sucesso num mercado totalmente ético? A capacidade de inovar, ver oportunidades onde outros enxergam mesmice, e mesmo ousar e arriscar necessitam da propina?

Não creio. Vejo nos grandes e eticamente condenáveis empresários que fizeram a história econômica do Brasil bastante competência intrínseca. À parte da disposição de comprar quem estiver no caminho, há capacidade de gestão, visão e perseverança.

Pena, portanto, que tenhamos, como classe empresarial, caído no mal caminho. Seríamos, como empresários, bastante bem sucedidos, e certamente orgulhosos do que enxergamos no espelho, não tivéssemos chafurdado com os porcos e nos emporcalhado também.

Sempre estaremos em tempo para mudar. Sem corruptor com o caixa cheio não há comida no chiqueiro. Cabe um pouco de auto-estima, e a certeza de que o talento sobrevive às fáceis tentações. Nunca é tão ruim o resultado de quem resolve deixar de participar dos esquemas. Com um pouco de coragem, estas bolivias e argentinas podem voltar ao orçamento do país.

Não precisa do médico argentino Che viajando pela Bolivia. Nem uma revolução, nem socialistas digerindo criancinhas. Interessa, mesmo ao capitalista selvagem, um país ético. Deste, nasceria um empresariado que se livraria do por fora para ganhar respeito verdadeiro --o do por dentro.

ricardo semler

Ricardo Semler, 52, é empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor de MBA no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Escreveu dois livros que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas. Escreve às segundas-feiras, a cada duas semanas.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página