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ricardo semler

 

31/10/2011 - 07h00

Pré-Ocupando Wall Street

O Bill Gates alertou nestes dias: ser bilionário não é tudo isso. E agora sabemos que o Steve Jobs não conseguia decorar a casa por achar o design de móveis --em geral-- insatisfatório.

Serve também para lembrar que terapia é muito mais barato do que helicóptero --para quem tem problemas de ego. E tem sentido para a pessoa comum, por que as questões de excesso dizem respeito até a quem tem pouco. É só questão de proporção.

A essência é uma só: os movimentos que tomam hoje o mundo, seja dos Indignados na Espanha ou do Occupy Wall Street, em 900 cidades do globo, refletem o mal estar da humanidade.

Não há demanda específica, e nem os membros das manifestações saberiam quando atingiram os seus objetivos. Tal qual o Forum Econômico Social, agrega dezenas de tendências e intermináveis questões. Rege-se pela democracia ateniense e por Woodstock: cada um tem importância igual, tudo é coletivo à la kibbutz, e o respeito às opiniões individuais é tão valorizado que nenhum consenso é desejável.

O nó górdio, porém, é visível. Trata-se da percepção, correta, de que a queda do muro de Berlim levou a um mundo onde os espertos e sortudos se deram bem. Quem já estava na pranchinha de surfe quando o tsunami do capitalismo arrochante surgiu, ganhou mais dinheiro e ajudou a concentração brutal de renda.

Hoje 400 famílias americanas (dá para reunir todos num grande churrasco) tem renda maior do que 150 milhões de americanos comuns. Milhões! Não é diferente no Brasil, e é pior ainda no BRICS como um todo.

Os EUA, o modelo mais puro de oportunidade para todos, comprovam que o capitalismo --deixado às suas próprias regras-- suga o dinheiro do sistema e desemboca em poucos bolsos.

Os ricos não topam pagar mais imposto alegando que o dinheiro será malversado pelos governantes --que eles mesmo ajudaram a colocar lá. Um ciclo vicioso cômodo. Afinal, quem sustentou as carreiras longas dos deputados e goernadores mais corruptos da história do Brasil, a não ser a elite?

O incômodo global não tem data para terminar. Neste túnel não há ainda nesga de luz. Resta ter fé na capacidade de regeneração autóctone da humanidade. Mesmo que seja de forma destrutiva, no início. Assim não dá para ficar --assim não ficará a médio prazo.

Na avenida Paulista cabe rever a cabeça que também foi pré-ocupada com a idéia de que o capitalismo puro acabaria por resolver tudo. Longe disto, longe disto.

ricardo semler

Ricardo Semler, 52, é empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor de MBA no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Escreveu dois livros que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas. Escreve às segundas-feiras, a cada duas semanas.

 

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