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rita siza

 

21/04/2012 - 03h30

A olímpica crise da Grécia

Há uns dias, na Christie's de Londres, foi a leilão a primeira taça olímpica da era moderna para a maratona.

A taça - juntamente com uma medalha, também de prata, um vaso, um ramo de oliveira e um diploma - foram entregues em 1896 em Atenas pelo rei da Grécia, Jorge I ao atleta Spyros Louis, o homem que venceu a corrida de aproximadamente 40 quilómetros que constituía a prova naquela época. O seu neto, que também se chama Spyros Louis, foi o responsável pela venda.

A família do atleta grego ficou impressionada com o interesse que a taça olímpica --um objecto de 15 centímetros, desenhado pelo francês Michel Breal para a primeira olimpíada-- despertou na comunidade internacional. A taça, que foi arrematada por 655 mil euros, não sairá da Grécia: faz agora parte do espólio da Fundação Stavros Niarchos, com sede em Atenas, e segundo garantiu o seu presidente, Andreas Dracopoulos, "será partilhada com o público, para lembrar aos gregos a sua história, tradição e espírito. A nossa esperança é que a taça possa inspirar e reavivar o orgulho grego, tal como Spyros Louis com a sua vitória".

Spyros Louis é um nome mítico do esporte na Grécia, um verdadeiro herói nacional: um jornaleiro que vendia água numa aldeia, tornou-se aos 23 anos um dos únicos dez homens capazes de completar essa maratona original, e o único nacional grego a sagrar-se campeão no estádio Panathinaiko em 1896. Alegadamente, Louis foi dando uns golinhos de conhaque durante a corrida; a poucos quilómetros da meta viu-se em primeiro lugar quando os dois atletas que seguiam à sua frente colapsaram por efeito do calor.

A decisão de vender a taça, confessou o neto Spyros Louis, um pensionista de 72 anos, não foi nada fácil: "Cresci a olhar para ela, tal como os meus filhos. Mas não tive outra hipótese". O produto, explicou, permitirá "assegurar o futuro da família".

Para muitos atletas gregos, porém, o futuro está longe de assegurado ou garantido: a profunda crise económica e financeira que afecta o país, e as duras medidas de austeridade que os gregos foram forçados a suportar para corrigir alguns os desequilíbrios das suas contas públicas, implicaram cortes profundos no financiamento disponível para a federação de atletismo, que viu a sua dotação anual reduzida em 25%. Além da redução drástica do orçamento, as dívidas amontoam-se - a federação diz que são há mais de dois milhões de euros em dívida a atletas, treinadores e preparadores físicos e vários fornecedores. No princípio do mês, a federação anunciou a suspensão das suas operações, em protesto contra os cortes do Governo (e também por manifesta impossibilidade de garantir as condições exigíveis para o rendimento de atletas de alta competição).

De Londres já chegaram notas de preocupação com o caso grego. "Obviamente, gostaríamos de poder contar com os melhores atletas e as melhores equipas do mundo", notou o presidente do comité organizador dos Jogos de 2012, Sebastian Coe.

O director da comissão olímpica helénica desdramatizou a situação e garantiu que a equipa da Grécia em Londres terá cerca de 100 atletas. Se vencerem várias medalhas, talvez as possam depositar na Christie's para pagar a crise.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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