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rita siza

 

23/11/2012 - 15h57

Visca Barça!

DO PORTO

1. Amanhã os catalães vão às urnas em eleições autonómicas antecipadas que, dependendo do resultado, podem ser o primeiro passo para a desagregação do reino da Espanha. Em causa está a eventual independência da Catalunha: a construção de um novo Estado europeu, com a capital em Barcelona, é proposta, de forma mais tímida ou mais explícita, na plataforma de todos os partidos, desde os partidos independentistas da esquerda até à coligação de centro-direita liderada por Artur Mas, que preside à Generalitat (o governo catalão).

Os catalães gostam de discutir as suas divergências políticas, mas apesar das diferentes opiniões, sabem que há um elo mais forte que os une; o seu amado Futebol Clube Barcelona, porventura a instituição que melhor (e mais integralmente) representa o espírito independentista da Catalunha. "Mais que um clube", diz-se do Barça, por todo o lado. Desde os tempos do franquismo, a paixão pelo clube é uma manifestação política - a expressão máxima do catalanismo.

O hino do clube é a música de fundo que embala uma nação que sonha ser um Estado; no Camp Nou, território sagrado, o som das bancadas pintadas de amarelo e vermelho, as cores da senyera, bandeira catalã, ecoam o grito do Ipiranga, "Visca Barça!", viva o Barcelona.

"Independência", exige a torcida, quando o relógio marca 17 minutos e 14 segundos, a data 1714, quando a Catalunha perdeu a guerra pela sucessão espanhola perante as tropas de Filipe V. Impressiona mesmo os estrangeiros do Real Madrid, que ainda hoje personificam a unificação do país, a centralização da capital.

O time entra em campo e a forma como se apresenta é a manifestação perfeita da natureza e cultura "colectivista" dos catalães. O sucesso não depende do golpe de génios (e haverá algum mais genial do que Lionel Messi?) mas antes de um processo de entre-ajuda, que recolhe contributos de todos os intervenientes. Na multidão, a glória não tem nome, pertence a todos.

2. Diz-se que o dinheiro não paga a felicidade, e esse deve seguramente ser o caso do multimilionário russo Roman Abramovich. Por mais que tente e que faça, o dono do Chelsea nunca está satisfeito - esta semana, ficou mesmo furioso depois de o clube de Londres, vencedor quase por milagre da última edição da Liga dos Campeões, ter ficado praticamente afastado da competição na fase de grupos da prova, com mais uma humilhante derrota por 3-0 contra a Juventus.

O fiasco foi demais para o russo: a cabeça do técnico italiano Roberto Di Matteo rolou logo no dia seguinte. O espanhol Rafa Benitez é o senhor que se segue, e já foi avisado que há que produzir resultados imediatamente. Cautelosamente, o contrato só vai até ao final da época - já é difícil encontrar treinadores de topo que não tenham sido corridos pela impaciência do russo: o brasileiro Felipe Scolari foi uma das suas vítimas, como os portugueses José Mourinho e André Villas-Boas,o holandês Guus Hiddink e os italianos Claudio Ranieri e Carlo Ancelloti (antes de Di Matteo).

Em menos de uma década, é obra. O clube diz que as demissões têm a ver com a sua estratégia, que só aceita a vitória. Mas esta sucessão não aponta estratégia nenhuma, só incongruência e disfuncionalidade, mascaradas pela (aparentemente) infindável fortuna de Abramovich.

rita siza

Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

 

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