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rodolfo landim

 

03/08/2012 - 03h30

Para a Grécia, o caminho mais provável seria sair da zona do euro

Passam-se os dias, os meses e os anos e a turbulência na zona do euro permanece. Na verdade, ela vem se agravando e o que antes parecia ser um problema restrito às economias de poucos e pequenos países foi lentamente contaminando até mesmo alguns dos principais membros da União Europeia, como Itália e Espanha.

Os problemas são de dificílima resolução, pois, além de passarem pela necessidade de reformas estruturais que contenham o aumento indefinido da dívida dos países, o que sempre traz desgaste, atinge algo bem mais sensível que é a autonomia política de cada país-Estado.

A realidade é que dívidas soberanas raramente são pagas. Nenhum Estado visa ao endividamento zero. Dívidas públicas são roladas ou consumidas por inflação. No limite, a garantia de última instância contra a quebra de um Estado é a capacidade de seu banco central pagar parte da dívida emitindo moeda.

Ao optarem por entrar na Comunidade Europeia e fazer parte da zona do euro, países como a Grécia abriram mão de ter a sua própria moeda. Assim, perderam não só esse recurso de última instância como a capacidade de sustentar seus deficit em períodos de recessão. Passaram a depender apenas da confiança em sua gestão de receitas e despesas. Uma confiança que, claramente, já foi perdida.

Podemos fazer hoje uma comparação da Europa com a situação vivida pelo Brasil antes da lei nº 9.496, aprovada em 2000. Tínhamos uma moeda única no país, mas nossos Estados tinham a liberdade para contrair endividamento e, com isso, não havia controle central sobre o conjunto da dívida pública brasileira.

Após a criação da referida lei, houve a reestruturação do endividamento e ajuste fiscal dos Estados, tendo a União consolidado todas as dívidas com o aval federal. Em troca, os Estados perderam a autonomia para aumentar seu endividamento, que passou a ser controlado pelo Tesouro Nacional.

Especificamente com a Grécia, o que poderá ocorrer se for cumprida a ameaça do Banco Central Europeu de não aceitar títulos ou garantias soberanas como colateral para novos empréstimos ao BC da Grécia é algo semelhante ao ocorrido na Argentina ao final do período da paridade cambial entre peso e dólar.

A economia argentina estava totalmente dolarizada, mas, como o país não tinha o poder de emitir dólares, quando os cidadãos correram para os bancos em busca de seus depósitos em moeda americana eles simplesmente não existiam, e não houve como honrar o prometido, mesmo que garantido por lei.

Como a Grécia também não tem o poder para emitir euros, de uma hora para a outra ela poderá ser levada a declarar moratória --e voltar ao seu velho dracma.

Apesar das muitas negativas de diversas autoridades europeias, parece que o caminho mais provável para a Grécia seja sair da zona do euro. A sua situação de insolvência é clara e seria um desgaste político enorme para os governantes dos países que foram austeros, notadamente a Alemanha, pagar a fatura e deixar que ela continue a ter um desequilíbrio constante e crescente de suas contas.

A princípio, seria de esperar que todos na Europa perdessem com a crise atual. Mas a verdade é que ela está permitindo à Alemanha, hoje a grande protagonista de todas as decisões, obter um poder político hegemônico no continente que não conseguiu ter militarmente após duas tentativas fracassadas no século passado. E o gosto dessa conquista pode ser sentido nas declarações das autoridades alemãs a cada negociação feita.

A solução de tudo, se politicamente fosse possível, seria uma maior integração política e a adoção de algo semelhante ao ocorrido no Brasil em 2000, sem vencedores ou perdedores, todos convencidos de que essa unificação viria para o bem geral. Mas até pelas inúmeras sinalizações contraditórias dadas a esse respeito, ela está muito longe de ser viabilizada.

E com isso são grandes as chances de os mercados continuarem vivendo na montanha-russa ao sabor das notícias que, quando muito, acabam trazendo apenas alívios de curto prazo.

rodolfo landim

Rodolfo Landim, 55, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da Ouro Preto Óleo e Gás e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, em 'Mercado'

 

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