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rosely sayão

 

17/07/2012 - 03h30

A força silenciosa

Então quer dizer que há muito mais gente quieta, tímida e introvertida do que imaginávamos. Prova disso é o sucesso de vendas do livro "O Poder dos Quietos", da escritora Susan Cain.

Agora, as pessoas que não são tão participativas assim já podem respirar aliviadas. Há lugar para elas nesse mundo, lugar esse socialmente reconhecido, veja só. Que progresso! Os tímidos foram parar nas listas dos livros mais vendidos e são considerados poderosos.

Há tempos tenho comentado a opressão sofrida por crianças e adolescentes que não são populares, que não passam o dia atendendo a telefonemas e sendo requisitados para diversos programas, que preferem ficar quietos e sozinhos na hora do recreio, que não fazem muito sucesso com seus pares.

Parece que não nos damos conta de que crianças e adolescentes têm direitos. E um desses direitos é o de ficarem calados e quietos e de não se expressarem com efusividade. É que, na atualidade, tímido virou sinônimo de problemático e deixou de ser apenas uma característica.

Há cursos que ensinam a deixar de ser tímido, há atendimento especializado destinado aos tímidos que enfrentarão uma entrevista de emprego, há de tudo um pouco para que os introvertidos e os calados desistam desse seu jeito de ser.

Conversei recentemente com um adolescente que estava às voltas com a escolha que ele teria de fazer para o vestibular.

No entender do garoto, o que o impediria de ter um bom futuro era sua reconhecida timidez. Depois de muito levantamento, ele já sabia que poderia se sair bem em diversos cursos porque tinha o talento e o interesse necessários para se dedicar àqueles estudos. Mas, quando pensava no exercício da profissão, não conseguia imaginar que poderia alcançar êxito por causa de sua timidez.

Ele é um garoto como muitos: pensa com sofisticação, é inteligente, faz relações e analogias muito interessantes, tem cultura diferenciada em relação aos pares de sua idade e apresenta um senso de realidade incomum.

Mas, mesmo assim, esse garoto sucumbiu à ideia de que sua característica é quase um traço patológico que o impediria de viver bem.

E o pior é que ele vive bem com sua quietude e não se dá conta disso.

Se o livro que citei no início é bom eu não sei, porque não o li. Mas sei que ele tem seu mérito, que é o de retirar os tímidos e os introvertidos do limbo, do fundo do poço.

Isso é um alívio para os mais novos que têm tais características.

Deixarão de ser cobrados por pais e professores, por exemplo, para que sejam mais participativos, mais extrovertidos, mais populares. Poderão preferir ler a sair com grupos barulhentos, poderão ficar sentados na hora do recreio participando de tudo apenas com os seus olhares atentos. E não serão julgados e criticados --ou analisados-- só porque são como são.

É claro que algumas pessoas excessivamente tímidas podem precisar de ajuda caso a característica se transforme em um traço que impossibilita a vida.

Mas os excessivamente expansivos também podem passar pela mesma situação, não é verdade?

Precisamos constantemente nos lembrar de que vivemos no mundo da diversidade: o respeito às diferenças se desenvolveu. E não há apenas um único estilo de viver e de estar no mundo.

O problema é que nós ainda acreditamos que para alcançar o êxito --meta agora considerada imprescindível-- é necessário ter um perfil específico. E a extroversão seria parte imprescindível dele.

Não é. Aliás, obter êxito na vida também é um conceito que pode ser entendido diferentemente pelas pessoas.

Talvez a boa comunicação seja uma qualidade importante para o viver bem.

Mas não apenas a boa comunicação com o mundo externo, mas também, e principalmente, a boa comunicação da pessoa com seu interior. E, para alcançar esta última, caro leitor, introvertidos e extrovertidos estão em pé de igualdade.

rosely sayão

Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças.

 

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