Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

rosely sayão

 

19/02/2013 - 03h30

Meus filhos, meus bens

Uma leitora me contou que tem o hábito de assistir a novelas, mesmo sem gostar muito, porque as considera um passatempo bom para relaxar do estresse do trabalho.

Depois de jantar com o filho de seis anos e colocá-lo para dormir, essa mãe tem o costume de sentar-se em frente à TV e acompanhar o desenrolar das tramas da novela das nove. As cenas da ficção que a afetaram violentamente foram as relacionadas à história de um casal recém-separado que briga pela guarda da filha.

O que deixou nossa leitora muito perturbada foi ter se dado conta de que ela mesma tem vivido essa história e ainda não havia percebido: só percebeu depois de se envolver e de se identificar com os personagens.

Essa mulher separou-se recentemente do pai de seu filho e, desde o rompimento do casamento, está enfrentando uma situação muito semelhante à que viu na novela. Ela e o pai do menino têm brigado, inclusive na Justiça, para obter a guarda do menino e, ao mesmo tempo, impedir que o outro desfrute da companhia da criança.

O que ela não havia pensado até então, e foi ao assistir a algumas cenas da novela é que passou a refletir a respeito, é que tudo o que tem feito pode estar prejudicando o seu filho. E é esse o tema de nossa conversa de hoje.

Casamentos, divórcios e recasamentos são acontecimentos cada vez mais comuns no tempo em que vivemos. No século 21, esses fatos não causam espanto. As novas famílias resultantes dessas uniões e desuniões fazem parte do nosso cotidiano.

Mas há ainda um número muito grande de ex-casais que, à semelhança de nossa leitora e dos personagens da novela, ainda usam o filho como um instrumento para atingir o ex-parceiro. Por que será que isso ocorre?

Talvez o fato de o filho, hoje, ser considerado um bem leve o ex-casal a disputar a posse dele. Crianças e adolescentes passam, então, a ocupar o mesmo lugar que as coisas materiais ocupam após a dissolução conturbada de um casamento.

Longas batalhas judiciais são travadas para que cada uma das partes sinta que não saiu perdendo muito após o rompimento, não é verdade?

Mas os filhos sofrem com isso porque, primeiramente, nada podem fazer para sair da situação criada por seus pais. E quando tal situação ocorre, certamente eles é que saem perdendo.

Eles perdem a confiança em um dos pais ou em ambos e perdem também a segurança e a proteção de que tanto precisam. Os filhos são levados a assumir a defesa de um dos lados e perdem, principalmente, um direito que ninguém deveria poder tirar deles: o de crescer em companhia de seus pais, mesmo que eles não estejam mais juntos.

Quem tem filhos precisa saber que assumiu um compromisso para o resto da vida. Seu casamento pode terminar, mas o vínculo com a mãe ou o pai de seus filhos não deveria terminar nunca. Além disso, é importante lembrar, também, que um filho não é um bem sobre o qual se pode obter a posse.

Parece que as crianças que nascem no mundo da diversidade têm se adaptado muito bem às mudanças pelas quais a família vem passando. Mas assistir aos pais brigando pela sua guarda não pode fazer bem a elas.

Os mais novos precisam de nossos cuidados e, para honrar esse compromisso assumido, os pais precisam, de qualquer maneira, agir com maturidade.

rosely sayão

Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página