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sérgio malbergier

 

01/11/2007 - 00h02

Desenvolvimentisminho

Este é o governo do "social-desenvolvimentismo", na definição pomposa e talvez pretensiosa do nosso ministro da Fazenda, Guido Mantega, hoje a principal voz buzinando economia no ouvido do presidente Lula. Segundo Mantega, essa política se caracteriza por crescimento econômico vigoroso e redução das desigualdades sociais e regionais. Ok, bonito, mas falta ao governo fazer a sua parte.

Como mostra o soluço no abastecimento de gás em São Paulo e no Rio de Janeiro, a infra-estrutura do país parece não suportar o crescimento vigoroso apregoado pelo governo e ensaiado já por alguns setores mais dinâmicos da economia brasileira. Com dinheiro em caixa graças à pesadíssima carga tributária que onera todo o sistema produtivo, os "sócio-desenvolvimentistas" parecem ser especialistas no desenvolvimento de discursos e planos, não na sua realização.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) patina, com um governo incapaz de usar o dinheiro que tem para obras vitais sobre as quais há consenso, como melhoria e ampliação dos sistemas de transporte (portos, estradas, ferrovias e aeroportos estão em frangalhos) e do fornecimento de energia.

A perspectiva de escassez energética, reforçada pelo soluço gasoso, é o maior temor dos empresários brasileiros quando fazem seus planos de expansão que gerarão riquezas e empregos ao país. Muitos já investem em pequenas usinas geradoras para não depender das promessas do governo, custo extra num mercado global onde cada centavo no preço final é relevante.

O governo rebate as críticas à lentidão dos investimentos públicos em estrutura dizendo que, ao longo dos governos FHC, o Estado brasileiro aprendeu a cortar, a não gastar seus recursos. Ainda bem, dado o histórico de desperdícios (para dizer o mínimo) das verbas públicas. E já se foram cinco anos desde a saída dos tucanos do governo central.

Pior, os petistas e seus aliados estão "reaprendendo" a gastar justamente onde não deveriam, engordando a máquina pública e aparelhando ministérios e repartições, enquanto a política industrial prometida para este segundo mandato parece estar em eterna gestação nos corredores pouco arejados do paquiderme estatal.

Como atesta o último ranking do Fórum Econômico Mundial, o governo só piora o ambiente de negócios no país, ao invés de adotar medidas que beneficiariam todos os ramos da atividade. No ranking de 131 países, ficamos com a maior carga tributária, o 104º posto em ambiente institucional e o 126º na estabilidade do ambiente macroeconômico. Já no índice que mede a sofisticação dos negócios e das empresas, vamos muito melhor, em 39º lugar.

Sim, Lula deu um grande passo ao aderir (mesmo que tardiamente) ao óbvio na economia, usando o mercado como parceiro, não demonizando-o. A estabilidade econômica, mesmo em condições depauperadas, já trouxe ganhos enormes.

Mas para darmos o verdadeiro salto de qualidade é preciso ir além do básico, do fácil e do óbvio. É preciso que o presidente use seu enorme capital político para avançar as já velhas reformas, para evitar que os tribunais sejam usados por empresas para paralisar e direcionar licitações públicas, para reduzir gastos ineficientes que demandam impostos altíssimos, para cortar a burocracia reacionária.

Basta olhar para a explosão na venda de computadores no Brasil, um movimento que trará grandes avanços na produtividade geral e individual. Ela veio com a redução dos impostos federais sobre o setor, permitindo que as classes C e D tenham finalmente acesso a máquinas que melhorarão muito sua capacidade de aprendizado, inserção social e realização.

A melhor política desenvolvimentista, muito fácil de implantar e com resultado comprovado, talvez seja essa mesma: cortar impostos.

sérgio malbergier

Sérgio Malbergier é consultor de comunicação. Foi editor dos cadernos 'Dinheiro' (2004-2010) e 'Mundo' (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, 'A Árvore' (1986) e 'Carô no Inferno' (1987). Escreve às quintas.

 

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