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sérgio malbergier

 

14/08/2008 - 12h48

Os nossos Borats

Por mais que a situação apresente complexidades e nuances, não é difícil saber quem está mais errado nessa mini-guerra do Cáucaso entre Rússia e Geórgia.

Viver às margens do Império Russo/Soviético sempre foi um viver subjugado. Assim que a Cortina de Ferro começou a cair, por marretadas de seus sufocados prisioneiros, os satélites europeus livres do jugo soviético correram aos braços ocidentais, associando-se o quanto antes às instituições do mundo democrático, como a União Européia e a Otan.

Mesmo a eslava Sérvia, que perdeu Kosovo, toma o mesmo caminho ocidental da democracia e da economia de mercado. Líderes de Ucrânia, países bálticos, República Tcheca e outros da região solidarizaram-se imediatamente com o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, que tem relações carnais com os Estados Unidos.

Ao atacar rebeldes separatistas armados por Moscou em região habitada por russos dentro da Geórgia, Saakashvili deu o pretexto ideal para o Kremlin despachar seus tanques, que seguem passeando à vontade em solo estrangeiro como se estivessem em Praga ou Budapeste algumas décadas atrás.

Após as humilhações russas dos anos 1990, era a oportunidade da potência petroleiro-atômica de projetar novamente seu poder na vizinhança, querendo à força manter o controle sobre suas fronteiras que perde rapidamente dado o compreensível desejo de seus vizinhos de buscar abrigo no guarda-chuva ocidental.

Que a reemergente Rússia queira proteger seu entorno é tão compreensível quanto os EUA terem sua Doutrina Monroe, aquela da "América para os americanos", que até hoje, por exemplo, explica o tácito apoio de Washington ao golpe contra Hugo Chávez, em 2002.

Difícil é compreender a excitação de certos esquerdistas brasileiros, sempre eles, com o neo-autoritarismo russo, que elegem Vladimir Putin como herói da nova nova ordem mundial.

Nessa lógica "gauche" o que é ruim para os EUA é bom para o mundo. Fossem tropas americanas ou de outra potência ocidental cometendo metade das ilegalidades e violências dos russos no minúsculo território georgiano, estriam gritando infâmia. Agora dão vivas, apesar dos bombardeios contra zonas civis e da ação militar unilateral ao arrepio do sistema internacional.

O entusiasmo deles com o autoritarismo russo lembra o de Borat com sua irmã, "a quarta melhor prostituta do Cazaquistão". Mas Borat é uma piada muito engraçada. Já essa esquerda não tem graça nenhuma.

sérgio malbergier

Sérgio Malbergier é consultor de comunicação. Foi editor dos cadernos 'Dinheiro' (2004-2010) e 'Mundo' (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, 'A Árvore' (1986) e 'Carô no Inferno' (1987). Escreve às quintas.

 

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