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suzana singer

 

23/09/2012 - 03h00

Manchete turbinada

O noticiário político está pegando fogo com a disputa acirrada pelo segundo lugar na corrida eleitoral em São Paulo e com o julgamento do mensalão caminhando para a sua fase mais crítica.

Num momento de ânimos muito acirrados, a manchete da Folha de quarta-feira passada teve o efeito de uma bomba. No impresso: "Haddad diz que associá-lo a José Dirceu é degradante". No site: "Haddad diz que é degradante ser ligado a Dirceu e Delúbio".

Quem lesse só os títulos concluiria, como disse um leitor, que o candidato petista, num momento confessional, admitiu algo que estava entalado na garganta.
Não era isso. A campanha de Fernando Haddad tinha tentado proibir na Justiça Eleitoral uma propaganda de José Serra que afirmava que votar no adversário implica trazer de volta José Dirceu, Delúbio Soares e Paulo Maluf.

"Sabe o que acontece quando você vota no PT? Você vota, ele volta. Fique esperto. É o velho PT, agora em nova embalagemº, dizia a inserção dos tucanos.

Os advogados da campanha petista argumentaram que o anúncio era ªdegradante porque promove uma indevida associação entre Fernando Haddad e pessoas envolvidas em processos criminais e ações de improbidade administrativaº. A ligação seria ªindevidaº, porque Haddad não é réu no mensalão nem responde a acusações de corrupção.

A frase que virou manchete foi pinçada da medida judicial e editada como se fosse uma declaração do ex-ministro da Educação ("Haddad diz que..."). Um título correto poderia ser "Haddad tenta barrar comercial que o associa a Dirceu".

A diferença não é sutil. "Fui juiz eleitoral e percebi logo que a manchete foi tirada de um processo. Nenhum político diria que a relação com um aliado é degradante. É uma linguagem do direito eleitoral, já que a própria lei usa o termo degradante para caracterizar um tipo de propaganda que é vedada", explica Flávio Luiz Yarshell, 49, professor titular de direito processual da USP.

Ele compara a situação à de Luiza Erundina, que desistiu de ser vice do PT depois que se anunciou a aliança com Maluf. "Ela afirmou categoricamente que estava desconfortável com a situação. Haddad não disse isso e não cabe ao jornal fazer esse tipo de presunção", diz.

A Secretaria de Redação não concorda que a manchete tenha sido "turbinada". "As argumentações dos advogados de Haddad na Justiça equivalem à manifestação do próprio candidato.
Ele é o responsável e o principal interessado em qualquer intervenção de sua campanha. O mesmo raciocínio vale para outras atividades, como a arrecadação de recursos", afirma.

O efeito de um título apimentado pode ser devastador, principalmente na internet, onde se lê muito o que está em letras grandes e pouco o que vem logo abaixo. A reportagem ficou entre as mais lidas na quarta-feira e foi a que recebeu mais comentários no dia (1.042).

A mão pesada da edição ofuscou o mérito da reportagem. A Folha percebeu que a medida judicial contra a propaganda tucana explicita a contradição que existe no esforço do PT de se desligar de parte do próprio PT Ðe de Paulo Maluf, cujo apoio foi celebrado em encontro no jardim da casa do ex-prefeito.

Sem colocar palavras na boca do candidato, o jornal conseguiria atingir o mesmo objetivo. A duas semanas do primeiro turno, é hora de ajudar o eleitor a decidir, não de apostar na confusão.

suzana singer

Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. No jornal desde 1987, foi Secretária de Redação na área de edição, diretora de Revistas e editora de 'Cotidiano'. Escreve aos domingos na versão impressa. E-mail: ombudsman@uol.com.br

 

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