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sylvia colombo

crônicas de Buenos Aires  

08/05/2012 - 07h07

40 anos de Trelew

Começou ontem um dos julgamentos mais esperados do ano na Argentina. Irão ao banco dos réus cinco acusados do fuzilamento de 16 pessoas detidas após tentar escapar da prisão de Rawson, na Patagônia, em 1972. São eles Luis Sosa, Emilio del Real, Rubén Paccagnigi, Jorge Bautista e Carlos Marandino.

O massacre de Trelew, como ficou conhecido o crime que completa 40 anos em agosto, ocorreu depois de uma tentativa cinematográfica de fuga de um grupo de mais de 100 militantes de esquerda da prisão de Rawson, na província de Chubut.

Os prisioneiros faziam parte de diferentes agrupações políticas, entre elas os montoneros, o ERP (Ejército Revolucionário del Pueblo) e as FAR (Fuerzas Armadas Revolucionárias). A tentativa de fuga organizada pela cúpula desses grupos na prisão foi uma das raras vezes em que trabalharam juntos de maneira orquestrada.

A Argentina vivia a ditadura do general Alejandro Agustín Lanusse (1971-1973), um período de grande violência política e social, com a atuação intensa dessas agrupações e formação de um aparato de repressão que seria depois refinado e transformado numa máquina de matar em grande escala durante a ditadura dos anos 1976-1983.

Depois de meses de organização, os prisioneiros colocaram em marcha seu plano de fuga, em 15 de agosto. A ideia era sair da prisão num grupo de 100 pessoas, que embarcariam em carros trazidos por companheiros de fora e que os levariam até o aeroporto de Trelew. Ali, tomariam um avião sequestrado da empresa Aerolíneas Argentinas e embarcariam para o Chile, de onde tentariam voar depois para Cuba.

Diversas falhas de logística, porém, comprometeram a operação. Apenas seis prisioneiros lograram o objetivo e deixaram o país, entre eles estavam lideranças históricas dos militantes, como Fernando Vaca Narvaja e Mario Roberto Santucho.

Um grupo de 19 pessoas chegou atrasado ao aeroporto, em táxis, e perdeu o voo. Novamente detidos, num episódio dramático registrado por câmeras de TV e diante de jornalistas, os guerrilheiros se renderam e foram presos na base aeronaval Almirante Zar, em Trelew.

Na madrugada de 22 de agosto foram acordados pelos militares e levados para um pátio, onde foram metralhados. Apenas três deles sobreviveram, Alberto Miguel Camps, María Antonia Berger e Ricardo René Haidar.

O depoimento deles está no tocante livro "La Patria Fusilada", do escritor e militante Francisco Urondo. De forma trágica, os três, além do próprio Urondo, seriam depois mortos pela ditadura iniciada pelo general Jorge Rafael Videla.

Outro registro interessante do episódio é o filme "Trelew", da cineasta Mariana Arruti, que pode ser visto na íntegra no Youtube.

O julgamento do massacre de Trelew chega tarde, quando os responsáveis já viveram toda uma vida impunes com relação a esse crime e, se forem condenados, terão poucos anos para pagar suas penas. Trata-se, porém, de um momento importante. A atual gestão da presidente Cristina Kirchner, se tem sido exemplar no julgamento dos repressores do período 1976-1983, por outro lado tem se calado com relação à violência que ocorreu antes desse período.

Os anos que antecedem o golpe na Argentina, marcados por governos militares e peronistas, também foram sangrentos, com atividade guerrilheira e intensa repressão.

Investigar e trazer à luz os episódios dessa época, além de fazer justiça, pode ajudar a explicar o pesadelo que viria depois, com o golpe de Estado de 1976.

sylvia colombo

Sylvia Colombo é correspondente da Folha em Buenos Aires. Está no jornal desde 1993 e já foi repórter, editora do "Folhateen" e da "Ilustrada" e correspondente em Londres. É formada em jornalismo e história. Escreve às terças-feira no site da Folha.

 

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