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tostão

 

11/11/2012 - 03h00

Diversidade e contradição

É absurda a demolição da Escola Pública Municipal Friedenreich, com 349 alunos, a quarta melhor da cidade, por causa de obras no Maracanã, para a Copa. No local, haverá a construção de duas quadras cimentadas, para aquecimento dos jogadores. Além da importância da escola, os vestiários do Maracanã são enormes, e os jogadores, geralmente, se aquecem, antes das partidas, no gramado.

Faltam ainda quase dois anos para a Copa e, por ter sido campeão do mundo, já recebi convites para participar de fan fests, encontros públicos de torcedores que não terão ingressos para ir aos estádios, talk shows e outros eventos relacionados ao Mundial. Sempre recuso. Muitas pessoas não entendem. Não sou ex-jogador que escreve sobre futebol. Sou um cidadão, colunista, que foi jogador. Não quero que uma coisa interfira na outra.

Apesar de a maioria das pessoas se dizer democrática, aberta, as opiniões diferentes, mesmo com conhecimento, costumam ser ignoradas, como se contrariassem uma verdade estabelecida. Elas não escutam nem querem aprender. As que sabem menos são, geralmente, as que têm mais certeza.

Um dos papos mais furados que ouço, desde a adolescência, é que o esporte de alto rendimento é um bom lugar para se aprender e desenvolver os valores éticos e morais. Nunca foi. A ambição, o desejo de ser herói e de ganhar muito dinheiro costumam ser mais fortes.

Há exceções.

Lance Armstrong, o mito do ciclismo, bastante elogiado por suas obras sociais, dopou-se durante toda a carreira. Dizem que a maioria se dopa no ciclismo. Na semana passada, o presidente da federação brasileira respondeu a um repórter sobre o assunto com uma pergunta: "Por que os ciclistas são excepcionais nos clubes e, quando chegam à seleção, caem bastante de produção?". Foi despedido.

No passado, por não haver exames antidoping, os jogadores de futebol se dopavam muito mais que hoje. Evidentemente, o doping era amador, menos sofisticado. Mas a intenção era a mesma.

Entre esportistas, empresários, políticos e profissionais de todas as áreas, muitas vezes, belos discursos e ações generosas e humanitárias convivem com uma desmedida ambição, de querer levar vantagem em tudo. O Brasil precisa muito mais de bons cidadãos que de filantropia.

É preciso separar a contradição e a incoerência humana do marginal, que se finge de honesto. Às vezes, as duas coisas se misturam.

Em um mundo tão contraditório, é esperar demais que um jogador, na emoção da partida e em uma fração de segundo, reprima e sublime seus impulsos agressivos e tenha sempre condutas educadas e éticas. Isso não o livra de pagar por seus erros. Se os infratores, em todas as atividades, não forem punidos, será o caos.

tostão

Tostão, médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Afastou-se dos campos devido ao agravamento de um problema de descolamento da retina. Como comentarista esportivo, colaborou com a TV Bandeirantes e com a ESPN Brasil. Escreve às quartas e domingos.

 

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