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valdo cruz

 

10/04/2012 - 12h04

Rumo dos juros: correção de trajetória

Semana que vem tem nova reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Até a semana passada, todos os prognósticos apontavam que a taxa de juros poderia cair dos atuais 9,75% para 9% e ficaria nesse patamar até o final do ano. Só que a inflação recuou mais do que o previsto e começaram a surgir apostas de que a taxa básica de juros do Banco Central pode ficar abaixo de 9% ainda neste ano.

O que provocou um início de mudança nos humores do mercado foi o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de março, que veio bem abaixo das previsões --ficou em apenas 0,21%. Resultado: os analistas que mais acertam em suas projeções já falam numa inflação de 4,82% no final do ano, próxima do centro da meta de 4,5%.

Bem, antes que esse movimento ganhasse maior intensidade, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tratou de mandar seu recado ao mercado. Na segunda-feira à noite, em entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews, Tombini deu indicações de que, por enquanto, nada muda no cenário até então previsto pelo BC. Aquele divulgado na última ata do Copom, de que a taxa de juros deve ficar, neste ano, um pouco acima da mínima histórica, que foi de 8,75% durante o governo Lula, mais precisamente entre julho de 2009 e abril de 2010.

A mensagem do Copom, naquele momento, era que a taxa básica do BC, a Selic, recuaria para 9% e por aí ficaria até o final do ano. Em outras palavras, ao afirmar ao jornalista João Borges que esse cenário tem "elevada probabilidade" de se concretizar, Tombini, tudo indica, quis frear as interpretações do mercado de que os juros poderiam cair mais fortemente neste ano. Quem sabe para 8,75% ou até menos, 8,5%, no final do segundo ano de mandato da presidente Dilma. O que, por sinal, ela iria adorar. Só que, diante das palavras de Tombini, tudo fica como está.

Mesmo porque as previsões indicam que a inflação de abril não será tão boa como a de março. E continua a existir no horizonte a barreira da caderneta de poupança para uma queda mais acentuada dos juros no Brasil. A poupança tem um rendimento assegurado por lei de no mínimo 6% ao ano. Com a vantagem de não pagar Imposto de Renda.

Se os juros do BC se aproximarem desse patamar, fundos de investimento e títulos do Tesouro Nacional, que pagam IR, perderão a atratividade e os investidores poderão migrar para a caderneta de poupança, criando dificuldades para os bancos e o governo. Nos cálculos de técnicos do Ministério da Fazenda, por conta dos custos de administração e do pagamento de imposto, se a taxa de juros for reduzida para menos de 8,5% torna-se necessário mudar a regra de rendimento da poupança.

Quando veio a ata do Copom indicando que os juros cairiam para até no máximo 9% neste ano, a notícia foi bem recebida pelo Palácio do Planalto. Afinal, acabava com a obrigação de mudar o cálculo da poupança no curto prazo, num ano problemático por ser eleitoral.

Ou seja, o comportamento benigno da inflação, comemorado pelo governo, pode também significar uma nova dor de cabeça para o Palácio do Planalto, obrigando-o a mexer em algo que não gostaria num período próximo das eleições municipais.

O fato é que, por enquanto, o governo ainda terá um tempinho para pensar. Na reunião da semana que vem, o Copom no máximo vai reduzir os juros para 9%. Pode inclusive reduzir para 9,25%. Depois, o próximo encontro do Comitê de Política Monetária acontecerá no final de maio. Até lá será possível calibrar as previsões de inflação e definir se os juros vão, de fato, cair mais do que o previsto há algumas semanas. Resumindo: por enquanto, tudo ficará como está, com o governo torcendo para não ser obrigado a propor mudanças na poupança no curto prazo.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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