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valdo cruz

 

29/05/2012 - 07h01

Faca no pescoço

A faca está, queiram ou não, no pescoço. Agora, cabe aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) demonstrarem que não se intimidam com tanta pressão vinda de todos os lados e, na hora do julgamento do mensalão, emitirem seus votos tecnicamente.

O fato é que o julgamento atrairá, como nunca visto na história do Supremo, uma onda de pressão política. Está certo o ministro Marco Aurélio Mello ao afirmar que os membros da corte devem encarar esse processo como tantos outros.

Para eles, com certeza, essa deve ser a forma de proceder. Só que, para os envolvidos direta e indiretamente no caso, o julgamento do mensalão contará, e muito, para o julgamento de sua história política. Daí a intensa movimentação do ex-presidente Lula no momento em que o Supremo está próximo de tomar uma decisão sobre o assunto.

Ao deixar a Presidência, Lula disse que tinha como missão desmascarar a farsa do mensalão. Seu intuito e objetivo são o de provar que o caso não existiu. Bem, o caso, sim, existiu. Pode não ser exatamente como está no inquérito da Procuradoria Geral da União e no voto do ministro Joaquim Barbosa. Mas que existiu, existiu. Dirigentes petistas montaram um esquema que irrigou contas bancárias de aliados. O marqueteiro petista admitiu ter recebido parte de seu dinheiro em um paraíso fiscal. São fatos graves, revelados e não desmentidos.

Agora, surge a história do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes, indicado para o posto no STF pelo ex-presidente FHC. Até aqui, o teor da conversa entre os dois tem mais versões do lado de Gilmar Mendes do que do de Lula.

Com a experiência de dois mandatos presidenciais, Lula deveria saber o potencial explosivo de um encontro como esse na véspera do julgamento do mensalão. Parece não ter calculado os riscos de sua manobra. Seja lá o que realmente tenha dito ao ministro do Supremo, o vazamento do encontro leva a interpretações que, baseadas ou não na realidade, só prejudicam os envolvidos no caso do mensalão.

Fica a imagem de uma pressão política de um ex-presidente da República, a respeito de um inquérito que envolve fatos ocorridos durante seu governo, no qual tem interesse direto. Lula pode falar com quem ele quiser. Não é mais presidente. Não exerce mais cargo público. Mas, politica e simbolicamente, deveria ter evitado tal reunião. Exatamente para não ser obrigado a se explicar ou evitar explicações.

A revelação do encontro só faz aumentar o sentimento de "faca no pescoço" que os ministros do STF têm tentado evitar. Por mais que seja, e deva ser tratado como um inquérito qualquer no que tange às decisões dos membros da Corte, o julgamento do mensalão será o julgamento de um período do governo Lula. Um momento de intensa pressão sobre todos os ministros do Supremo. Atos como o do ex-presidente Lula não contribuem positivamente para o bom andamento do processo. Pelo contrário. Só fazem acirrar os ânimos. Que já estão por demais exaltados. Principalmente da parte dos envolvidos.

Tomara que essa novela não passe de agosto.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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