Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

valdo cruz

 

26/06/2012 - 07h05

Dilma e Paraguai: nada a ver

Assim que souberam dos detalhes da crise que levou ao impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo, alguns pretensos aliados de Dilma Rousseff comentaram, reservadamente, que a crise no país vizinho deveria servir de alerta para a presidente brasileira. Sinceramente, é muito mais uma estocada de quem se sente desprestigiado e sem acesso ao poder do que uma análise feita com um mínimo de base na realidade.

O comentário desses pretensos aliados busca um ponto comum que ligaria Dilma e Lugo. Qual seria? O fato de o colega paraguaio ter perdido completamente sua sustentação tanto na Câmara como no Senado do Paraguai por não ter dado importância ao relacionamento com sua base de apoio parlamentar.

Insatisfeitos com o tratamento dispensado pelo então presidente paraguaio, deputados e senadores daquele país decidiram, num rito sumaríssimo, tirá-lo do poder assim que surgiu uma oportunidade -o choque entre policiais e camponeses com morte dos dois lados, que levou Lugo a perder apoio dos movimentos sociais. Foi uma decisão política, como é o caso de processos de impeachment, dentro dos ritos processuais locais, mas com todo jeitão de golpe.

Tudo bem que essa turma diz se tratar apenas de um alerta, como faz questão de destacar, mas jamais um risco iminente de se repetir aqui o que ocorreu no Paraguai. Eles alegam, porém, que Dilma brinca com a sorte ao tratar a pão e água sua base aliada no Congresso. Num momento de fraqueza, ela pode receber o troco.
Até aí, análise correta. Nosso Congresso, assim como outros, é mestre em esperar o melhor momento para enfiar a faca no presidente de plantão. Agora, não dá para fazer qualquer relação entre Brasil e Paraguai.

Não há, no Brasil atual, nenhuma possibilidade de um golpe ao estilo paraguaio. Nossas instituições estão muito mais fortalecidas e amadurecidas, o que impede um retrocesso no país. Além disso, e principalmente, não há nada por aqui que lembre, de fato, o que aconteceu por lá, no vizinho.

Fernando Lugo foi brigando irremediavelmente com todo mundo e perdendo apoio de todos. Parlamentares, juízes, empresários, Igreja e, por fim, movimentos sociais. Ficou isolado. Dilma tem seus desentendimentos com muita gente, até por conta do seu estilo, mas em nenhum momento adotou uma postura que tenha levado a um rompimento com alguma categoria. Às vezes, é fato, estica demais a corda. Mas não a ponto de rompê-la. Tem dado sinais de composição quando sente que precisa fazer um recuo tático. Enfim, é um oportunismo político fazer comparações. Não dá nem para dizer que estamos longe do que aconteceu no Paraguai. É algo que, no estágio atual do Brasil, está fora do nosso horizonte. Ainda bem.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página