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valdo cruz

 

04/09/2012 - 03h00

Dilma e os ajustes no tripé

O terceiro ano de mandato é o tempo da colheita. Ele define, claramente, o que será o último ano de uma administração presidencial e as chances de o ocupante do Palácio do Planalto de lá permanecer por mais quatro anos.

Dilma Rousseff traçou uma estratégia para chegar em 2013 com crescimento acima de 4% e inflação sob controle. Este é seu desafio. Sua equipe acredita e propaga que será possível atingir esses objetivos, que levariam à reeleição da presidente.

Para chegar lá, a petista fez ajustes no tripé da política econômica que herdou do ex-presidente Lula. O governo já não mira mais no centro da meta de inflação, de 4,5%, no curto prazo.

Emite sinais de que tolera um índice acima dos 5%. No ano passado, foi de 6,5%, exatamente o teto da meta. Neste, pode ficar em 5,2%. No próximo, por aí.

O câmbio deixou de ser flutuante, pelo menos por enquanto. O Banco Central tem atuado para evitar que o valor do dólar fique abaixo de R$ 2 e acima de R$ 2,10. Perdeu, com isso, a contribuição que a taxa de câmbio proporcionava ao combate à inflação.

O ajuste fiscal caminha para ser flexibilizado. Dificilmente o governo cumprirá, neste ano, a meta de superávit primário de 3,1% do PIB. No próximo, o mesmo deve voltar a acontecer. A equipe presidencial ainda não admite tal fato oficialmente, mas já deixa aqui e lá vazar informações de que esta é a política do momento.

Os cenários internacional e doméstico permitem adotar tais ajustes dentro de uma margem de risco sob controle. A dívida pública é cadente, a inflação não está no centro da meta, mas caiu se comparada com o ano passado, e o câmbio dá mais fôlego para uma indústria que vinha perdendo competitividade.

No mercado, analistas alertam, porém, para o risco embutido nos ajustes feitos pelo governo Dilma na política econômica. Acreditam que a inflação pode voltar a assustar, levando o governo a tomar um caminho que prefere evitar: ser obrigado a subir os juros para conter a alta dos preços, o que, por tabela, pode frustrar as expectativas de fazer o país voltar a crescer acima de 4%.

Na equipe presidencial, os temores do mercado são vistos como pessimistas demais. Há uma confiança de que a inflação ficará sob controle, muito provavelmente na casa dos 5%, o que não é visto como fim do mundo, e que poderá cair no último ano de mandato.

Quanto ao crescimento, Dilma e seus assessores estão convencidos de que tudo o que está sendo feito e o que ainda será adotado vão garantir a retomada de um ritmo forte da economia brasileira. O Palácio do Planalto aposta na volta do investimento, principalmente com as medidas já anunciadas na área de concessões e de redução do custo Brasil e as que serão divulgadas nos próximos dias.

Aí, a dúvida é se o governo chegou tarde ou não para garantir que estas ações tenham efeitos concretos na economia. Talvez tenha demorado demais para adotar este caminho, entregando ao setor privado boa parte dos investimentos que a União acreditava ser capaz de tocar.

Voltando à questão da inflação, um assessor faz questão de destacar: Dilma aprendeu com seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, que não é possível brincar nesta área. Preços elevados criam distorções no mundo real da economia e batem forte, negativamente, no bolso da população.

Acabam, no fim, correndo a popularidade presidencial.

Nas palavras deste assessor, Dilma pede à sua equipe que use toda margem de manobra possível para atingir seus objetivos. O que significa, neste momento, tolerar uma inflação acima do centro da meta. Mas não vai permitir que ela saia do controle. Aí, a ordem, diz ele, é fazer o necessário para evitar um descontrole na área de preços.

Enfim, Dilma está diante destes desafios, tendo como adversária adicional uma crise internacional que pode se agravar. A conferir.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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