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valdo cruz

 

25/09/2012 - 03h00

PT e seu quase autogolpe

Uma ameaça de golpe quase que gerada por vontade das próprias vítimas. Talvez seja essa uma boa definição para a reação petista diante dos rumos do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal). Desgastado pelo andar dos trabalhos do tribunal, o PT passou a denunciar o que acredita ser uma tentativa de golpe contra o ex-presidente Lula (ops, golpe contra ex???) e contra o partido, no poder há quase dez anos.

Primeiro, é bom lembrar, estamos num país com liberdade de expressão. Então, o PT tem todo o direito de espernear e reclamar o quanto quiser. Agora, vamos lá, os petistas não podem reclamar tanto assim. Afinal, usavam da mesma estratégia da qual são vítimas agora quando ainda não tinham chegado ao Palácio do Planalto. E batiam sem dó. Eram, inclusive, muito mais competentes do que tucanos e democratas.

Lula e seus aliados reclamam principalmente do uso político que tucanos e democratas fazem do julgamento do mensalão neste momento de eleição municipal. Bem, o fato é que os próprios petistas são, em boa parte, responsáveis pelo julgamento estar acontecendo apenas agora, durante a campanha eleitoral.

Dependesse da vontade do presidente do STF, Carlos Ayres Britto, o mensalão teria começado a ser apreciado pelo tribunal em maio. No máximo até meados de julho estaria tudo finalizado. Ou seja, quando a campanha realmente começasse, o julgamento já estaria finalizado. E não haveria a coincidência de datas.

Só que o PT não queria, na verdade, que o julgamento ocorresse neste ano. Preferia que fosse no próximo ano, quando boa parte das penas estaria prescrita. Além disso, não seria possível fazer o uso político do tema na disputa municipal.

Diante desta estratégia, o PT pressionou um bocado nos bastidores para que o ministro Ricardo Lewandowski não apresentasse seu relatório de revisão do caso. Sem ele, o julgamento não poderia começar. Só que o ministro, indicado por Lula, sentiu que não seria apropriado fazer esse jogo. Demorou para finalizar seu trabalho, mas entregou seu relatório no final de junho, abrindo a possibilidade para o julgamento começar em agosto.

Se o PT tivesse adotado outra estratégia e defendido que Lewandowski apresentasse seu relatório o mais rápido possível, talvez agora todos estivessem somente de olho na eleição municipal. Petistas vão dizer que a oposição iria explorar o tema de qualquer jeito, colocando nas propagandas eleitorais a lista de petistas condenados. Bem, aí, com o fato consumado, o partido poderia muito bem, também, tentar levantar a tese de que o julgamento foi mais político do que técnico. E embaralhar o jogo.

Agora, durante o desenrolar do julgamento, o PT ficará sempre na defensiva. E terá de assistir sua ex-cúpula (José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino) ser julgada na véspera da eleição municipal. Por sinal, outra coincidência que pode ser debitada na conta do partido. Afinal, os advogados dos petistas trabalharam para atrasar o julgamento. Queriam o ministro Cezar Peluso fora do caso, considerado por eles um voto contra certo. Conseguiram. Ele não vai participar de boa parte do julgamento. Só que, com o atraso, o núcleo político do mensalão ficará sob julgamento no momento derradeiro do primeiro turno das eleições municipais.

O fato é que o PT, por sua obra e arte, está colhendo os prejuízos lançados e criados desde que o mensalão foi forjado. Agora, não adianta espernear. Aos petistas resta tentar virar o jogo da eleição nesta reta final. Tarefa que, até aqui, tem se mostrado quase impossível. Mas como o PT é bom de chegada, melhor aguardar e conferir.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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