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valdo cruz

 

20/11/2012 - 03h00

Dilma, mensalão e a ambiguidade

Não sei se fiz a leitura correta, principalmente em se tratando da presidente Dilma Rousseff, que costuma ser direta em suas falas, mas às vezes não deixa de mandar seus recados de forma ambígua. Exatamente para que sua mensagem tenha dois endereços certos, encaixando num e noutro interlocutor envolvido em mesmo tema.

Diria que poderíamos enquadrar nessa faixa de ambiguidade o comentário da presidente Dilma sobre o julgamento do mensalão, feito em entrevista ao jornal espanhol "El País".

O que disse a presidente: "Acato as sentenças do Supremo Tribunal Federal e não as discuto. O que não significa que alguém neste mundo de Deus esteja acima dos erros e das paixões humanas". Não vejo nada de ambíguo na primeira parte de sua declaração. Segue o estilo presidencial de respeitar outros Poderes, mesmo não concordando com suas decisões. Algo na linha de desejar que os demais também respeitem suas posições.

Quanto à segunda parte do comentário, já neste enxergo certo grau de ambiguidade presidencial. Diria até que, posso estar enganado, de forma calculada, antecipada, elaborada para enviar dois recados numa mesma assertiva. Buscando passar sua impressão sobre o tema e mostrando aos dois lados sua posição.

Resumindo: a presidente quis dizer que respeita a decisão do STF, mas não concorda totalmente com ela, entendendo que alguns ministros do STF cometeram equívocos em seus votos e, determinados, agiram movidos muito mais pelo coração do que pela técnica da lei. Esse, com certeza, foi seu principal objetivo.

Agora, ao mesmo tempo, seu comentário pode também ser entendido como um recado de leve a seu partido, lembrando que erros foram cometidos no passado e, agora, é preciso enfrentá-los. Uma depuração necessária.

Certamente a presidente considera que o preço que está sendo cobrado de seus colegas petistas, pelos erros cometidos, é exagerado. Mas sabe muito bem que os caminhos equivocados de um passado recente não devem ser repetidos.

Enfim, repito, posso estar equivocado, mas acredito que a frase da presidente tem a ambiguidade calculada para atingir dois objetivos. Um primeiro, bem explícito. Outro, nem tanto.

Agora, um detalhe a acrescentar. Dilma buscou emitir seu primeiro comentário sobre o julgamento do mensalão numa entrevista a um jornal estrangeiro, o espanhol "El País". Algo também feito de forma calculada, com certeza, já que o espaço para questionamentos seria menor, dado que o jornalista não está tão familiarizado com o tema. Fosse numa entrevista a jornalistas brasileiros, com certeza o tema seria muito mais explorado e a ambiguidade presidencial seria questionada. Até para sabermos se existe ambiguidade ou não.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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