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valdo cruz

 

04/12/2012 - 03h00

Porto Seguro e seus pontos obscuros

A Operação Porto Seguro revelou um esquema de venda de pareceres fraudulentos a empresários, mais um serviço prestado ao país pela Polícia Federal na busca de combater quadrilhas corruptas incrustadas no serviço público. Alguns pontos obscuros, porém, carecem de explicações. Não só por algumas autoridades envolvidas direta ou indiretamente no escândalo, mas também pela própria Polícia Federal.

Fiquemos, no entanto, em apenas dois pontos que merecem elucidação. O primeiro da parte do ex-presidente Lula. Não há nada, pelo menos até aqui, que possa ser dito que o envolva diretamente com o esquema. Tudo indica, pelo que foi apurado, que ele não tinha qualquer participação nas operações da quadrilha. Era uma turma envolvida com funcionários de segundo e terceiro escalão, um esquema quase de mequetrefes, apesar de ter rendido muita grana a seus operadores.

O esquema não teria existido, contudo, sem a ajuda do ex-presidente na sua origem. Qual seja? A indicação de pessoas sem a qualificação devida para os cargos pelo petista quando ocupava o Palácio do Planalto. É o caso dos irmãos Paulo e Rubens Vieira para diretorias de agências reguladoras e de Rosemary Nóvoa Noronha para comandar o escritório da Presidência em São Paulo. Os três foram parar nos seus cargos por obra de Lula.

Isso não significa que ele os colocou ali de caso pensado, para fazer seus esquemas. Foi um favor político e pessoal a alguém com quem tinha uma relação muito próxima, uma relação que extrapola as profissionais e têm, sempre, potencial para gerar, no mínimo, grandes dores de cabeça.

Dito isso, e sendo de fato apenas isso, o ex-presidente deveria vir a público esclarecer os pontos obscuros que surgiram quando a PF acabou indiciando Rose, como é conhecida a ex-chefe do escritório presidencial em São Paulo. Às vezes, expor-se, num caso como esse, é de fato complicado. Mas é isso que se espera de um homem público, enfrentar os fatos e esclarecê-los publicamente.

Lula precisa reconhecer que, no mínimo, errou gravemente ao indicar pessoas sem a qualificação exigida e recomendada para cargos que administram tantos interesses privados como os das agências de aviação civil e de águas. Ele não pode nem alegar que desconhecia a falta de qualificação dos indicados, pois foi alertado por ministros.

Talvez precise reconhecer ainda que confiou demais em Rose e não adotou medidas devidas em relação a seu comportamento. Afinal, a funcionária usava e abusava do nome do ex-presidente para conseguir favores dentro do governo, como mostra a operação da PF. Difícil imaginar que ninguém tenha alertado o ex-presidente da desenvoltura com que agia Rose na condição de chefe do escritório da Presidência em São Paulo.

O segundo ponto obscuro que me intriga é sobre a operação da PF. Antes de prosseguir, é preciso repetir que a instituição prestou um belo serviço ao país e tocou num grande vespeiro. Só fico a pensar porque a PF não pediu a quebra do sigilo telefônico de Rose, depois de interceptar ligações em que ela aparecia falando sobre casos para lá de suspeitos com os ex-diretores de agências indicados por ela mesma. O conteúdo das conversas recomendava tal procedimento. A PF diz, porém, não ter quebrado o sigilo telefônico de Rose. Divulgou tal informação para negar o rumor de que a Operação Porto Seguro havia grampeado mais de cem ligações entre ela e o ex-presidente.

O fato é que, se realmente não grampeou Rose, pode ter adotado tal decisão por receios de chegar a pessoas influentes e importantes demais. Ou seguiu ordens. Ou errou feio e deveria admitir pelo menos isso. Pode também ter grampeado e essas gravações talvez nunca venham a público. Enfim, trata-se de um ponto obscuro.

Ponto, contudo, que não tira o mérito da Operação Porto Seguro. Afinal, ela desmantelou um esquema com ramificações dentro de um escritório da Presidência. Não é pouca coisa. Pelo contrário. Mas que fica a curiosidade em saber por que não grampearam Rose, isso fica.

valdo cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às segundas-feiras.

 

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