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vinicius torres freire

 

09/10/2012 - 03h00

Do que você está falando?

A GENTE QUE ainda se ocupa de política passou a campanha a discutir a resistível ascensão do "prefeito dos consumidores", Celso Russomano. Russomano não foi prefeito, não era dos "eleitores-consumidores" e, se acaso deles fosse, seria minoritário.

O grande debate da eleição da maior cidade do continente era vazio, conversa fiada. Russomano parecia um fenômeno, de fato. Mas a discussão sobre o assunto era fenomenalmente ruim. E obsessiva.

É mais fácil, ou divertido, ou até aparentemente esperto, inventar sociologices descasadas de fatos do que discutir, por exemplo, o que fazer do lixo em Sâo Paulo.

O lixo leva um pedação do orçamento da cidade. As concorrências cheiram mal como a atividade-fim. O tratamento do assunto é tecnológica e ambientalmente primitivo numa cidade que conta com a "melhor universidade da América Latina", em tese a USP.

Não discutimos como os pobres podem morar melhor e mais perto -no centro velho, por exemplo. Mal se falou, substantivamente, do projeto Cracolândia. Até Buenos Aires conseguiu renovar uma zona degradada da cidade. Eles não têm mais dinheiro ou expertise do que nós.

Não discutimos se metrô é mesmo a melhor solução para a cidade -custa caro e demora. Fazer mais corredor de ônibus ou trem é melhor? Tem entendido do assunto que acha que sim.

Não discutimos como criar oportunidades para renovar os setores produtivos da cidade. Por que São Paulo não tem um parque tecnológico na área de produtos para a saúde, medicina, hospitais, se é um centro de hospitais bons, um dos maiores do mundo?

Muita gente imagina que propor questões críticas aos candidatos é perguntar "quanto custa o seu projeto". Como o orçamento é todo engessado, a pergunta em geral é ingênua. Há pouco dinheiro livre, há pouca possibilidade de alterar fatias significativas do orçamento.

Há pouco espaço para gastar, ponto. Logo, tanto faz quanto custa. É bom dizer logo que o candidato é cascateiro quando propõe projetos enormes. Mais interessante seria perguntar: quanto não custaria? Isto é, como reduzir o gasto atual da prefeitura a fim de investir em atividades novas ou suprir necessidades graves, como a de posto de saúde e hospital.

Mais interessante seria perguntar o que prefeitura pode inventar a fim de permitir que o setor privado (lucrativo ou não) resolva problemas e aumente a renda na cidade.

Que empresas diferentes podem ir para São Paulo? Que projetos interessantes de reforma urbana podem atrair o dinheiro de empresários e não expulsar os pobres para o quinto dos infernos?

A gente não falou de escola. Nada. Por que os resultados de São Paulo (Estado e cidade) são tão ruins? Mudar a tecnologia de ensino custa pouco, em termos de dinheiro.

Educação não rende aquelas perguntas "quanto custa o seu projeto". É difícil de discutir. Exige atenção a detalhes: que livros as crianças vão usar? Vai haver diretrizes rígidas para cada aula? Educação é outro assunto. Não é a mesma coisa que infraestrutura escolar (número de prédios etc). A gente no Brasil não gosta de discutir educação, morre de tédio.
Do que a gente está falando?

vinit@uol.com.br

vinicius torres freire

Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência', 'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos

 

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