Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/08/2013 - 14h05

Cineasta Werner Herzog é homenageado no Festival de Locarno

JOCHEN KÜRTEN
DA DEUTSCHE WELLE

"Werner Herzog é roteirista e produtor, mas, acima de tudo, um dos grandes diretores do cinema mundial, cinema que encontra sua morada no Festival de Locarno". De acordo com Carlo Chatrian, novo direto artístico do maior festival da Suíça, é uma honra poder conceder o prêmio a Herzog. O Festival de Locarno, que será realizado entre 7 e 17 de agosto, sempre manteve o foco em filmes artísticos e independentes. E o prêmio para o conjunto da obra de um artista que nunca se adaptou a convenções acaba sendo mais do que apropriado.

O cineasta bávaro ganhou, nos últimos anos, uma posição de prestígio em Hollywood. Com exceção de Roland Emmerich, que realiza projetos mais comerciais, Herzog é provavelmente o mais conhecido diretor alemão nos Estados Unidos. Ele trabalhou com nomes como Eva Mendes, Nicolas Cage, Willem Dafoe e Christian Bale. Mas como Herzog se envolveu em projetos de milhões de dólares sem ter de se curvar ao tradicional sistema da indústria cinematográfica americana ainda é um mistério.

De alguma forma, porém, esse sucesso se encaixa em uma carreira pavimentada por surpresas. Ao lado de Wim Wenders, Herzog foi um dos mais conhecidos diretores da geração, que, nos anos 1960, revitalizou o cinema alemão. No entanto, ele era um individualista, que não pertencia a grupo algum. Herzog sempre foi mais que um cineasta.

IMPRESSÕES DA GUERRA

Ainda hoje, Werner Herzog diz que as experiências de sua infância afetaram mais significativamente sua arte do que o cinema. As bombas que atingiram e queimaram a cidade de Rosenheim impressionaram profundamente o cineasta quando criança. Ele só viria a ter contato de fato com o cinema já na adolescência.

Herzog é um autodidata, que começou com curtas-metragens e realizou seu primeiro filme ainda muito jovem. "Lebenszeichen" (sinais da vida", 1968) conta a história de três soldados alemães em uma ilha grega, já apontando temas típicos da filmografia do cineasta. Pessoas em situações extremas, a proximidade dos protagonistas com a loucura, a influência da natureza nas figuras da constelação da alma. Um exemplo marcante do seu estilo é a adaptação "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974).

Bruno Girão/Divulgação
O cineasta Werner Herzog no festival 4 + 1, no Rio, em novembro de 2012
O cineasta Werner Herzog no festival 4 + 1, no Rio, em novembro de 2012

O diretor também é conhecido por sua parceria com o excêntrico Klaus Kinski. O ator foi protagonista de cinco de seus filmes, entre eles a saga vampírica "Nosferatu" e a adaptação de "Woyzeck", de Georg Büchner. Com Kinski, ele viajou para a América do Sul e realizou" Aguirre, a Cólera dos Deuses" e "Fitzcarraldo", em que contou histórias de soldados e conquistadores agindo à beira da loucura colonialista.

Os relatos pitorescos de suas filmagens eram igualmente legendários. Não apenas as violentas brigas com Klaus Kinski, mas também os constantes acidentes e atrasos em sets milionários estimulavam a imaginação de público e crítica. Em Fitzcarraldo, por exemplo, ele reconstruiu um navio histórico, que foi literalmente carregado pela equipe para o topo de uma montanha. Herzog nunca foi um homem de estúdio, mas um cineasta que buscava a experiência e vivência completa do universo de suas locações.

UM FILME POR ANO

Após a morte de Kinski, Herzog ficou algum tempo em silêncio. Na Alemanha, o interesse por seu trabalho diminuiu, e ele se distanciou mais ainda do público, ficando alguns anos sem filmar para se dedicar à encenação de óperas. Nos anos 1990, por outro lado, fez quase um filme por ano, a maioria documentários sobre paisagens ou personagens bizarros. Herzog sempre teve o talento para observar eventos à margem da sociedade e do mundo civilizado.

As obras desse período se tornaram clássicos de um estilo "realista" de documentário. Filmes como "Sinos do Abismo: Fé e Superstição na Rússia", "Ecos de um Império Sombrio" e "Lições da Escuridão" levaram Herzog e sua câmera ao redor do mundo para filmar debaixo da terra, em cavernas, sob o gelo, na queima de campos de petróleo no deserto ou nas montanhas. Ele abriu novas janelas e perspectivas sobre pessoas e o mundo em que vivemos.

Tão surpreendente quanto sua facilidade em transitar entre diferentes estilos e gêneros foi a forma como Herzog conseguiu trabalhar em Hollywood. Ninguém esperava que o cineasta, conhecido por seu temperamento e individualidade, conseguiria realizar filmes na comercial cena americana. Apesar de suas produções terem sido realizadas fora de grandes estúdios, tinham orçamentos de milhões de dólares e contavam com grandes nomes de Hollywood.

Herzog dificilmente pensou ser possível encontrar equilíbrio trabalhando em Hollywood. Ele produziu entretenimento clássico com um toque pessoal, como em "Vício Frenético", e chocantes documentários abordando temas difíceis, como em "On Death Row" (no corredor da morte). A grandeza e a contradição de Werner Herzog convenceram o Festival de Locarno de que um grande diretor que persistentemente trabalha e renova sua visão artística é digno de receber o Leopardo de Honra.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página