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12/08/2011 - 14h09

Regime sírio se isola cada vez mais na região

DA DEUTSCHE WELLE, NA ALEMANHA

A Síria vem se isolando cada vez mais e perdendo o apoio de tradicionais aliados. O governo da Turquia, até pouco tempo dos mais próximos de Damasco, vem se distanciando do ditador Bashar al-Assad.

Uma reunião na capital da Síria entre o chefe de governo do país e o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmed Davutoglu, não alcançou resultados.

Assad rejeitou os apelos turcos para conter a violência contra manifestantes, afirmando que não vai parar de "perseguir grupos terroristas", segundo informou a agência de notícias estatal síria Sana.

Davutoglu apelou para que Assad não use mais as Forças Armadas contra seus próprios cidadãos e deixou claro que sua atual política de opressão põe em risco as relações com Ancara.

Em uma entrevista coletiva na capital da Turquia, o primeiro-ministro do país, Recep Tayyp Erdogan, afirmou que Damasco tem agora 15 dias para encaminhar "verdadeiras reformas". Ele classificou a retirada das tropas de Hama como um "sinal de que nossa iniciativa está dando frutos".

TENSÃO PODE LEVAR A CONFLITO COM TURQUIA

O think tank Orsam, sediado em Ancara, advertiu que a tensão crescente entre Turquia e Síria pode levar a um conflito entre os países. "Pela primeira vez, a Turquia está dizendo claramente a Assad que ele deve abandonar o poder através de um processo democrático e pacífico. Assad, por outro lado, se recusa a renunciar e, em vez disso, decidiu desafiar as iniciativas da Turquia", afirmou Veysel Ayhan, professor associado da entidade.

"Prevemos que depois da reunião entre Assad e Davutoglu as tensões em curso entre Turquia e Síria irão evoluir para um conflito. Isto teria várias dimensões. De sanções econômicas a uma intervenção militar", concluiu.

A Turquia vinha sendo um dos maiores aliados da Síria na região. Nos últimos anos, Ancara havia investido fortemente nas relações políticas, econômicas e de segurança com seu vizinho, e os dois países estavam até falando em um modelo de integração econômica para a região.

No entanto, a sangrenta repressão do regime aos protestos contra o governo sírio pesou sobre as relações bilaterais.O primeiro-ministro turco advertiu semana passada que Ancara está "perdendo a paciência" com os acontecimentos na Síria. Ele disse também que, para a Turquia, o problema dos direitos civis na Síria não é tido como um assunto de política externa, mas como uma questão doméstica.

ÁRABES TAMBÉM CRITICAM ASSAD

Os países vizinhos da Síria também estão reforçando a lista de críticos. Arábia Saudita, Kuwait e Bahrain chamaram seus embaixadores em Damasco para consultas.

O rei saudita Abdullah anunciou que a violenta repressão aos protestos viola valores morais e religiosos. Ele pediu reformas rápidas e amplas na Síria. Estas palavras vindas de Riad surpreendem pela clareza, segundo Abdulkhaleq Abdulla, professor de ciência política na Universidade dos Emirados Árabes Unidos.

"A iniciativa saudita mostra que o regime na Síria começou a perder muitos de seus amigos importantes no nível árabe, regional e internacional. E agora a Arábia Saudita se junta à lista e bate na mesma tecla, afirmando que o regime sírio não está lidando com esta crise corretamente", disse Abdulla.

"O uso da violência contra o povo, e isso durante o Ramadã, é assustador e não podemos permanecer em silêncio por muito mais tempo."

A revolução árabe tem abalado muitos países da região. O reino saudita até agora não tomou uma posição clara. A Arábia Saudita ajudou a esmagar o levante em Bahrein.

Os sauditas se ausentaram completamente em relação a Líbia, Tunísia e Egito. Mas, aparentemente, a Arábia Saudita está agora planejando uma reviravolta", afirmou o especialista em Oriente Médio Michael Lüders.

"A Arábia Saudita quer ter uma imagem progressista e critica Bashar al-Assad, merecidamente, mas contrariamente a seu próprio interesse", ressaltou Lüders. "Por um lado, ela quer criar uma imagem melhor de si mesmo no mundo árabe. Por outro lado, a Síria é um aliado próximo do Irã. E o Irã e a Arábia Saudita são, como todos sabem, arqui-inimigos".

CRÍTICA SAUDITA PODE INFLUENCIAR ELITES SÍRIAS

A batalha entre o Irã e Arábia Saudita pela liderança no Oriente Médio começou muito antes da chamada Primavera Árabe. Mas agora o rei Abdullah pode estar vendo uma oportunidade na Síria. T

radicionalmente, os maiores contrastes da região se reúnem neste país, mais do que em qualquer outro lugar.A secular Síria é hoje um parceiro leal da teocracia xiita do Irã.

Uma Síria pós-Assad, que é membro do ramo alauita dos xiitas, seria mais provavelmente liderada por sunitas, assim como a dinastia que governa a Arábia Saudita.

O que, segundo muitos especialistas, seria do interesse do rei Abdullah."Mas a crítica saudita também é significativa na medida em que envia um sinal claro à elite na Síria", disse Ayham Kamel, analista do Eurasia Group em Washington.

De acordo com ele, os governos do Golfo até agora forneceram a Assad certo apoio diplomático ao permanecerem em grande parte em silêncio."Ao passarem a condenar o regime, eles enviam um sinal às elites políticas e econômicas da Síria, especialmente aos sunitas, de que devem reconsiderar sua fidelidade a Assad", disse Kamel à agência de notícias Bloomberg.

CAMINHO ARRISCADO

Ao pedir reformas na Síria, no entanto, o rei saudita escolhe um caminho arriscado. Afinal de contas, ele mesmo rejeita qualquer mudança em sua monarquia absolutista."Na Arábia Saudita, não houve até agora uma demanda significativa por abertura política e democracia", observou Lüders.

"Mas, mesmo assim, a liderança saudita baixou leis mais severas em abril. Desde então, críticas aos governantes, à sharia islâmica e à ordem do país são sujeitas a penalidades adicionais. O rei Abdullah tem que ter cuidado para que seu apelo por reformas na Síria não seja ouvido pelo povo da Arábia Saudita", completou.

O Ocidente, em especial os Estados Unidos, saudou a resposta clara por parte dos sauditas. O peso-pesado político e econômico no mundo árabe mostrou o cartão vermelho ao presidente da Síria.

APOIO FINANCEIRO

"E, sem apoio financeiro, a Síria não pode pagar suas contas", avaliou Lüders. A economia do país está à beira da falência e precisa desesperadamente de apoio dos sauditas. A Arábia Saudita tem, portanto, muitas possibilidades de colocar pressão sobre a Síria usando esta dependência financeira.

No entanto, Rami Khouri, diretor do Instituto Issam Fares de Política Pública e Assuntos Internacionais da Universidade Americana de Beirute, previu que a pressão internacional não terá um impacto imediato sobre a Síria, mas vai levar tempo.

A pressão vai vir de dentro, à medida que a Síria se tornar mais e mais isolada no cenário internacional, acrescentou. Assad, então, não terá outra opção se não buscar uma saída.

"Quando eles estiverem completamente isolados, sem ninguém no mundo que os apoie a não ser os iranianos, então eles têm um problema real e serão obrigados a encontrar uma solução política", disse Khouri à agência de notícias AFP. "Mas aí pode ser tarde demais."

 

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