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Cláudia Cotes

Quem é ele?

Cláudia Cotes, 41 anos, Fonoaudióloga, escritora e professora, Casada, dois filhos, Nasceu e mora em São Paulo.

Fundou a Vez da Voz, que promove a inclusão social de pessoas com deficiência por meio da comunicação

Inovação: É mentora do Telelibras, primeiro telejornal inclusivo e gratuito da internet, no qual trabalham e se misturam em situação de igualdade deficientes (cadeirantes, cegos, surdos, quem tem síndrome de Down) e não deficientes

Impacto social: O site tem 18 mil acessos mensais; na ONG, dez deficientes são remunerados por seus trabalhos

Sustentabilidade: A ONG vende serviços (apresentações artísticas, cursos, livros, palestras e vídeos) e fez parceria com empresa e governo estadual

Alcance: As palestras, cursos e espetáculos se concentram principalmente em São Paulo e em Campinas, mas, via internet, o projeto atinge todo o país e, que se saiba, localidades como universidades no Chile e na Alemanha

www.vezdavoz.com.br

Mídia acessível

Fonoaudióloga supera deficiências da comunicação com TV inclusiva

BRUNA MARTINS FONTES
da Folha de S.Paulo

O tempo não para a irrequieta Cláudia Cotes. Dificuldades, tampouco. "Quando acho as coisas fáceis, vou buscar desafios. Dava aula de manhã, fazia fonoaudiologia à tarde e letras à noite", completa a também mestra, doutora, fonoaudióloga, escritora, mãe de dois e coração do projeto Vez da Voz.

O dia a dia agitado vem da infância, quando pegou o costume de almoçar no carro para acompanhar à escola o irmão, Paulo, que nasceu com síndrome de Down. "A rotina com um deficiente é imprevisível, tem que batalhar todo dia", conta.

Esse espírito brigador, segreda Cláudia, é herança de pais e irmãos guerreiros. Com Paulo, reforçou o traço da personalidade solidária e movida a trocas. "O que um Down sente, logo fala. Essa energia que entra em mim e já sai me dá forças."

As limitações e os preconceitos impostos a ele e à família a fizeram pensar: por que o mundo de Paulo não poderia ser o dela? Nascia aí a ideia de expandir as fronteiras da comunicação e aproximar realidades.

Em um dia de 2004, falou por telefone com o irmão, que a agradeceu por um presente. Horas mais tarde, ele morreu. As palavras, porém, ficaram rondando. "A última frase que ele me disse foi 'obrigado'. Tentei entender por quê", lembra.

O sentido só veio pela intuição, a que Cláudia sempre ouve, grave, para sentir o que vai expressar. "Foi quando decidi fundar a Vez da Voz, para mostrar que a pessoa com deficiência precisa ter voz e vez", diz.

O canal para essa visibilidade foi o telejornalismo, familiar à fonoaudióloga especializada em treinar repórteres de TV.

Assim foi ao ar o Telelibras, um telejornal para quem não vê, não ouve ou tem dificuldades de compreensão.

Lá, os deficientes protagonizam a produção apresentando e interpretando conteúdo com recursos como a audiodescrição e a Libras (Língua Brasileira de Sinais), com intérpretes em tamanho real na tela, e não reduzidos a um quadradinho.

Mãezona, mas diferente

E ela comanda a turma com contornos de mãezona: de olho em tudo, ensina, cobra, cuida. Mas avisa: "Não vou dar de mamar a ninguém. A mãe que superprotege e não deixa crescer é o que eu não quero ser".

As muitas trocas no convívio com deficiências aguçaram seus sentidos e deixaram fluir a inspiração já latente na adolescência, época em que gostava de poesia e queria ser escritora.

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"No projeto, comecei a respeitar essa arte dentro de mim", conta. Autora de dez livros para crianças com deficiências ou doenças, quer cultivar o simbólico e a fantasia no fechado mundo de deficientes.

"O surdo não tem esse universo de sonho. É um mundo bem sombrio, porque falta o lúdico. Numa sala de surdos com uma média de 12 anos, eles não sabiam o que era a Chapeuzinho Vermelho", lembra.

Poucas coisas, como escrever para crianças com Aids e câncer, a fazem parar um instante, mas não para dar meia-volta. "Não tenho medo de desafio, tenho respeito. Penso que não veio por acaso: posso trabalhar algo em mim e transformar."

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CONHEÇA MAIS SOBRE A VEZ DA VOZ

A informação como ferramenta de inclusão

A motivação por trás da Vez da Voz fica ainda mais clara a partir do ponto de vista de Cláudia Cotes da inclusão de portadores de deficiência na sociedade.

Na visão da empreendedora social, existem banheiros adaptados para cadeirantes, materiais em braile e pisos táteis para cegos e assessorias nas escolas públicas para a inclusão de pessoas com deficiência intelectual. Tudo isso permitindo que eles, aos poucos, deixem suas casas e passem a fazer parte do mundo corporativo, por meio da lei de cotas.

Contudo, são os surdos os que menos obtiveram conquistas sociais. "Provavelmente porque a maior dificuldade seja a comunicação. Até o momento, os surdos não conseguiram se fazer entender", diz.

Segundo ela, a situação dos portadores de deficiência auditiva é grave devido à ausência de modelos de mídia que se adaptem às suas necessidades. Em primeiro lugar, como a maioria dos surdos brasileiros não é oralizada, não compreende o português.

Além disso, são raras as produções jornalísticas em datilologia (alfabeto manual usado pelos surdos), as legendas em "closed caption", quando existem, são em português, contém erros ou são rápidas demais. Quando são disponibilizados programas com intérpretes em libras, as janelas estão em formato inadequado -são pequenas e não permitem a leitura das expressões faciais, essencial para o entendimento acurado da informação.

Com isso em mente, Claudia fundou a Vez da Voz, que, pela internet, disponibiliza programas com intérpretes de libras e audiodescrições, que são baixados gratuitamente, entre outros conteúdos

A divulgação acontece em sites parceiros, como o da Prefeitura de São Paulo, o do Portal Mara Gabrilli e o do Programa Ressoar/Record. Na TV, são veiculados aos sábados, às 7h30, no canal Século 21.

Desde sua fundação, em 2004, mais de 300 vídeos, 15 clipes musicais, dez livros e 20 atividades educativas, todos inclusivos, foram disponibilizados gratuitamente na internet. O site, que teve início com 3.000 acessos mensais, hoje conta com 18 mil visitas por mês.

No caso dos vídeos, as externas são filmadas em geral pela empreendedora social. De alto custo, os materiais digitais são comprados com o dinheiro de seus direitos autorais dos livros infantis, com temas sobre a inclusão.

O estúdio é improvisado em seu consultório de fonoaudiologia, em Campinas, e as reuniões de pauta acontecem no apartamento de sua sogra, uma vez que a sede, em negociação com a prefeitura paulistana, só existe no papel.

Com a clara missão de tornar a mídia acessível a todos e incluir de fato na sociedade as pessoas com deficiência, a ONG atua de forma diversificada:

  • produz material educativo/cultural e inclusivo para pessoas com deficiências ou em situação de vulnerabilidade social, tais como livros, músicas, vídeos e filmes, disponibilizando-os gratuitamente na internet;
  • promove campanhas, treinamentos empresariais, eventos, debates, seminários e palestras sobre a importância de uma sociedade inclusiva e as mais diversas formas de inclusão;
  • elabora oficinas lúdicas e educativas de comunicação, integrando crianças, jovens e adultos com e sem deficiências;
  • participa da criação de leis e normas em prol dos direitos dos deficientes, influenciando políticas públicas;
  • prospecta convênios e parcerias com entidades públicas e privadas, nacionais ou estrangeiras, visando a ampliação de sua atuação.

Veja os principais projetos da Vez da Voz

Telelibras

No primeiro telejornal inclusivo da internet brasileira, jornalistas sem deficiência e de diferentes raças se misturam a pessoas com deficiência (Down, surdo, cego, cadeirante), sempre com um intérprete de libras ao lado ("sem janelinhas no canto da tela"). Juntos, informam sobre assuntos que acontecem no Brasil e no mundo, além de darem dicas de cultura e lazer e de como eles querem ser tratados. Voltados para surdos, pessoas com deficiência, interessados em aprender libras e profissionais da área de inclusão, os vídeos são semanais e somam mais de 150 produções em dois anos de existência. São veiculados também em sites da área de responsabilidade social e em dois canais de TV. A equipe que produz o telejornal é composta por jornalistas, fonoaudióloga, apresentadores, intérpretes de libras, repórteres com deficiência, cinegrafista e editor

Telelibrinhas

Telejornal inclusivo com "diquinhas" infantis voltados para o público infantojuvenil

Música no Silêncio

O projeto produz vídeos musicais (de dois a três por mês) para download gratuito na internet com cantores cegos, bailarina com Down e intérpretes de libras, além de trazer números de canto e dança em feiras, universidades e empresas

Praticamos a Inclusão

Pessoas com deficiência dão palestras em empresas, escolas e universidades e ensinam como querem ser tratados. Um contador de história com síndrome de Down (o "contaDown") também participa dos eventos, que visam a criação de uma sociedade inclusiva que permita à pessoa com deficiência ter acesso a serviços simples, como fazer compras, ir ao banco, fazer refeições ou obter informações sem depender de terceiros

Produção de materiais educativos

Vídeos (gratuitos para download), CDs, DVDs, livros com braile e libras, além de atividades educativas e artísticas para professores são desenvolvidos por este projeto

Os deficientes como agentes de sua própria causa

Inserir o portador de deficiência de forma atuante, protagonista e proativa é o principal mote do trabalho desenvolvido pela Vez da Voz.

Ao contrário de muitas organizações que se especializam em um só tipo de deficiência e, assim, de certa forma isolam os beneficiários, a Vez da Voz investe na diversidade para a inclusão.

Quando não estão lado a lado apresentando programas, são os deficientes que ensinam aos não deficientes o que é, de fato, uma ação inclusiva -outro diferencial em relação às entidades tradicionais do setor, que raramente são representadas por quem é a razão de sua existência.

Com o objetivo de atingir um número cada vez maior de telespectadores, sobretudo os com deficiência -mas não exclusivamente-, a entidade tem na internet o canal principal de comunicação.

Os conteúdos educativos, artísticos e culturais disponibilizados no site apresentam modelos inéditos e pioneiros de acessibilidade da informação: intérpretes na tela principal e assessorados por surdos, legendas dispostas de forma adequada, apresentadores com ou sem deficiências lado a lado e audiodescrição de imagens para cegos (em fase de testes).

Por fim, a mudança na prática tradicional de comunicação acontece por duas vertentes, segundo a empreendedora social: impactar a mídia, mostrando que ela precisa ser inclusiva e democrática, e praticar a solidariedade, disponibilizando gratuitamente todo o conteúdo do site, prática adotada desde o início de seus trabalhos.

A visão de uma das beneficiárias do projeto

"Por obra do destino ou por puro acaso, recebi um e-mail com informativo da Vez da Voz sobre o projeto Música no Silêncio, de artistas com deficiência visual que cantavam com o intérprete ao lado para quem não podia ouvir.

Meu pai sempre compôs canções e tocou violão, teclado. Cresci num ambiente muito rico em música. Aos 13 anos, comecei a cantar em festivais.

Ao mesmo tempo, sempre estive envolvida na causa da inclusão e da acessibilidade, que ainda se dá de forma muito segmentada. Por exemplo, a associação com deficientes visuais luta só pelos cegos, assim como a de deficientes auditivos visa aos surdos.

No meu caso, estava mais ligada à causa de pessoas cegas ou de baixa visão, mas não me sentia completa, tão útil, pois sempre fui apaixonada pela diversidade, queria esse convívio com pessoas diferentes.

Já tinha tido a experiência de viajar com uma pessoa surda e uma cadeirante, tinha visto como era rica essa situação e como me completava.

É uma expressão muito clara da diversidade humana, pois acredito que deficientes não são mais diferentes do que as outras pessoas, só há uma coisa mais evidente neles.

Foi assim que escrevi para a Cláudia. Hoje estou na Vez da Voz há dois anos. Sou cantora e sempre há um intérprete ao meu lado, para quem não pode ouvir. As pessoas costumam gostar muito.

Bastante trabalho ainda precisa ser feito para que a inclusão das pessoas com deficiência se torne realidade. Eu, por exemplo, tive muita dificuldade de fazer uma faculdade de jornalismo. Só consegui ir bem em português e fotografia, pois os professores não me excluíam.

Quando entrei no curso, ficou acordado que, em dia de prova, os docentes levariam o exame num disquete em fonte maior, pois, naquela época, eu enxergava um pouco. Mas nunca lembravam disso. Num dia em que um deles levou o disquete, o laboratório estava fechado, tive de sair à procura de alguém para abrir, sem ajuda.

No último ano, tornou-se impossível fazer o trabalho de conclusão, já que não havia livros inclusivos e sempre dependia da minha mãe para as leituras.

Agora, no Telelibras, tenho a possibilidade de fazer jornalismo. Comecei gravando as externas e, há um ano, a Cláudia me chamou para fazer estúdio.

Tenho de pensar em frases simples para libras, cuidar da dicção, do gestual. Ou seja, sou a jornalista que a faculdade me negou ser.

Meu caminho principal está na arte, mas a comunicação é um complemento. É meu caminho, sei que tenho uma missão com isso.

Em todo esse processo, a Cláudia é uma grande professora para mim. É uma convivência muito rica.

Esse aprendizado melhora nossa convivência na vida -aprendemos a lidar com a diferença do outro, com os amigos, independentemente de serem deficientes ou de ser apenas um jeito de fazerem as coisas."

LETÍCIA MAGALHÃES DA GAMA, 27, a Sara Bentes, repórter cega e apresentadora do Telelibras

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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