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Rodrigo Castro

Quem é ele?

Rodrigo Castro, 40 anos, biólogo, casado, nasceu e mora em Fortaleza.

Fundou a Associação Caatinga, a Asa Branca e a Aliança da Caatinga, que trabalham para trazer um novo olhar para o semiárido brasileiro, preservando a flora e a fauna e fomentando o desenvolvimento sustentável do entorno das reservas particulares

Inovação: Criou a primeira RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) do país no bioma caatinga a elaborar e implementar um plano de manejo. É pioneiro também na implantação do Selo Município Verde, programa de certificação ambiental de municípios do Brasil reconhecido pelo Ministério do Meio Ambiente

Impacto social: Desde 1998, beneficiou mais de 50 mil pessoas que vivem nas proximidades das 50 reservas criadas em nove Estados do Nordeste e no norte de MG

Sustentabilidade: As organizações se sustentam por meio de fundo fiduciário, patrocínio de fundações e empresas, parcerias com o governo, doações e taxa de visitação nas reservas

Alcance: O trabalho se estendeu para o entorno da Reserva Natural Serra das Almas, que inclui 12 comunidades atendidas. A Asa Branca começou sua atuação no Ceará e depois alcançou o Maranhão e o Piauí. A Aliança da Caatinga, hoje, abrange todos os nove Estados do semiárido brasileiro, além do norte de Minas Gerais

www.acaatinga.org.br

Nova caatinga

Biólogo luta por visão diferente do semiárido, com integração dos sertanejos e criação de reservas

CÁSSIO AOQUI
da Folha de S.Paulo

Aos gritos de "vamos conseguir!" e "muito bem, equipe!", o biólogo Rodrigo Castro incentiva o inexperiente motorista a vencer uma ladeira escorregadia e cheia de buracos.

Mais que uma situação prosaica de um dia qualquer, a cena desvela traços marcantes da natureza desse catingueiro suíço com coração de brasileiro.

Entre eles, o de líder motivador, apaixonado pelo que faz e pertinaz como muito poucos.

"Acredito que a minha energia atrai ou repudia. E, se atrai, conecta; se conecta, conduz; se conduz, flui. E flui bem", prega.

Imbuído dessa força invisível, Rodrigo ganhou o mundo por 12 anos. Escolheu a biologia inspirado por dois professores e, com uma bolsa, partiu para Zurique (Suíça), sua terra natal.

Ao graduar-se, fixou-se no Brasil pelo curto tempo em que trabalhou no projeto Tamar, em Sergipe.

Lá, vivenciou pela primeira vez a conservação integrada à população local.

Era o oxigênio de que precisava para optar por aprofundar-se em desenvolvimento humano, tema de seu mestrado, realizado na Irlanda, e raiz do convite para coordenar um projeto social em Moçambique, onde viveu por quatro anos.

Indeciso entre permanecer na África ou retornar ao Brasil, atendeu ao chamado de um amigo e fez as malas rumo ao Ceará, sem saber que descobriria, ali, a sua grande paixão.

"Quando subi na chapada [do Apodi], me apaixonei pela energia e pela força daquele lugar. Com aquele visual, decidi recomeçar pela caatinga."

Recomeço que já dura dez anos, em que Rodrigo vem irrigando uma necessária transformação nesse esquecido bioma genuinamente brasileiro.

Como líder da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga, trabalha para construir conceitos diferenciados de preservação em nove Estados nordestinos e no norte de Minas Gerais.

Juntas, beneficiaram mais de 50 mil sertanejos por meio de educação ambiental, geração de trabalho, pesquisas científicas e incentivo ao ecoturismo.

Virada de 180º

Na luta para "inverter a referência de quem sempre vê o mar à sua frente", Rodrigo hoje peleja pela criação de RPPNs (Reserva Particular do Patrimônio Nacional).

"É preciso deixar de dar as costas para a caatinga, num movimento de 180º para enxergar o mundo que existe atrás do litoral."

O maior desafio dessa quebra de paradigmas é apagar o estigma de "êxodo, miséria, caveira de gado e açude rachado".

É mostrar a beleza, a criatividade, a força do homem que vive ali.

"Um novo olhar para a caatinga é o desafio permanente", ressalta Rodrigo, que se inspira na carnaúba, a "tamareira da caatinga", de que tudo se aproveita, ao descrever o bioma em que semeou sua missão de vida.

"Carnaúba significa árvore da vida. Ela tem o valor de ser útil, sustentável, perene, cheia de vida. E é bonita", metaforiza.

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CONHEÇA MAIS SOBRE A ASSOCIAÇÃO CAATINGA

Preservação ambiental com ousadia e sensibilidade

As associações Aliança da Caatinga, Asa Branca e Aliança da Caatinga trabalham para construir conceitos diferenciados na área da preservação ambiental.

Para isso, aliam inovação, conhecimento, ousadia e, sobretudo, sensibilidade para incluir e beneficiar o homem, principal espécie entre todas as biodiversidades do planeta.

A Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), por exemplo, já nasceu revolucionária.

Quando surgiu, em 2001, foi criada no formato RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), que para a época representava um modelo pouco conhecido para o país.

Outro aspecto importante diz respeito à escolha do bioma onde ela foi delimitada.

Em meio a tantos anos de devastação, êxodo rural, descrédito da sociedade, falta de políticas públicas e, principalmente, relutância dos sertanejos para abandonar antigas práticas, que fatalmente trazem destruição, a caatinga significou uma escolha ousada e extremamente desafiadora para seus administradores.

RPPN é a principal ferramenta de trabalho de Rodrigo Castro. A partir dela é desencadeada uma série de procedimentos e projetos.

Transformar uma terra em RPPN não significa que o proprietário perderá o domínio sobre ela. Ele permanecerá dono e não haverá desapropriação. O compromisso que ele tem é com a conservação.

Como são perpétuas e intocáveis quanto a qualquer tipo de exploração, as RPPNs embutem, seguramente, a preservação dos ecossistemas, mesmo que sejam vendidas.

Caso isso aconteça, a responsabilidade é transferida para os outros proprietários.

Essas reservas particulares são reconhecidas pelo poder público por meio do decreto 98.914, de 1990. A lei que regulamenta essa modalidade de conservação é a 9.985, e o órgão responsável é o Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservação).

Uma vez instituída, a RPPN só poderá ser utilizada para visitação turística, atividades contemplativas, recreativas, educacionais e pesquisa científica.

A Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) está situada na antiga zona de litígio entre o Ceará e o Piauí ou em "terras de ninguém", como define Ewerton Torres Melo, 30, gerente da unidade.

A reserva, que tem área de 6.146 hectares, parte definida, provisoriamente, em Buritis dos Montes (PI), e parte em Crateús (CE), é um exemplo de que é possível preservar a caatinga.

"Ao contrário do que se pensa, o entorno não representa uma ameaça à preservação das espécies, mas, sim, uma aliança. Não dá para resolver a questão ambiental sem inserir a comunidade. A reserva não é uma ilha isolada do bioma. Ela funciona como parque e está aberta como unidade de conservação, centro de pesquisas e alternativa de ecoturismo", diz Castro.

No âmbito da paisagem, a organização trabalha com plantios de árvores nativas da região para recompor áreas degradadas dentro e fora da reserva. Para isso, construiu cinco viveiros para produção de espécies do semiárido.

Só no projeto Carnaúba, por exemplo, foram produzidas 50 mil mudas da espécie, para serem distribuídas gratuitamente para reflorestamento da caatinga em vários municípios do Ceará, Maranhão e Piauí.

Em Crateús, cidade quente e quase sem árvores, a carnaúba tem sido plantada para "refrescar" e embelezar o município. Outros 14 mil tipos foram utilizados para reflorestamento da matas ciliares da bacia do Poty, rio que atravessa a Serra das Almas e abastece a região.

Uma das grandes ameaças para a reserva e para o solo da caatinga são as tradicionais queimadas utilizadas pelos agricultores. Qualquer descuido é fatal.

Mas, ao menor sinal de fumaça na mata, entra em ação uma brigada de combate a incêndio, que inclui 30 pessoas da comunidade, treinadas pelo Ibama.

Para Rodrigo, na caatinga tudo é possível, basta respeitar os limites do ecossistema. A terra é fértil, o clima é que não ajuda.

Sem a cobertura vegetal e com a incidência de altas temperaturas, o solo perde sua virilidade. Por isso, a organização recomenda a agricultura em solo sujo, ou seja, o plantio é feito no meio dos matos, que é para fazer sombra, conservar a umidade e proteger a terra do calor.

Um intercâmbio (via convênio) com a UFC (Universidade Federal do Ceará) tem transformado a Reserva Natural Serra das Almas num verdadeiro canteiro de pesquisas de mestrado e doutorado.

O trabalho já rendeu publicação de diversas teses, estudos e livros, feitos por especialistas da área do Brasil e do exterior. O site da organização apresenta mais de 40 deles.

Ecodesenvolvimento

O projeto Ecodesenvolvimento tem como objetivo viabilizar alternativas para complementação da renda local.

Nele, são produzidos, com o apoio e capacitação do Sebrae, sabonetes à base de essências da caatinga (como a malva e a aroeira), vassouras e cestarias de palha da carnaúba e a meliponicultura, que é a produção de colmeias para extração do mel da abelha jandaíra.

Rara na região por conta do desmatamento da imburana, árvore que abriga suas colméias, a jandaíra precisou ser importada da Serra do Seridó (PI) para fazer parte do projeto.

A estratégia tem contribuído para aumentar a população da espécie na Serra das Almas. O mel da jandaíra é um resgate aos costumes dos sertanejos para curar infecções respiratórias.

A organização também construiu 47 cisternas de placa para captação de água da chuva para a comunidade de Cabaças, que no ato do recebimento recebeu capacitação para uso racional da água.

Fechando o projeto Ecodesenvolvimento, também foi desenvolvido um planejamento ambiental para reflorestamento de 20 ha de áreas de reserva legal e mata ciliares em cada uma das comunidades beneficiárias.

Natureza jovem

Cerca de 120 meninos já foram capacitados pela Associação nas áreas de ecoturismo, comunicação e arte.

Cinco desses jovens, aliás, tiveram acesso à universidade em Crateús (CE). Um deles passou a trabalhar como repórter policial da rádio local, outros 20 viraram monitores e condutores de trilhas (remunerados), outro virou guarda-parque da reserva, e os demais trabalharam no artesanato.

Para os jovens em situação de risco social, como drogas, prostituição, foram promovidas oficinas que viabilizaram planos de negócios de apicultura, avicultura e horticultura que para os municípios de Crateús (CE) e Buritis dos Montes (PI).

Asa Branca e Aliança da Caatinga

Quando começou sua atuação, em 2003, existiam 35 RPPNs na caatinga, que somavam um total de 67.300 ha de terras preservadas.

De lá pra cá, a Asa Branca formalizou ou está formalizando mais 28 (66%), que somam mais 9.500 ha (14%) de caatinga no Ceará, Maranhão e Piauí.

Já a Aliança da Caatinga, rede que inclui Asa Branca, Associação Caatinga e mais outras oito instituições do país, já formalizou mais 18 RPPN com 12.320 ha a mais de unidades de conservação particulares para o bioma.

Ao todo, o semiárido brasileiro tem hoje um total de 78 RPPN e 89.550 ha de caatinga preservada.

Embora o foco seja a caatinga, a organização também atua em outros biomas. Só no Maciço do Baturité, que é formado por mata atlântica, já são 12 (quatro delas interligadas).

O apoio da Asa Branca inclui a adequação ambiental das propriedades ao código florestal, com a averbação das reservas legais, agora obrigatórias para qualquer proprietário, e a delimitação das áreas de preservação permanentes.

Em todas as reservas reina a filosofia de trabalhar a conservação e o desenvolvimento comunitário sustentável local.

O homem como pilar central de suas ações

Por mais que os projetos liderados por Rodrigo trabalhem a preservação do ambiente, o que ele e suas organizações mais buscam é o desenvolvimento comunitário.

Isso inclui o homem como pilar central de suas ações. Para isso, ele trabalha para demonstrar e evidenciar o potencial das unidades de conservação como vetores na promoção do desenvolvimento social sustentável.

Manter a rica cultura sertaneja, por exemplo, é uma meta. Transformar o que ela não tem de bom, é outra.

"O desafio é grande, mas, aos poucos, vamos conseguindo. Os ativos ambientais [conservação da biodiversidade, mais a educação ambiental e o desenvolvimento de negócios] já são realidade na região", conclui.

A visão de um dos beneficiários do projeto

"Nasci em Crateús. Sempre tive vontade de conhecer o ambiente em que eu vivo. Passava minhas férias na zona rural. Sempre no mato, gostava de pescar.

Prestei então vestibular para o curso de biologia. Logo vi que não tinha aula de campo na reserva [da Serra das Almas], era uma botânica não aplicada, não contextualizada.

Então decidi frequentar sozinho a reserva. O gerente soube que eu estudava biologia e me convidou para ser guia. Comecei a devorar os materiais que ele me deu e passei a fazer as visitas.

Fui selecionado como estagiário e agora já estou há dois anos e três meses trabalhando com educação ambiental e formação de novos guias.

Hoje sou consultor da Associação Caatinga, concluí a faculdade e pretendo fazer mestrado.

Sou a pessoa da associação que faz a ponte entre o ambiental e o social. É bastante gratificante quando venho visitar a comunidade e as pessoas me dizem que a associação as ajudou a ter mais qualidade de vida, com incremento na renda familiar.

Mas é um trabalho difícil, árduo, que avança a pequenos passos, com continuidade. Tem de ser bastante flexível, ouvir todos os lados.

A melhor estratégia é ter muita conversa, palestra, entrar na comunidade. Você não a conscientiza, você a sensibiliza para a preservação.

Tenho um filho de quatro meses e sonho que ele fique aqui, que seja um guerreiro da caatinga, que pegue de berço essa vontade de protegê-la, que ele possa ver como ela é, com seus ambientes preservados e, diria mais, recuperados.

A caatinga é uma mãe. Essa garra dos povos da caatinga, de passar três meses com água, nove meses no sertão, é isso o que contagia.

No momento em que saio da universidade, vejo minha mãe, que acaba de passar no vestibular para biologia, com essa garra toda.

Quase 40 anos e ela entrou na faculdade. O povo vê isso dentro de casa, dizemos 'vamos abraçar a causa e trabalhar'. Eu a influenciei, com certeza.

Tudo isso vem do trabalho com o Rodrigo. Ele é um profissional muito bem qualificado, didático, que trabalha com público diversificado, do agricultor ao grande empresário, sensibilizando-o.

Ele é muito vibrado naquilo que faz e passa essa garra para nós. Está sempre otimista."

ANDRÉ LUIZ FERREIRA, 24, biólogo, é consultor da Associação Caatinga

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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