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Carlos Eduardo Zuma

Quem é ele?

Carlos Eduardo Zuma, 48, psicólogo, carioca

Organização: Instituto de Pesquisas Sistêmicas e Desenvolvimento de Redes Sociais Noos
Ano de fundação:
1994
www.noos.org.br

O Instituto Noos trabalha para a promoção da saúde das relações familiares e comunitárias no país, por meio da difusão de práticas sociais sistêmicas a partir dos resultados obtidos em seu centro de ensino, pesquisa e atendimento. Aborda de forma inovadora a questão da violência intrafamiliar e de gênero, tendo sido pioneiro ao propor a atenção aos homens que cometem ou cometeram violência contra mulheres em grupos reflexivos de gênero.
Com isso, teve participação direta na elaboração da Lei Maria da Penha. Com foco no crescimento via políticas públicas, a organização investe em pesquisa e na sistematização das metodologias por ela testadas e realiza o atendimento direto de cerca de 400 pessoas por mês no Rio de Janeiro.

Psicologia sem limites

Terapeuta aborda a questão da violência intrafamiliar e de gênero priorizando a identidade das pessoas e seu contexto

DIOGO BERCITO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Nascido em Botafogo, o psicólogo Carlos Zuma, 48, viveu até os 18 anos em Madureira, subúrbio do Rio. Os vizinhos pensavam que ele era rico, porque tinha vindo da zona sul, e os primos o consideravam pobre, porque tinha se mudado da região em que a família morava.

A situação, a que Carlos chama de "fronteira entre mundos", é uma marca da vida dele, e não apenas economicamente. Ele fez curso técnico em estatística e, em seguida, faculdade na área de humanidades. "Eu era um estudante de psicologia com capacidade de fazer contas", aponta.

Esses pensamentos, apurados pela investigação insistente e pelos estudos universitários, se tornaram um projeto: os grupos reflexivos de gênero, em que participantes se reúnem para discutir o que significa, para eles próprios, ser de um ou de outro sexo.

"A cultura patriarcal divide o mundo entre público e privado, o espaço público sendo masculino, e o privado, feminino", explica.

Nesses encontros, que fazem parte do rol de atividades do Instituto Noos fundado em 1994 por Carlos e colegas, agressores e vítimas repensam o que é ter uma identidade masculina ou feminina e como a violência física dentro de casa se encaixa nesse contexto.

"Noos", em grego, significa mente. E é com o intelecto que Carlos lida o tempo todo, enquanto testa metodologias e as sistematiza para que, no futuro, possam se tornar políticas públicas.

Esse trabalho de academia é feito com base na teoria sistêmica, que enfatiza as relações entre os fenômenos para, assim, entendê-los. "Teoria sistêmica", aliás, é um termo recorrente no discurso de Carlos. Foi um conceito que o conquistou quando ele, aos 18 anos, começou a visitar pacientes em suas próprias casas.

"Muitas das coisas que não faziam sentido nos atendimentos feitos na clínica faziam sentido dentro do contexto", explica. "Percebi que havia alguma coisa coletiva nos dilemas dos pacientes."

A percepção de Carlos vem de uma característica que, nele, é marcante: a capacidade de olhar para os outros. Há outra, ainda mais importante, que é o talento para olhar para si próprio. "Tento me ver pelos outros dos outros, para entender a perspectiva deles", diz sorrindo e, quando sorri, fecha os olhos, com jeito manso.

Calmo como os sonhos que ele tem, quando pensa no futuro. Uma casa no campo e uma biblioteca repleta de livros de botânica e de guias para a observação de pássaros.

"Mas não sei se conseguiria me acalmar", brinca. "Provavelmente, eu pensaria em uma maneira de criar um sítio autossustentável, orgânico, um modelo de propriedade rural." Provavelmente, sim.

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CONHEÇA MAIS SOBRE O INSTITUTO NOOS

O Instituto Noos entende que a violência tem múltiplas causas: individuais, relacionais, comunitárias e culturais. Respostas que atuem apenas em uma dessas causas são insuficientes.

A principal inovação institucional está em reunir práticas que consideram essa complexidade e que propõem, de forma sistêmica, atenção a todos os envolvidos: as vítimas, os autores e as testemunhas da violência. Também inova ao desenvolver ações com entidades, instituições e profissionais relacionados ao problema e que contemplem as situações de violência já existentes e a prevenção de novos casos. A organização foi pioneira no país ao propor a atenção aos homens que cometem ou cometeram violência contra mulheres em grupos reflexivos de gênero. Por fim, o instituto inova por olhar a violência contra as mulheres associada à violência contra crianças e jovens e por propor métodos diferenciados para a prevenção de novos casos.

Portanto, sua atuação se destaca pela amplitude das ações que contemplam: a atenção direta aos envolvidos, a sensibilização de profissionais (de saúde, assistência social, direito e segurança pública) e da população em geral, a capacitação de profissionais nas metodologias de atenção, a pesquisa sobre o tema e sobre a eficácia das metodologias e a articulação com outras instituições para a incidência em políticas públicas.

A organização divide seu orçamento em dois: um só do instituto, equivalente em 2010 a R$ 471.507, e outro somando todos os projetos executados por ela, de R$ 3.380.294 neste ano. Nesse ultimo valor está incluído o valor de R$ 1.328.243 da Rede Não Bata, Eduque, patrocinada pela Secretaria de Direitos Humanos e da qual o Noos é secretário-executivo e gestor, juntamente com a Fundação Xuxa Meneghel.

O principal destaque vai para a geração própria de recursos: perfaz 51% do orçamento total, ou R$ 238.533, advindos das mensalidades dos cursos da Escola de Práticas Sociais Sistêmicas e dos associados, das vendas de publicações da editora própria, dos honorários por palestras e das sublocações de salas da escola para o atendimento de psicólogos. Ressalta-se ainda que a organização tem conseguido custear parte de sua estrutura fixa por meio de taxas de administração dos projetos, o que é incomum no terceiro setor somando essa fonte de recursos, a geração própria de receita sobe para 67%. As consequências desse modelo de sustentabilidade financeira podem ser vistas nos recursos físicos e humanos do Noos, com profissionais qualificados, parte contratada via CLT por salários competitivos, de até R$ 9.600.

O instituto apresenta boa gestão administrativo-financeira a partir deste ano, contará com uma auditoria financeira independente, a ser realizada pro bono pela Price WaterhouseCoopers. O empreendedor social consegue equilibrar o perfil de liderança com o compartilhamento das decisões e mostra-se atento ao processo sucessório do instituto.

Principais parceiros: ABMP (Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores Públicos da Infância e da Juventude), Ashoka, Avon, Brazil Foundation, Child and Family Training, Child Helpline International, Insight Consulting, Instituto Embratel, MacArthur Foundation, McKinsey&Company, Mediativa (Instituto de Mediação Transformativa), Ministério da Justiça, Multiversa, Oak Foundation, Price WaterhouseCoopers, Rebouças e Associados (comunicação), Rede de Homens por Equidade de Gênero, Rede Local da Zona Sul, Rede Não Bata Eduque, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Seprorj (Sindicato das Empresas de Informática do Estado do Rio de Janeiro) e Ursula Zindel-Hilti Foundation.

O número de atendimentos varia conforme o período do ano e os projetos executados. Tomando como referência o mês de maio de 2010, a instituição realizou 404 atendimentos, assim distribuídos: 73 em terapia de família; 11 em grupos reflexivos de gênero (masculinos); 8 em grupos reflexivos de gênero (femininos); 60 em oficinas de sensibilização; 96 em rodas de terapia comunitária; 93 em alunos em capacitação; e 63 com crianças e adolescentes por telefone.

Vale ressaltar que essa somatória não significa necessariamente o número de pessoas atendidas, já que podem participar de mais de um grupo, por exemplo.

A organização mensura seu impacto social quantitativa (levantamento de dados secundários, registros institucionais e para a produção de dados primários por meio de fichas cadastrais e questionários de avaliação) e qualitativamente (levantamentos bibliográficos, entrevistas em profundidade, grupos focais e observação participante). Indicadores apontam que 259 homens passaram pelo Noos de 1999 a 2009; 184 mulheres de 2000 a 2009; 176 famílias de 2004 a 2009; e 2.226 alunos de cursos e oficinas de 2003 a 2009. No total, passaram pelo Noos 2.845 pessoas de 1999 a 2009, das quais 1.659 (58%) foram pesquisadas. A maioria dos atendidos é branca, com idades entre 40 e 44 anos e renda pessoal bruta mensal de R$ 829 (mulheres) a R$ 4.022 (alunos) e familiar de R$ 1.675 (homens) a R$ 7.597 (alunos).

Ao passar por grupos reflexivos de gênero, 19% dos homens afirmam notar aumento do autocontrole e 17% percebem que compartilhar histórias difíceis pode ser útil, enquanto 21% das mulheres verificam a importância de compartilhar histórias e 21% apontam aumento de sua autoestima; 50% deles e 61% delas dizem que melhorou bastante a habilidade para lidar com os conflitos, sem violência, na família. No entanto, 59% dos homens e 71% das mulheres reconhecem que fizeram uso da violência, sobretudo psicológica, nos dois meses anteriores à pesquisa, sendo que a violência física foi praticada por 19% deles e 39% delas, principalmente contra a companheira (42%) ou o companheiro (42%), respectivamente.

A experiência nasceu na cidade do Rio de Janeiro, onde está seu foco de atendimento direto. Organicamente, passou a atender pessoas de outros 15 municípios cariocas (como São Gonçalo e Friburgo). Foram realizadas também capacitações e palestras em Adrianópolis (RJ), Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, Santo André (SP), São Paulo, São José do Rio Preto (SP) e Vitória e em Açores (Portugal).

Outro canal de difusão do conhecimento sistematizado de referencial teórico e metodologias do instituto são as obras de sua editora e uma revista sobre práticas sociais sistêmicas, publicada desde o início do projeto, e que vem propiciando convites para eventos, cursos e palestras.

Uma vez que tem por meta influenciar políticas públicas nacionais no tocante à violência intrafamiliar e de gênero, o instituto atua de forma a sistematizar todas as suas experiências de êxito no tema e difundir a metodologia criada, desenvolvida ou adaptada à realidade brasileira.

Assim, ao captar recursos para seus projetos, como no caso do Paz na Casa, Paz no Mundo, o Noos sempre prevê um montante para a sistematização da metodologia ao fim da experiência.

A ação mais inovadora e com mais repercussão do Instituto Noos foi a proposta de atenção aos homens que cometem ou cometeram violência contra mulheres em grupos reflexivos de gênero, metodologia em que foi pioneiro no Brasil, sobre a qual publicou uma metodologia e com a qual teve influência na Lei Maria da Penha, nos artigos 35 e 45, no que tange às medidas previstas a serem aplicadas aos homens autores de violência. A lei prevê que os juízes encaminhem autores de violência a centros de responsabilização para trabalho com grupos reflexivos de gênero.

O instituto se diz atualmente único polo capacitador em terapia comunitária do Estado do Rio de Janeiro e tem forte trabalho com funcionários da prefeitura do Rio. Também participou das discussões que fizeram o Ministério da Saúde tornar a terapia comunitária política pública nacional. O ministério incluiu o Noos na lista de instituições de referência no tema violência intrafamiliar.

Como secretário da Rede Não Bata, Eduque, patrocinada pela Secretaria dos Direitos Humanos, o empreendedor social é um dos principais ativistas em prol da aprovação da chamada Lei da Palmada, que estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados sem palmadas e beliscões. Outro projeto de política pública para o qual a organização faz lobby está ligado à criação de um canal de atendimento direto da criança e do adolescente, sem seus responsáveis, e pelo qual o Brasil é cobrado como signatário de convenção internacional da ONU.

Em linhas gerais a instituição se concentra na estruturação de uma escola de práticas sociais sistêmicas e participativas aglutinando em torno dela as atividades de atendimento, pesquisa, prestação de serviços e disseminação dessas informações.

O nome "Práticas Sociais Sistêmicas" designa o conjunto de metodologias de atenção. O termo "sistêmico" refere-se a abordagens que levam em consideração o contexto e a complexidade das temáticas em foco. O instituto defende que problemas complexos implicam soluções que não reduzam as razões desses problemas a causas únicas, em uma visão reducionista. A terapia de família, a terapia comunitária, os grupos reflexivos de gênero e a ferramenta de avaliação de famílias são exemplos de práticas que foram desenvolvidas ou adaptadas pelo Noos.

A atuação do Instituto Noos inicia normalmente com a pesquisa e a adoção de uma prática social que atenda a determinado problema identificado pelas equipes de profissionais que tratam os pacientes que buscam o Noos (atendimento). Adaptada e validada, a prática é publicada e/ou disseminada (ensino) por meio de cursos e apresentações de trabalhos em fóruns e congressos, bem como pelas redes sociais. O objetivo, nessa fase, é torná-la política pública. Faz parte ainda do ensino complementar a política com desenvolvimento de mecanismos de apoio à implementação pelos órgãos públicos. Implantada a política, faz-se importante retornar a pesquisa para localizar possíveis desvios em sua realização, falhas ou inadequações e revisá-las.

Dessa forma, o Instituto Noos estruturou suas linhas de atuação em três eixos:

  1. Escola de Práticas Sociais compreende as atividades de cursos, atendimento, pesquisa e prestação de serviços. Tem como objetivo não só atender a missão do Noos como também dar sustentabilidade à instituição.

    O atendimento ao público é uma atividade integrante da escola, não sendo um fim em si. Exerce a função de laboratório para validação das práticas sociais e identificação de temas recorrentes nas relações familiares, de casais e comunitárias que afetam sua saúde. O paciente paga um valor que ele próprio escolhe, de R$ 0 a R$ 70.

    A pesquisa inicia e fecha o ciclo de adoção das práticas e é essencial para seu mapeamento, análise dos resultados, validação e acompanhamento de sua aplicação.

    Os cursos consistem em item importante do processo de disseminação e implementação das práticas ao formar novos profissionais habilitados a operar com o novo ferramental, ao mesmo tempo em que viabilizam recursos para a manutenção da instituição e remuneração dos profissionais que nela trabalham.

    A prestação dos serviços facilita a adoção das práticas pelo poder público, mediante contratação de serviços profissionais que tornem exequível sua realização.

  2. Editora tem diversas publicações próprias e de terceiros, sendo responsável também pela edição da revista "Novas Perspectivas Sistêmicas" em parceria com duas outras instituições o Instituto Familiae, de São Paulo, e o Multiversa, do Rio de Janeiro.

    A editora completa o conjunto de suportes ao processo de disseminação da cultura do enfoque sistêmico, sobretudo nas questões de saúde no contexto familiar e comunitário.

123Alô! canal de comunicação por telefone que atende à cidade do Rio de Janeiro e colocado ao livre dispor das crianças e adolescentes de seis a 18 anos, potencializando sua voz e permitindo a identificação dos medos, questões e angústias. Entre maio de 2009 e agosto de 2010, recebeu 6.244 chamadas, com 961 atendimentos. Contribui para movimentar a engrenagem pesada do Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente, uma política pública de difícil implementação e operacionalização.

Entre os principais projetos do Instituto Noos, destacam-se

  • Desenvolvimento de Redes Sociais e Comunitárias: reúne projetos que tenham como propósito promover a articulação de redes sociais entre pessoas, entidades, comunidades, organizações governamentais e organizações da sociedade civil, no sentido de potencializar os recursos disponíveis à população. Entre eles, estão as Rodas de Terapia Comunitária, que visam o atendimento de pessoas da comunidade ao redor da sede da instituição, e o projeto Mulheres do Mundo (Cartografia Social), que capacita mulheres como pesquisadoras de suas próprias comunidades;
  • Famílias em Litígio: atende famílias com crianças e adolescentes encaminhados pelo Poder Judiciário, por escolas e por conselhos tutelares. Busca resgatar a comunicação entre os membros da família, com atendimento focado nos pais;
  • Estreitando Laços: objetiva promover o fortalecimento dos vínculos afetivos de famílias em situação de violência que envolva crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos físicos, psicológicos ou de negligência, por meio de um atendimento da família focado nos pais;
  • Justiça Restaurativa: questiona a prisão como meio de ressocialização e tenta colocar em ótica o fato de que todo ato danoso gera rupturas na relação. Está em fase de pesquisa sobre o que está sendo aplicado fora do Brasil, com foco em uma futura adaptação no país;
  • PCPM (Paz em Casa, Paz no Mundo): visa prevenir e interromper a violência na família. Atua por meio de grupos reflexivos de gênero (para homens e mulheres), terapia de família e casal e sensibilizações (no instituto e em oficinas em escolas, ONGs e órgãos públicos). Começa agora a capacitar facilitadores de grupos reflexivos de gênero entre profissionais, lideranças comunitárias e pessoas que trabalham com situações de violência na família;
  • Rede de Homens por Equidade de Gênero: tendo o Noos como membro do grupo gestor, congrega instituições que mobilizam os homens pelo fim da violência contra as mulheres, coordena no Brasil a Campanha do Laço Branco e outras causas associadas com questões masculinas e de saúde, como a campanha pelo aumento da licença-paternidade;
  • Rede Não Bata, Eduque: é formada por diversas organizações da sociedade civil e busca erradicar os castigos físicos e humilhantes praticados contra crianças e adolescentes no Brasil. O Noos é membro do grupo gestor e, junto com a Fundação Xuxa Meneghel, é encarregado da secretaria-executiva dessa rede.
 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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