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José Pereira de Oliveira Junior

Quem é ele?

José Pereira de Oliveira Junior, 42, líder comunitário, carioca.

Organização: Grupo Cultural AfroReggae
Ano de fundação:
1993
www.afroreggae.org.br

O AfroReggae trabalha em prol da transformação social utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de conexões que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a cidadania.
Desenvolveu empiricamente método eficaz para mediação de conflitos e desenvolvimento econômico e cultural em locais marcados por exclusão, narcotráfico e violência, envolvendo governo, grandes empresas e, sobretudo, as comunidades carentes como protagonis-tas de sua realidade. Beneficia cerca de 1.300 jovens em cinco núcleos culturais no Rio de Janeiro e em Nova Iguaçu e preencheu 1.150 posições no mercado de trabalho por meio do projeto Empregabilidade, além de ter desdobramentos em Belo Horizonte, no Reino Unido e na Índia.

Conexões morro-asfalto

Líder comunitário dá voz a moradores de favelas cariocas por meio de uma das maiores ONGs do país

MARIANA BERGEL
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Nos anos 80, depois de um mês juntando dinheiro, um menino de 12 anos vai comer seu primeiro hambúrguer no McDonald's com um amigo.

No retorno para casa, brincam de chutar portas. Um alarme dispara e surgem policiais por todos os lados. Assustado com o som dos tiros, o menino para de correr.

O amigo foge, mas, vendo o outro apanhar da polícia, volta. "Ele disse que fez isso porque éramos amigos. Eu disse que não teria voltado, e ele falou que essa era a nossa diferença." Desde então, o menino, agora crescido, mudou de atitude. "Até hoje eu volto por todo mundo."

É difícil dissociar José Junior, 42, do AfroReggae, projeto cultural, artístico e social que teve início há 17 anos. Nascido em Ramos, subúrbio do Rio, Junior mudou para a Lapa aos dez anos, com a mãe. "Meu pai bebia muito."

Cursou apenas o ensino fundamental e cresceu em um ambiente boêmio, numa Lapa violenta, cenário de crimes e prostituição.

Ele diz nunca ter roubado, participado do tráfico ou usado drogas. "Lembrava o que minha mãe passou com meu pai e não quis entrar nessa vida."

Ainda jovem, foi taxista e organizador de festas de funk e reggae. "Percebemos que faltava um veículo de comunicação que falasse da cultura afro-brasileira e criamos o jornal 'AfroReggae'."

Depois da chacina de Vigário Geral, em 1993, o grupo passou a frequentar a favela. À época maior ponto do narcotráfico no Brasil, o local era o epicentro do alto escalão do Comando Vermelho. Nesse momento, o projeto ganhou outra dimensão.

"O jornal levava informação, mas as pessoas queriam formação. O grupo virou uma luz no fim do túnel para pessoas sem esperança."

Hoje, o empreendedor social é respeitado por traficantes, policiais, presidiários, empresários e artistas.

Espiritualizado, ele procura inspiração na figura de Shiva, deus indiano que busca forças na destruição para construir o novo e que representa o poder da transformação. Também cultua Ogum, Thor, Tutankamon, Jesus.

Rude, antipático, autoritário são algumas alcunhas que coleciona. Líder e exemplo para milhares de atendidos pelo projeto são outras.

"Se você procura o cara bonzinho, que fala bonitinho e é cheirosinho, não sou eu. Meto o pé na lama, não tenho medo de colocar a vida em risco para salvar outra."

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CONHEÇA MAIS SOBRE O AFROREGGAE

O AfroReggae é uma organização pioneira e inovadora em várias frentes. Por exemplo, lançou a primeira banda de um projeto social a produzir seu primeiro disco com uma grande gravadora e foi responsável pela abertura da primeira agência mundial do banco Santander e da primeira loja de celulares da TIM em uma favela.

A principal inovação, contudo, é o que seus diretores chamam de "tecnologia de relacionamento e de desenvolvimento", que consiste na transformação de pessoas excluídas em protagonistas do grupo cultural, por meio da qual o empreendedor social consegue obter resultados concretos e efetivos.

A organização criou um método pessoal de gestão que facilita seu relacionamento com grupos inimigos (facções criminosas, policiais, governantes e empresários), que passam a interagir entre eles afirmativamente. Na prática, mediadores de conflitos (em geral, ex-traficantes e presidiários) salvam da morte pessoas juradas pelo tráfico; policiais e ex-criminosos trabalham em conjunto para evitar a entrada de jovens no crime; crianças propensas a todo tipo de violência mergulham no mundo das artes e começam a visualizar um futuro antes ameaçado; presidiários deixam a cadeia com a chance de se ressocializarem por meio do emprego. Tudo isso amparada pelo apoio de grandes empresas privadas, ávidas pela abertura de nichos com as oportunidades de consumo da base da pirâmide, e do governo, que juntos garantem o financiamento do projeto.

O candidato atua de forma pioneira e eficaz onde poucos conseguem atuar (favelas, presídios e na periferia do Rio), colocando essas comunidades no centro do processo de desenvolvimento.

Com orçamento previsto em 2010 de R$ 14 milhões (um crescimento de 233% em relação aos R$ 6 milhões de 2009), o AfroReggae conta com quatro patrocinadores institucionais (Natura, Nestlé, Petrobras e Santander), que contribuem, cada um deles, com uma cota anual de patrocínio (contrato renovável de um ano). A Coca-Cola negocia atualmente sua entrada nesse grupo.

Até o ano passado, a prestação de serviços (shows dos 14 grupos artísticos, workshops, palestras, e oficinas) e a venda de produtos (CDs, livros, documentários e roupas com a marca AfroReggae licenciada pela Hering desde 2008) respondiam por cerca de 30% da receita anual da entidade. Esse percentual deve cair para 10% neste ano, devido ao aumento acentuado das cotas de patrocínio e não pela diminuição dos serviços prestados.

Atualmente, grande parte da atuação estratégica (criação de projetos, captação de recursos, divulgação na mídia) está concentrada no empreendedor social, de perfil fortemente centralizador. A recente abertura para a profissionalização da gestão, com a contratação de um executivo do mercado publicitário, porém, aponta para a preocupação com o crescimento e com a continuidade de longo prazo do grupo cultural independentemente da proximidade de seu principal líder.

Principais parceiros: Adidas, Banco Mundial, Domino's, Estapar, Endeavor, F/Nazca, Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica), Fundação Ford, Google, Governo do Estado de Minas Gerais, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Hering, Ibmec, Itaú Social, Koni Store, Ministério da Cultura, Natura, Nestlé, Oi, Petrobras, Red Bull, Rede Globo, Santander, Spoleto e Universidade Candido Mendes.

Cerca de 1.300 jovens com idade a partir de sete anos são atendidos diretamente, segundo a gestora responsável pela área social do AfroReggae. Outras "estatísticas" da organização apontam para mais de 15 mil pessoas beneficiadas direta e indiretamente no Brasil e no exterior, mais de 10 mil atendidos diretamente na história do grupo e cerca de 4.000 beneficiários anualmente nos 74 projetos realizados pelo grupo cultural. Haveria ainda de 1.000 a 1.150 posições preenchidas no mercado de trabalho por meio do projeto Empregabilidade sobretudo por ex-presidiários.

Esses números não puderam ser comprovados pela organização do prêmio devido à falta de mensuração e avaliação qualitativa e quantitativa do trabalho efetuado. Não há um registro do número de participantes por projeto, nem de seus perfis e de quão efetivas são as atividades.

Atualmente, a organização passa por uma fase de profissionalização da gestão que indica que tal acompanhamento passará a ser realizado paulatinamente. Ademais, pode-se afirmar da avaliação in loco que o AfroReggae apresenta de fato um impacto transformador na vida de diversas pessoas antes excluídas pela sociedade por meio da recuperação da autoestima, da ressocialização, da educação, da arte, da criação de perspectivas e do estímulo ao protagonismo.

Como balizador de sua atuação, destaca-se a existência de 14 grupos artísticos (quatro bandas, um bloco carnavalesco, uma trupe de teatro, outra de circo e uma orquestra, entre outros) e de mais de 250 funcionários a maioria oriunda de comunidades com alta vulnerabilidade social nos cinco núcleos do Rio de Janeiro.

A experiência surgiu na comunidade de Vigário Geral, na zona norte do Rio de Janeiro, e alcançou paulatinamente as comunidades de Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, Complexo do Alemão, Parada de Lucas e Nova Era (em Nova Iguaçu). O principal foco de atuação, portanto, se dá na capital fluminense. Um dos projetos, em parceria com a polícia mineira, acontece em Belo Horizonte.

A principal replicação ocorreu no Reino Unido, com filhos de imigrantes discriminados, e cujo trabalho se espelha na atuação do grupo cultural carioca (a administração, contudo, é descentralizada). Também houve trabalhos pontuais (como apresentações de shows e exposições) na Alemanha, no Canadá, na China, na Colômbia, nos EUA, na Índia e em países sul-americanos.

Por meio do programa Conexões Urbanas, o empreendedor social atinge um público diversificado, nacionalmente pelo programa de TV no canal fechado Multishow, e no Rio, em Porto Alegre e em São Paulo através do programa de rádio.

Posicionando-se claramente contrário ao crescimento por meio de franquias sociais, o candidato afirma que manterá seu foco no Rio de Janeiro por uma questão de princípio e de controle, mas que não se opõe a compartilhar experiências com organizações de outros locais e países, como já ocorreu com as ONGs Afro Sul (RS), Bagunçaço (BA), Fábrica de Criatividade (SP), Majê Mole (PE) e NUC (Negros da Unidade Consciente MG).

Os processos, dessa forma, não se encontram sistematizados de forma detalhada em documentos e dependem diretamente de consulta ao empreendedor social e a alguns líderes de núcleos e projetos.

As iniciativas lideradas pelo empreendedor social apresentam impacto em políticas públicas no Rio de Janeiro. Há duas vertentes principais: segurança pública e desenvolvimento comunitário.

Por meio dos projetos Papo de Responsa (Rio) e Juventude e Cidadania (Belo Horizonte), o AfroReggae trabalha com policiais civis e militares, respectivamente, e vem mudando a relação polícia-comunidade. No Complexo Penitenciário de Bangu (RJ), oferecem-se ressocialização e capacitação de detentos em seis unidades prisionais (a sétima está em processo de avaliação).

A organização também tem parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Rio para estruturar oficinas de percussão, teatro e grafite a menores em conflito com a lei e a agentes de disciplina em três unidades do Degase (Departamento Geral de Medidas Socioeducativas).

Por fim, destaca-se o apoio às obras do PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) na construção da rede de teleféricos do Complexo do Alemão. Ao término das obras, o AfroReggae trabalhará em prol da abertura de empresas e da profissionalização de moradores em turismo.

Avalia-se que, devido ao bom relacionamento do empreendedor social com órgãos públicos, sobretudo do Governo do Estado do Rio, há espaço para que sua influência em políticas públicas (como aprovações de leis) cresça e se torne mais efetiva.

O AfroReggae tem como missão ser motor de transformação social utilizando a cultura afro-brasileira, as artes e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania.

Por meio de oficinas (percussão, dança, capoeira, história em quadrinhos, violino, grafite, teatro e circo) e grupos artísticos, fortalece a autoestima de jovens de alta vulnerabilidade social, a fim de afastá-los da violência, do narcotráfico e do subemprego. As atividades centrais ocorrem nos cinco núcleos de cultura, cada um estruturado como um polo (Vigário Geral música; Parada de Lucas tecnologia; Cantagalo circo; Complexo do Alemão e Nova Era misto). Outros projetos, chamados de especiais, são executados em localidades como o Complexo Penitenciário de Bangu, o Degase (similar à Fundação Casa, ou ex-Febem paulista) e em escolas da periferia.

O principal método de ação, que permeia as atividades da organização, é a "tecnologia de relacionamento" desenvolvida empiricamente nos 17 anos de atuação nas favelas do Rio. Por meio de um profundo conhecimento das comunidades pobres, o AfroReggae conquistou o respeito dos atores envolvidos facções do narcotráfico (ADA, Comando Vermelho e Terceiro Comando), famílias carentes, menores abandonados, presidiários e religiosos, entre outros, muitos dos quais se ressocializam e tornam-se colaboradores e fortes defensores do grupo. Ex-chefes do tráfico de drogas, por exemplo, entram para o AfroReggae como "mediadores de conflitos", tornando-se responsáveis por salvar pessoas juradas de morte e pela articulação e negociação de diversas situações (visitas externas, eventos, etc.) com as facções. Ex-presidiários são encarregados da missão de resgatar egressos do sistema prisional por meio do emprego.

Patrocinadores e mídia

A sustentabilidade financeira do projeto está ancorada nessa "tecnologia de relacionamento". Não à toa, os principais patrocinadores institucionais do AfroReggae (Natura, Nestlé, Oi e Santander) têm forte interesse em penetrar no mercado consumidor das classes C, D e E, que apresentam uma dinâmica própria a qual muitas vezes foge à abordagem tradicional de marketing. Por meio de articulação do AfroReggae, o Santander abriu sua primeira agência numa comunidade carente (Complexo do Alemão) e que figura hoje entre as de maior retorno financeiro para o banco entre as novas unidades, segundo o gerente. A Natura angariou 800 revendedoras na mesma localidade, enquanto a Oi pretende montar um curso de qualificação, na esteira da TIM, que, em parceria com o grupo cultural, abriu a primeira loja de operadora de telefonia em favela. A próxima da lista, revela José Junior, é a Coca-Cola, cujo patrocínio era negociado à época da visita.

Por fim, deve-se ressaltar a importância estratégica da exposição de mídia do empreendedor social. Com forte rede de apoiadores nessa área, sobretudo na Rede Globo, o líder do AfroReggae mantém o programa Conexões Urbanas na TV (no canal Multishow), na rádio (em Porto Alegre, no Rio e em São Paulo) e na internet. Regularmente protagoniza campanhas publicitárias de grandes empresas e utiliza-se de outros recursos, como autoria de livros, criação de documentários, participação em cinema, realização de seminário internacional, entre outros canais de comunicação que sempre evidenciam, em alguma instância, o trabalho do AfroReggae. Reflexo disso é que, ainda que não tenha controle operacional e mensuração do impacto social, o projeto efetua em seu relatório anual análise detalhada do retorno de mídia para os patrocinadores.

Entre os principais projetos do AfroReggae, além das oficinas culturais nos núcleos, destacam-se

  • Antídoto: Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, abrange mostras de filmes, shows, espetáculos teatrais e debates, com convidados variados;
  • Bloco AfroReggae: bloco carnavalesco que, segundo jornais cariocas, arrastou um milhão de pessoas em um dia de desfile neste ano. Músicos, dançarinos e percussionistas oriundos de favelas como Vigário Geral e Complexo do Alemão animam foliões moradores da zona sul carioca;
  • Conexão Shiva: projeto realizado na Índia, em Nizamuddim, a maior favela do mundo, com crianças e jovens aliciados por terroristas, com a metodologia usada pelo AfroReggae;
  • Conexões Urbanas: leva música para as favelas cariocas com shows gratuitos que normalmente só são realizados nas praias da zona sul carioca. Entre os artistas que se apresentaram estão Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Titãs e Skank, em 59 edições. Posteriormente, foram criados um programa de TV e um de rádio homônimos;
  • Empregabilidade: em parcerias com empresas, o AfroReggae encaminha pessoas envolvidas com a criminalidade e egressos do sistema prisional para o mercado de trabalho, a fim de resgatar a cidadania de quem quer deixar o crime, mas não encontra chance de ressocialização;
  • "Favela to the World": projeto realizado no Reino Unido em parceria com o Barbican Centre e o People's Palace Projects que atua com crianças e jovens moradores de bairros da periferia, a maioria filhos de imigrantes que sofrem com o racismo;
  • Juventude e Polícia: jovens da periferia com histórico de agressão policial vão aos batalhões da Polícia Militar de Belo Horizonte (MG) como instrutores de oficinas de percussão, grafite, dança, teatro e basquete de rua, de maneira a diminuir o preconceito entre ambas as partes;
  • Prêmio Orilaxé: dirigido a personalidades ou instituições que contribuíram para a valorização e a divulgação da cultura afro-brasileira, a diminuição da injustiça social e para o pleno exercício da cidadania;
  • Unindo Forças: em parceria com a Secretaria da Educação do Rio, o projeto engloba seis ações multidisciplinares Escolando a Galera, Oficinas do Degase, Núcleo Cultural AfroReggae, Trupe de Teatro da Sexualidade, Núcleo Nova Era e o Papo de Responsa. As Oficinas do Degase beneficiam jovens que cumprem medidas educativas, buscando a ressocialização. Já o Papo de Responsa une policial civil uniformizado e armado e egresso do sistema penitenciário. Dois ex-inimigos que trabalham juntos para prevenir a violência por meio das palavras.

"Fiquei 32 anos no crime, 11 anos privado de liberdade. Fui dependente químico e, para poder financiar aquilo que eu gostava, tive que cair no crime. Fui porta voz de uma facção criminosa e quando saí da prisão percebi que o inferno não era dentro da cadeia, e sim, fora dela. A vida é muito difícil pra quem quer sair dessa vida, a gente coleciona muitos amigos e inimigos.

O Junior é um exemplo de vida pra mim. Nos seis primeiros meses que saí do inferno, minha vida ficou muito pior. Nossa sociedade é muito preconceituosa e hipócrita e, para alguém se entregar, tem que querer muito fazer parte disso. As pessoas que gostam de condenar às vezes nem sabem que o próprio filho é viciado em drogas. Valorizo muito o meu trabalho hoje e toda a luta do Junior que é confiada a mim.

Um dia fui à igreja e um pastor me apresentou o Junior e falou para eu contar minha história para ele. O pessoal falava muito de AfroReggae, mas eu pensava: 'Esse cara batendo lata e usando brinquinho parece veado'.

Contei minha história a ele, inclusive que minha geladeira parecia uma piscina, pois só tinha água. O Junior pegou o rádio e foi para o banheiro. Achei que não ia dar em nada, só que, quando ele saiu do banheiro, disse que ia pagar meus seis meses de aluguel atrasados e me dar dinheiro para fazer mercado.

Perguntei se ele podia me dar emprego com carteira assinada para eu conquistar minha dignidade. Eu não tinha nem dentes, estava magro e barbudo porque não tinha dinheiro nem para comprar barbeador. Ele me mandou para Vigário para coordenar um projeto. Isso faz quatro anos.

De lá pra cá, houve muitas mudanças na minha vida. O AfroReggae ajuda as pessoas das favelas a conseguir emprego, ajuda bandidos a saírem dessa vida e é uma luz no fim do túnel, que dá esperança a essas pessoas.

No começo, eu nem sabia o que era sustentabilidade ou empreendedorismo e que eu aplicava isso na minha vida criminosa. Tinha muitos caras que queriam sair da vida criminal e vinham pedir emprego. Cheguei a perguntar para o Junior o que faríamos com tanta gente. Em 2008, comecei a correr atrás de contatos explicando minha história de vida e a questão de empregabilidade.

Consegui empregar 300 pessoas no mesmo ano. Levei muitos nãos de várias empresas por ter sido bandido, mas hoje tenho uma equipe formada por quatro pessoas que trabalham na supervisão, sendo que cada um deles veio de uma facção diferente do Rio de Janeiro.

O que acontece aqui é um exemplo para o mundo. Enquanto as facções entram em guerra entre si nas ruas, aqui dentro, pessoas que eram de facções diferentes lutam, choram, se abraçam e riem juntos para alcançar o mesmo fim, que é dar esperança a quem não tem."

Norton Guimarães, 53, ex-detento e coordenador do projeto empregabilidade do AfroReggae

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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