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Luciana Chinaglia Quintão

Quem é ela?

Luciana Chinaglia Quintão, 49, divorciada, três filhos

Organização: Banco de Alimentos

Ano de fundação: 1998
www.bancodealimentos.org.br

*dados de 2011

Com o slogan “busca onde sobra, entrega onde falta”, o Banco de Alimentos tem o objetivo de minimizar os efeitos da fome por meio do combate ao desperdício de alimentos, ao mesmo tempo em que promove educação e cidadania em três frentes: nas empresas doadoras, nas instituições filantrópicas e nas escolas. Por meio de seu programa mais antigo, o colheita urbana, complementou 40.276.775 refeições e realizou 8.142.189 atendimentos desde 1999. Atualmente, beneficia 22.171 pessoas com risco alimentar, em 51 instituições de São Paulo e do entorno.

Colheita urbana

Contra a fome e o desperdício, economista recria lei da oferta e da demanda

SILVIA DE MOURA
DE SÃO PAULO

Cena 1 – Luciana Chinaglia Quintão, 49, chega a um doador para fazer a colheita urbana. No pátio de carga e descarga, percebe vários alimentos descartados ainda bons para o consumo. Imediatamente, aciona o gerente e pede para levar também aqueles produtos. Ela mesma separa tudo o que será transportado para três organizações não governamentais.

Cena 2 – Ela é cercada por internos de uma instituição que abriga adultos com deficiência intelectual. Frases carinhosas como “Que saudades!” ou “Puxa, que bom que você veio” entoam pelo local. Abraços e beijos são dados. As mãos dela são poucas para o tanto de outras mãos que querem seu aconchego.

No mesmo dia, duas Lucianas: a empreendedora, que coordena uma ONG que ajuda a alimentar 22 mil pessoas mensalmente, e a amiga sensível, que faz questão de tratar seus primeiros beneficiados com extremo cuidado.

Essa carioca conta que passou a infância tendo como paisagem do quintal de casa a pedra da Gávea. Desde pequena, preocupa-se com o que é “certo”, com o que é o “correto”, em tentar “fazer o melhor”.

“Eu tinha uma fantasia de que meus pais escreveriam em um quadro negro todas as regras da vida. Mas isso nunca aconteceu.”

Casada, passou uma temporada fora do país e veio morar na capital paulista. “A natureza no Rio é muito exuberante. No começo, senti muita dificuldade de me adaptar aqui em São Paulo.”

Muito observadora, fez antroposofia em busca de respostas para questões da vida. “Acho inaceitável e me choca muito ver crianças abandonadas, esqueléticas, com inanição. A sociedade precisa mudar. O que a gente joga fora todos os dias é uma montanha de comida.”

A formulação do Banco de Alimentos aconteceu, aos 36 anos, em um “insight”. “Eu tive um diálogo interno e me perguntei se ia ficar só pensando ou se eu ia realmente fazer algo. Resolvi criar a ONG, e não foi um processo da noite pro dia, foi um processo que durou uns nove meses.”

Economista de formação, Luciana diz que optou em fazer algo na área de planejamento e que pudesse coordenar. Para ela, a fome, elemento primeiro de sua ação, é paradoxal.

“A fome é tão batida, mas tão persistente. Já devia ter sido erradicada há muitos anos. E a fome e o desperdício são uma metáfora universal. A gente tem fome de tudo: de justiça, de habitação, de verdade, de comprometimento... Só que a fome do alimento realmente é a primeira fome. É fisiológico, as pessoas precisam comer para se desenvolver bem e depois para se manter.”

Cena 3 – Luciana vai buscar a filha mais velha, Diana, 19, na estação de trem. A garota está voltando da aula de publicidade e propaganda. Na casa, Antonio Pedro, 8, brinca com Banza, um dos sete cachorros da família. O enteado Lucas, 20, e Arthur, 17, falam sobre seus dotes artísticos de cantor e de músico.

Aqui, a empreendedora é mãe. Ouve a queixa do caçula, que reclama sua ausência por causa do excesso de trabalho. Conta que deixou cada um dos filhos (Diana, Arthur e Antonio Pedro) adotar um cão abandonado.

Diz que ainda sente saudades dos lugares vistos a partir da casa paterna. Há um ano, comprou um sítio em Cunha (SP), “porque é na metade do caminho entre São Paulo e Rio de Janeiro”.

Entre tantos quereres de um mundo melhor, sabe que um desejo, ao menos pessoal, já foi realizado. Quando não está empreendedora e consegue uma folga, Luciana passa horas ouvindo a vaquinha Mimosa mugir embaixo da janela de seu quarto no campo.

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Conheça mais sobre o Banco de Alimentos

O Banco de Alimentos é pioneiro entre as organizações da sociedade civil do país na promoção de um programa integrado de colheita urbana (eixo 1) com educação e ações de conscientização contra o desperdício de alimentos e sobre segurança alimentar nas instituições parceiras (eixo 2).

Sua atuação foi em partes inspirada no programa Mesa São Paulo, do Sesc-SP (Serviço Social do Comércio), o maior do gênero no Brasil. Criado em 1994 a partir de referências estrangeiras como a City Harvest, de Nova York, o Mesa São Paulo começou como uma cozinha central e passou a ter colheita urbana em 1997. Em 2003, deu origem ao Mesa Brasil, presente hoje em todos os Estados.

O principal diferencial do Banco de Alimentos está em seu terceiro eixo de atuação estratégica: expandir as ações e conhecimentos para atingir a sociedade como um todo. Sem “se restringir às áreas circunscritas em que existe o problema concreto da fome”, a ONG visa “promover um a mudança de cultura incentivando a ação”.

Nessa linha de atuação, a empreendedora social formulou e lançou em 2007 o projeto pedagógico “Alimentando a Transformação Social”, voltado para crianças e adolescentes de escolas privadas dos ensinos infantil, fundamental e médio. Por meio de oficinas e aulas temáticas, trabalha o desperdício de alimentos de maneira interdisciplinar e transversal, dentro de um objetivo mais amplo e ambicioso: formar o ser humano integral, responsável pelos seus atos. “Menina dos olhos” da candidata, o projeto está atualmente em fase de reformulação.

Também nesse eixo a ONG se diferencia ao se aproximar do mundo acadêmico, capacitando e treinando jovens nutricionistas para produzir conhecimento científico acerca dos temas focais.

Atualmente, metade do orçamento mensal de R$ 70 mil é bancada pelo Instituto General Motors, o que causa desconforto pelo risco inerente à falta de diversificação das fontes de recursos. O restante provém sobretudo de doações de sócios-contribuintes, tanto de pessoas físicas (29%) quanto de jurídicas (20%). O controle de todo o fluxo de caixa é concentrado em apenas uma profissional, sem haver suplentes, o que não é recomendável.

Por outro lado, a instituição apresenta boa administração financeira, com auditoria independente da RCS e fundo de reserva de R$ 110 mil.

Também comum a diversas organizações do terceiro setor é se readequar e fortalecer diante de uma situação de grande dificuldade. É neste momento que o Banco de Alimentos se encontra agora. Contratou um funcionário de marketing exclusivamente para cuidar da captação de recursos e, apoiado pela profissionalização da ONG (sua gerente faz MBA em gestão de projetos sociais), estruturou um variado –e ousado– planejamento estratégico-financeiro.

São quatro diretrizes estratégicas com o intuito de mobilizar novos paceiros e cuja eficácia está em fase atual de teste:

1- Campanhas gastronômicas

A ONG criou a campanha “9 Você Pode”, apadrinhada pelo chef Alex Atala, a fim de conquistar doações de R$ 9 mensais ou múltiplos para garantir as três refeições básicas diárias durante um mês aos beneficiários. As adesões, por ora baixas, dependem diretamente de um plano de comunicação mais sólido.

Também desenvolveu o projeto Chef Solidário, em que estabelecimentos paulistanos ligados à gastronomia recebem um selo de colaborador na luta contra a fome e o desperdício mediante doações financeiras mensais. O restaurante Tanger e a banqueteira Tatá Cury são os primeiros Chefs Solidários a integrar a rede colaborativa, que depende de ação mais persuasiva e direcionada para crescer.

2 - MRC (marketing relacionado à causa)

Pela área em que atua, o Banco de Alimentos apresenta forte potencial de conquistar aliados em marketing relacionado à causa, por meio do qual empresas do setor alimentício destinam parte da receita de uma linha de produtos à ONG. Para isso é fundamental o estabelecimento de uma forte rede de contatos empresarial. Por ora, a entidade registra quatro ações menores, porém um bom teste nesse sentido:

  1. Damas do Vinho –importadora e butique que criou um kit exclusivo de vinhos, com edição limitada, em que um percentual do preço foi para a ONG;
  2. Cheesecakes –durante 2009 e 2010, a publicitária Luana Azeredo desenvolveu uma linha de cheesecakes em que 70% do valor foi revertido para a entidade;
  3. “Cozinha Profissional” –a revista doa R$ 9 a cada assinatura (dentro da campanha “9 Você Pode”) e vende produtos da ONG em seu site;
  4. Maria Brigadeiro –o Banco de Alimentos acaba de fechar parceria com a doçaria, que disponibilizará brigadeiros não produzidos no dia da venda a preços menores, evitando o desperdício (normalmente os doces não vendidos no mesmo dia são descartados) e auxiliando a sustentabilidade da ONG.

3 - Doações

São duas ações perenes –a Nota Fiscal Paulista, em que empresas parceiras destinam notas de clientes para a ONG se beneficiar dos créditos de ICMS, e os Cofres Solidários, com doações diretas em parceria com a Ri Happy Brinquedos e o supermercado Sonda. Há ainda uma ação esporádica, uma campanha de doação realizada pelo site de compras coletivas Tubarão Solidário com quatro ONGs.

Para 2012, a organização está em vias de fechar acordo com a concorrida São Paulo Restaurant Week com o objetivo de receber a doação de R$ 1 por refeição consumida pelos participantes.

4 - Venda de produtos e serviços

A ONG visualiza o potencial de venda de brindes gastronômicos desenvolvidos especialmente com sua marca e livros e vídeos de receitas sobre AIA (aproveitamento integral dos alimentos). Outra possibilidade é a prestação de consultoria a escolas, faculdades e empresas –já faz treinamentos de recursos humanos em que os profissionais são desafiados a cozinhar em equipes e com o conceito de AIA.

Por fim, a empreendedora social, que vem de uma família tradicional no ramo de distribuição e logística editorial em São Paulo, pretende lançar a revista “OBA”, sigla para ONG Banco de Alimentos, com um conceito “leve, interessante e a preço acessível”, como estratégia para tonar a ONG autossustentável.

Principais parceiros: Instituto General Motors, Ri Happy, Ticket Edenred e estabelecimentos gastronômicos, Alex Atala (chef), BB Seguros, Boccuzzi Advogados, Cakes, Cahali Advogados, Centro Universitário São Camilo, Cozinha Profissional (revista), Crowe Horwarth RCS Auditores Independentes, Danone, Exitus, FMU, Giacometti, Gift Intelligence, Ikeda e-commerce, LP Gráfica, Multisolution, Printec Comunicação, Radiante Comunicação, Santa Gula, Sonda Supermercados, Vegetais Processados, Villa Grano, Viva com Ôrganicos e Wickbold, além de outros doadores regulares de alimentos.

Ainda que em sua atividade principal, a colheita urbana, a ONG não atue diretamente com o beneficiário final, a distribuição de alimentos às instituições que deles necessitam pode ser considerada desdobramento de seu impacto social direto.

Atualmente, a ONG registra o atendimento a 22.171 pessoas não economicamente ativas e com risco alimentar de 51 instituições, sendo:

  • 19 associações ligadas aos direitos da criança e do adolescente;
  • 15 casas de apoio a pessoas com câncer, deficiência mental, HIV, moradores de rua, transplantes e outras condições ou patologias;
  • 9 creches;
  • 3 asilos;
  • 3 albergues;
  • 2 hospitais.

Levantamento da instituição aponta que desse total 47% são crianças e adolescentes, 46% são adultos, e 7%, idosos. Regularmente, todos os doadores e parceiros recebem um relatório consolidado com o volume e o tipo de alimento arrecadado, as organizações beneficiadas e o número de pessoas atendidas.

Desde a primeira distribuição de alimentos, em fevereiro de 1999, até abril de 2011, foram complementadas 40.276.775 refeições e realizados 8.142.189 atendimentos. Em 2010, foram 3.440.285 refeições e 719.985 atendimentos.

Diz-se “complementadas” pois são fornecidos para as entidades cadastradas os hortifrútis correspondentes a 100% de suas necessidades nutricionais e parte dos alimentos perecíveis. O cálculo é feito a partir da multiplicação do número de refeições que a instituição cadastrada prepara pelo número de pessoas atendidas por ela.

Das doações, cerca de 62% são hortifrútis; 16%, produtos industrializados; 15%, lácteos; 7%, pães; e menos de 1%, massas.

Outra dimensão de impacto direto do projeto é a capacitação de 24 estagiários de nutrição por ano (sendo seis a cada trimestre), realizada por meio de convênio com o Centro Universitário São Camilo.

Mais do que servirem de apoio às atividades da ONG, os estagiários fazem seus TCCs (trabalho de conclusão de curso) diretamente nas instituições parceiras, com supervisão da equipe fixa do Banco de Alimentos e de acadêmicos da faculdade. Dessa forma, realizam avaliações antropométricas dos beneficiários finais, que, embora não sejam sistemáticas, conferem resultados científicos para a sua atuação.

São dezenas de estudos que comprovam a importância das doações de alimentos na complementação nutricional nos parceiros, como ao correlacionar o grau de severidade de deficiência mental e seu estado nutricional diagnosticado. Também fazem um raio-X sobre a segurança alimentar nessas associações –a conclusão mais frequente aponta erros e limitações que levam à desnutrição e/ou à obesidade, a despeito das atividades de educação e conscientização que o Banco de Alimentos promove periodicamente.

Dentro do paradigma de mudar a cultura de toda a sociedade em relação ao desperdício de alimentos e seus impactos socioambientais, a ONG também busca conscientizar os parceiros doadores. Um exemplo de resultado direto foi a reengenharia interna realizada pela Wickbold (indústria de pães) após passar a medir seu refugo devido às doações para o Banco de Alimentos. O volume desperdiçado, nesse caso, caiu de 8 toneladas para uma tonelada.

Nas escolas privadas, por meio do projeto Alimentando a Transformação Social, foram realizadas, segundo a organização, 101 oficinas e 28 aulas temáticas para 3.963 crianças e jovens desde 2007.

O Banco de Alimentos teve início em São Paulo, onde mantém o foco de sua atuação, e posteriormente expandiu para a Grande São Paulo.

Acaba de lançar um site novo, com um banco de informações sobre fome, desperdício, desnutrição, educação nutricional, aproveitamento integral dos alimentos e receitas, com vistas ao alcance nacional.

Internacionalmente, começou em 2006 uma parceria com o Banco Alimentare, banco de alimentos da Itália para troca de experiências e estratégias. O Alimentare adotou o conceito de colheita urbana do Banco de Alimentos, que, por sua vez, importou o mutirão de alimentos no Dia Mundial da Alimentação.

A ONG possui documentos e formulários claramente redigidos que sistematizam toda a atividade de colheita urbana, com detalhes relativos a contato com parceiros, transporte e manuseio de alimentos etc., segundo a legislação vigente. A manualização dos procedimentos operacionais favorece a replicação dos processos.

A Associação Prato Cheio, o programa Ajuda Alimentando, o Banco Ceagesp de Alimentos e o Banco de Alimentos de São Paulo tiveram como referência para sua fundação o trabalho da ONG, que se encontra regularmente com essas entidades para troca de experiências.

O grande avanço promovido pelo Banco de Alimentos com impacto indireto em políticas públicas certamente foi ter levantado a bandeira da conscientização contra o desperdício de alimentos, quando pouco se falava disso, há 13 anos. Embora seja impossível de quantificar esse impacto, é sabido que nestes anos a ONG tornou-se conhecida em todo o país e, por conseguinte, promoveu temas como o aproveitamento integral de alimentos, que mais tarde inspiraram diversas ações governamentais e leis nas três esferas.

A partir de seu modelo de trabalho, afirma a empreendedora social, foram desenvolvidos os bancos de alimentos municipais, que hoje estão presentes em 66 cidades com mais de 100 mil habitantes, em iniciativa financiada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Um dos estudos acadêmicos supervisionados pela própria ONG aponta que o tema “segurança alimentar e nutricional depende de uma ação coordenada entre Estado, sociedade e setor produtivo, a fim de que se estabeleça um plano efetivo de transformação da realidade”.

No Banco de Alimentos, o tema fome é transversal a todos os assuntos, da justiça social à habitação. São três eixos interligados que direcionam sua atuação:

1 - Minimizar os efeitos da fome e combater o desperdício de alimentos

Para cumprir esse propósito, a organização realiza a colheita urbana, na qual arrecada alimentos que são sobras de comercialização e excedentes de produção e os redistribui para instituições filantrópicas em São Paulo e na Grande São Paulo.

Os alimentos que teriam o lixo como destino –devido à dificuldade que a cadeia produtiva tem de escoá-lo em 100% para a mesa do consumidor– são aproveitados, dentro do lema “busca onde sobra, entrega onde falta”.

A ONG arrecada os alimentos doados diariamente, na parte da manhã, dentro de um roteiro semanal pré-estabelecido, e os distribui no mesmo dia, no período da tarde, para as entidades cadastradas. Levam-se em consideração o número de atendidos em cada entidade, faixa etária e necessidades específicas.

Os funcionários da ONG, do doador e da entidade cadastrada são capacitados dentro das normas exigidas pela Vigilância Sanitária a fim de minimizar riscos como contaminação. Todos os procedimentos (manuseio, armazenamento, cocção etc.) seguem um padrão pré-acordado.

Para garantir segurança jurídica para o doador, todos assinam um recibo em três vias, atestando a qualidade do material –a partir do momento em que o alimento deixa o estabelecimento doador, a responsabilidade é do Banco de Alimentos; após entregue, passa a ser da entidade cadastrada.

2 - Promover ações educativas e profiláticas voltadas às comunidades atendidas

Além de fornecer alimentos para as instituições atendidas, a ONG visa educá-las no correto modo de preparo das refeições. Essa vertente se dá por meio de cursos, palestras, workshops e oficinas culinárias com o objetivo de disseminar conhecimentos sobre manipulação de alimentos, aproveitamento integral de legumes, frutas, verduras etc., e consumo adequado de calorias, carboidratos, vitaminas e minerais, atentando para o combate à desnutrição e à subnutrição.

Essas atividades são realizadas mensalmente para representantes das instituições, (cozinheiras, cuidadores ou auxiliares) a fim de que multipliquem as informações nas instituições e nas comunidades em que atuam.

Outro caminho encontrado na educação foi unir o mundo acadêmico ao das demandas sociais, razão pela qual foi efetivada parceria com o Centro Universitário São Camilo há dez anos e, recentemente, com a FMU, na área de marketing nutricional. A ONG proporciona aos alunos do último ano do curso de nutrição a oportunidade de realizar estágio curricular, desenvolvendo trabalhos e pesquisas científicas, como avaliações antropométricas, a fim de traçar o perfil da população atendida e propor intervenções alimentares para a melhoria de seu estado nutricional.

3 - Expandir as ações e conhecimentos para fora das áreas circunscritas onde existe o problema concreto da fome para atingir a sociedade como um todo no sentido de promover uma mudança de cultura permanente

O olhar atento notará que a missão do Banco de Alimentos não é apenas “fazer com que cada vez mais um número maior de pessoas tenham acesso a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para uma alimentação saudável” mas também “ser modelo e multiplicador na luta pela conscientização da sociedade quanto a seu papel de protagonista na construção do desenvolvimento social”.

O segundo excerto refere-se sobretudo a este terceiro eixo de ação. A proposta é incentivar as pessoas à ação, por meio da educação. O principal projeto é o Alimentando a Transformação Social, que visa traçar aos estudantes das escolas privadas a ponte entre “os dois Brasis”: o que passa fome e o que desperdiça alimentos todos os dias. São feitas oficinas culinárias com os palhaços do Doutores da Alegria para os menores e aulas temáticas para os jovens, além de treinamentos em empresas. O projeto está em fase de reavaliação e hoje é realizado sob demanda.

Além dos programas e atividades anteriormente citados, a ONG promove desde 2006 o mutirão de alimentos, no dia 16 de outubro (Dia Mundial da Alimentação). Em parceria com o supermercado Sonda, 800 voluntários convidam as pessoas que vão fazer compras a adquirir alguns gêneros alimentícios e a doar.

Outro projeto é o Villa Integral: Uma Experiência Gastronômica Sustentável, que em 2010 uniu 13 chefs de restaurantes e bares badalados da Vila Madalena na criação de receitas sofisticadas, saborosas e nutritivas a partir do conceito de aproveitamento integral de alimentos. Bar do Santa, Casinha de Monet Bistrô, Ekoa, Santa Gula e Tanger foram alguns dos participantes. Neste ano, a ideia é expandir para todas as “vilas”: Vila Madalena, Vila Mariana, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição e Vila Pompeia.

“Trabalho no projeto Reciclar há dez anos. Quando comecei aqui, a ONG já recebia as doações. Compramos poucos produtos, porque verduras, frutas e legumes são fornecidos por meio da parceria com o Banco de Alimentos. E ele também oferece um curso de reaproveitamento de produtos, o que é excelente, porque o Reciclar não tem uma nutricionista, apenas eu cuido da cozinha com a ajuda de adolescentes que fazem parte do projeto.

Nas aulas com as nutricionistas, eu tenho aprendido muito. E depois coloco em prática no projeto e também com as minhas amigas. Eu faço receitas com talos e cascas, e elas ficam admiradas. Mas é assim mesmo, dá para reaproveitar a casca das frutas, os talhos dos legumes...

As minhas amigas brincam que tem talo nisso, talo naquilo. E eu respondo que o talo também é nutritivo. E ainda justifico: trabalho no projeto Reciclar, então, eu reciclo tudo! As aulas oferecidas pelo Banco de Alimentos são muito úteis e acontecem uma vez por mês na Faculdade São Camilo. Eu participo sempre. As nutricionistas ensinam como aproveitar ao máximo cada alimento.

Aqui no projeto, por exemplo, se eu fizer um macarrão com talo de couve, os garotos adoram. Bolo de casca de banana também faz sucesso com eles. Os jovens adoram comer legumes crus. Ah, o bolo de abobrinha é uma delícia, é doce, os alunos gostam muito também.

As verduras que servimos hoje no almoço vieram do Banco de Alimentos. Já é a segunda semana que aproveitamos parte dos produtos, porque chegaram bem fresquinhos. No feijão que eu fiz hoje tinha linguiça, coentro. Ontem, eu fiz com repolho. Os alunos gostam de feijão bem temperado. Quanto mais tempero e carnes colocar, mais eles gostam.

Adolescente gosta sempre de coisa a mais. Nós servimos refeições para 120 jovens. Eu cozinho diariamente cinco quilos de arroz e dois e meio de feijão. Sempre tem um acompanhamento diferente, carne, frango, linguiça...

Cada dia eu preparo uma refeição diferente. Os adolescentes gostam de comer macarrão com frango, arroz, feijão... Eles fazem uma misturada! Ah, essa turma gosta muito de salada! Quando a gente conversa entre amigos, é difícil encontrar quem goste de salada. Aqui os adolescentes aprenderam a comer de tudo. Não tem aquela frescura de quero comer tal comida hoje. Não, você vai comer o que tem.

Eles entram no projeto sabendo que o que tem para o almoço será o que eles irão comer. Se eles vem de casa com uma mania, chegam aqui e aprendem tudo diferente, conversam um com o outro e todos se alimentam da mesma maneira.

Quando algum alimento está muito maduro e não vai dar para esperar até o dia seguinte para preparar um prato, nós distribuímos entre os adolescentes para que eles aproveitem para comer em casa, com a família.”

MARIA JOSÉ DOS SANTOS, 36, cozinheira do Reciclar – Instituto de Reciclagem do Adolescente
 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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