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Leia perguntas e respostas que explicam punição à Russia na Rio-2016

Decisão da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo), nesta sexta-feira (17) baniu a equipe de atletismo da Rússia dos Jogos Olímpicos de 2016, em agosto, no Rio de Janeiro. A punição acontece em razão de casos sistemáticos de doping no país.

Confira abaixo algumas perguntas e respostas sobre o escândalo que abalou o esporte de uma das maiores potências olímpicas.

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Quando surgiram as primeiras denúncias de um esquema de doping organizado na Rússia?
Em dezembro de 2014, o canal alemão ARD transmitiu o documentário "Top Secret Doping: How Russia makes its Winners" ("Doping Secreto: Como a Rússia faz seus Vencedores"). No filme, o ex-funcionário da agência antidoping russa (Rusada) Vitali Stepanov e sua mulher, Iulia Rusanova, uma atleta dos 800 m condenada em 2013 por doping, mostram gravações implicando o técnico da seleção russa de atletismo Alexei Melnikov e o médico Sergei Portugalov em um esquema de aquisição de substâncias dopantes e de encobrimento de resultados positivos de doping.

Essas denúncias foram investigadas?
Sim. Uma força-tarefa da Wada (Agência Mundial Antidoping) apurou as denúncias e, cerca de um ano depois da exibição do documentário, divulgou um relatório em que dizia que a Rússia desenvolveu uma cultura "profundamente enraizada de fraude" no esporte, sobretudo no atletismo. Eles descobriram, entre outras formas de acobertamento, que pelo menos 1.417 testes positivos para doping foram destruídos no laboratório que analisava as amostras em Moscou. Além disso, a Wada identificou interferência governamental para encobrir os atletas dopados. Para Richard Pound, que presidiu a força-tarefa, seria inconcebível que o ministro do Esporte da Rússia, Vitali Mutko, não estivesse a par do esquema. A apuração, porém, poderia ter começado bem antes. Reportagem do "New York Times", mostrou que em 2012, uma atleta russa denunciou à Wada o uso sistemático de doping, por orientação de autoridades do país. A agência ignorou a denúncia.

Quais atletas estavam envolvidos no escândalo?
Inicialmente, cinco nomes foram divulgados: Maria Savinova, ouro nos 800 m nos Jogos de Londres-2012, Ekaterina Poistogova, bronze na mesma prova, Anastasia Bazdireva, Kristina Ugarova e Tatiana Miazina. Mais tarde, Irina Maracheva, vice-campeã europeia dos 800 m, e Anna Lukianova, da marcha olímpica, foram suspensas por dois anos. Já as corredoras Ielena Nikulina e Maria Nikolaieva foram suspensas por quatro anos. No entanto, acredita-se que muitos outros atletas foram beneficiados pelo esquema.

Como as autoridades russas reagiram?
O Ministério do Esporte da Rússia disse que iria colaborar com as investigações, mas pediu que fossem apresentados "fatos e provas" das acusações. Já o diretor do laboratório antidoping de Moscou, Grigori Rodchenkov, pediu demissão e se mudou para os EUA, onde viria a fazer novas denúncias (veja mais abaixo). O presidente russo Vladmir Putin, citado em relatório da Wada, afirmou que a legislação antidoping do país precisa ser ampliada e aprofundada. Em declarações públicas, ele costuma elogiar os esforços internacionais de investigação, apesar de o ministro russo do Esporte, Vitali Mutko, declarar que as acusações são um "ataque de informações contra o esporte russo".

Houve punição aos envolvidos?
O laboratório antidoping de Moscou foi descredenciado pela Wada, assim como a Rusada. O COI pediu para a Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) abrir processo disciplinar que pode resultar na cassação das medalhas olímpicas de atletas implicados. A Iaaf baniu por toda a vida, sob acusação de corrupção e envolvimento no escândalo de doping, Papa Massata Diack (filho do ex-presidente do órgão Lamine Diack e ex-consultor da organização), Valentin Balakhnichev (ex-presidente da Federação Russa de Atletismo e tesoureiro da entidade) e Alexei Melnikov (ex-treinador chefe da federação russa para corredores de longa distância). Gabriel Dollé (ex-diretor de doping da Iaaf) também foi suspenso, mas por cinco anos. A punição mais significativa, no entanto, foi a suspensão da Rússia de todas as competições internacionais de atletismo.

Isso significa que a Rússia não virá aos Jogos do Rio?
Não, o país está suspenso apenas das competições de atletismo, e não nos demais esportes. Além disso, a Iaaf abriu uma brecha para alguns esportistas russos do atletismo competirem de forma independente nos Jogos. Isso desde que comprovem não ter histórico de doping, vivam fora do país e tenham sido submetidos a outros programas de antidoping ou tenham colaborado extraordinariamente para investigações. A avaliação da Iaaf será feita caso a caso.

Os atletas brasileiros podem se beneficiar com a ausência dos russos?
Antes de saber quais atletas poderão disputar os Jogos pela brecha criada pela Iaaf é difícil dizer. As principais atletas brasileiras com chances de medalhas no atletismo são Fabiana Murer, no salto com vara, e Erica de Sena, na marcha atlética. Ambas tem adversárias russas com marcas melhores ou iguais às suas em 2016. Se essas atletas ficarem realmente fora dos Jogos, sim, elas podem ser beneficiadas.

As denúncias pararam por aí?
Não. Matérias publicadas na imprensa europeia envolveram outros altos dirigentes da IAAF em novos casos de acobertamento de doping de atletas russos, como o secretário-geral adjunto Nick Davies, o ex-presidente da IAAF Lamine Diack e seus filhos Papa Massata Diack e Khalil Diack, inclusive com acusações de extorsão. Com as novas descobertas, o chefe da comissão independente da Wada, o canadense Richard Pound, teria dito que a corrupção estava impregnada na IAAF.

O esquema organizado de doping da Rússia ficou restrito ao atletismo?
Aparentemente não. Em março, o jornal britânico "The Times" publicou matéria denunciando um esquema semelhante na natação russa. Segundo a publicação, Sergei Portugalov estaria envolvido com a prática também na natação. Ele teria forçado nadadores a se doparem. A última denúncia aconteceu em maio, quando o jornal americano "The New York Times" publicou texto em que o diretor do laboratório antidoping russo em 2014, Grigori Rodchenkov, revelava ter ministrado um coquetel com substâncias proibidas em dezenas de atletas russos que disputaram os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi naquele ano. Ele também afirmou que, durante os Jogos, especialistas russos em doping e membros dos serviços de inteligência do país substituíam sigilosamente amostras de urina que continham traços de medicamentos que melhoram o desempenho por urina "limpa", recolhida meses antes. A Wada disse que investigaria as duas denúncias.

A tenista russa Maria Sharapova se envolveu em algum desses esquemas?
Até onde se sabe, não. Sharapova anunciou que foi pega em exame antidoping no Aberto da Austrália por uso de meldonium e está suspensa preventivamente. No entanto, não há informações de relação entre o uso da substância e os esquemas organizados doping.

Robyn Beck - 7.mar.2016/AFP
TOPSHOT - Russian tennis player Maria Sharapova speaks at a press conference in downtown Los Angeles, California, March 7, 2016. The former world number one announced she failed a doping test at the Australian Open, saying a change in the World-Anti-Doping Agency banned list led to the violation. Sharapova said she tested positive for Meldonium, a substance she had been taking since 2006 but one that was added to the banned list this year. / AFP / ROBYN BECK ORG XMIT: RLB275
Sharapova durante entrevista em que anunciou que foi pega no exame antidoping

O que é o meldonium?
É uma substância usada no tratamento de isquemia, que é a diminuição da irrigação sanguínea em uma parte do organismo. O medicamento é usado em casos como angina (dor torácica), infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca crônica. Estudos mostraram que a substância aumenta a resistência dos atletas, ajudando na recuperação dos exercícios e melhorando a ativação do sistema nervoso central. A substância era permitida até o fim do ano passado, mas passou a ser considerada dopante no início de 2016.

Então Sharapova não virá para a Olimpíada do Rio?
Muito provavelmente não. Apesar de alguns atletas do leste europeu terem conseguido reverter suas suspensões preventivas, Sharapova foi julgada e suspensa por dois anos pela ITF (Federação Internacional de Tênis). Sua única chance é ter a decisão revertida na Corte Arbitral do Esporte (CAS). Ela já entrou com recurso e uma decisão definitiva deve ser anunciada até o dia 18 de julho, data limite para inscrição de atletas nos Jogos Olímpicos do Rio.

Além da Wada e da Iaaf, outras entidades tomaram medidas contra a Rússia?
Sim. Segundo o jornal americano "The New York Times", o Departamento da Justiça dos Estados Unidos abriu uma investigação sobre o esquema de doping utilizado por atletas russos. Eles estão investigando pessoas que possam ter se beneficiado do esquema. Acredita-se que os promotores estejam preparando acusações de conspiração e fraude. A Justiça americana permite a abertura de processos contra estrangeiros que não moram no país desde que eles tenham alguma conexão com os EUA, por exemplo, utilizando o sistema financeiro americano para movimentar dinheiro proveniente de crimes. No caso específico, a participação de atletas estrangeiros dopados em competições realizadas nos EUA poderia justificar a abertura do processo criminal. Atletas de elite russos competiram em grandes provas esportivas nos Estados Unidos, como a maratona de Boston e campeonatos internacionais de bobsled e skeleton em Lake Placid, Nova York.

O que o COI (Comitê Olímpico Internacional) disse sobre tudo isso?
O presidente do COI, Thomas Bach, disse que está determinado a impedir que atletas dopados venham competir na Olimpíada do Rio. Para isso, o comitê está refazendo testes antidoping das Olimpíadas de Pequim-2008 e Londres-2012. Após reanalisar 454 amostras dos Jogos da China foram encontradas substâncias dopantes nas amostras de 31 atletas (14 russos). Já nas 265 amostras reanalisadas dos Jogos de Londres, foram encontrados 23 atletas dopados de cinco esportes e seis países diferente. O COI não revelou os nomes dos atletas pegos nos exames antidoping, mas afirmou que os testes foram focados em esportistas com potencial para disputar os Jogos do Rio.

Fabrice Coffrini - 9.nov.2015/AFP
Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas
Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas

O atletismo é composto por quantos eventos?
Nos Jogos Olímpicos do Rio serão disputados 24 eventos masculinos (100 m, 200 m, 400 m, 800 m, 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m, 110 m com barreiras, 400 m com barreiras, 3.000 m com obstáculos, revezamento 4 x 100 m, revesamento 4 x 400 m, salto em altura, salto com vara, salto em distância, salto triplo, arremesso de peso, arremesso de disco, arremesso de dardo, decatlo, marcha atlética de 20 km, marcha atlética de 50 km e maratona) e 23 eventos femininos (100 m, 200 m, 400 m, 800 m, 1.500 m, 5.000 m, 10.000 m, 100 m com barreiras, 400 m com barreiras, 3.000 m com obstáculos, revezamento 4 x 100 m, revesamento 4 x 400 m, salto em altura, salto com vara, salto em distância, salto triplo, arremesso de peso, arremesso de disco, arremesso de dardo, heptatlo, marcha atlética de 20 km e maratona). É a modalidade que distribui mais medalhas nos Jogos, com 141, sendo 47 de ouro.

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