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Tragédia no
Vôo 402

Sindicato critica resgate de destroços


Caixa-preta revela momentos de horror. Escala da tripulação será analisada

Brasil Online 3/11/96 22h49
De São Paulo

O Sindicato Nacional dos Aeronautas fará na segunda-feira (4) um protesto formal contra o recolhimento dos destroços do Fokker-100 da TAM pela própria empresa. O protesto será encaminhado à comissão que investiga o acidente pelo representante do sindicato, José Tarouco, que se junta na segunda à investigação.

Segundo o presidente do sindicato, Luiz Fernando Collares, existe uma determinação da Icab (Organização de Aviação Civil Internacional) para que a empresa de aviação envolvida em desastre não tenha acesso aos destroços. 'Apesar disso, vi na televisão um funcionário com crachá da TAM resgatando a caixa-preta do avião, além das notícias de que a empresa guardou parte dos destroços em local próprio', disse Collares.

'Isso é um procedimento irregular e dá margem a suspeitas de manipulação', afirmou. De acordo com ele, o recolhimento e a guarda dos destroços teriam de ser feitos pelo Cenipa (Centro de Investigação de Prevenção de Acidentes).

Collares disse também que o presidente da comissão de investigação, tenente-coronel Aloísio Marques da Cunha, recusou a participação de um técnico da Ifalpa (Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linhas Aéreas) para assessorar o representante do Sindicato dos Aeronautas.

Segundo Collares, foi a própria Ifalpa que propôs enviar um técnico, devido à repercussão internacional do acidente.

Revelações
na caixa-preta

A caixa-preta com as conversas da cabine do vôo 402 da TAM indica que os momentos anteriores ao desastre foram de horror. Mostram o desespero do piloto ao saber que ia morrer. 'Os sons estavam com muitos ruídos, mas nós, que somos pilotos, conseguimos compreender algumas coisas que o comandante do vôo falou. É uma coisa horrível, pois ele sabe que vai morrer e não quer morrer', disse o tenente-coronel Flávio Lucio Sganzerla, do 4º Comando Aérea Regional. Ele não revelou o teor das frases.

O F-100 da TAM que caiu na quinta passada em cima de casas no Jabaquara (zona sul de São Paulo), matando 102 pessoas, possuía duas caixas-pretas. Elas, as turbinas e os flaps (parte das asas) são as partes mais importantes da aeronave para determinar a causa da queda.

A caixa com os diálogos entres os tripulantes foi aberta na noite de sexta-feira, mas as gravações estavam quase inaudíveis. Luiz Eduardo Falco, 36, vice-presidente da TAM, que também ouviu a gravação, afirma que José Antônio Moreno 'foi um grande comandante até o chão'.

Na noite de sexta-feira, o programa Globo Repórter, da Rede Globo, divulgou parte do conteúdo da caixa-preta, com a gravação dos últimos contatos da tripulação com a torre. Segundo o programa, o piloto José Antônio Moreno avisou à torre que o avião estava em pane e disse: "Vou retornar". Segundos depois, o piloto avisou: "Estou livrando a escola".

A caixa-preta com as conversas da cabine é uma espécie de gravador cuja fita roda sem fim. Ela grava sempre os últimos 30 minutos de diálogos na cabine. Essa caixa-preta e uma outra, a Fly Data Record, que grava 76 informações técnicas do vôo, foram enviadas aos Estados Unidos, onde serão examinadas pelo National Transportation Saved Board, órgão que cuida da segurança de todos os meios de transporte nos Estados Unidos. A decodificação das duas caixas deve estar pronta até terça-feira.

A comissão da Aeronáutica que investiga o acidente praticamente descarta a possibilidade de uma falha provocada por aparelho celular. 'Esse acidente não foi parte eletrônica, foi de motor', disse Sganzerla. Os dados técnicos recolhidos das caixas-pretas serão colocados em um simulador de vôo que vai repetir as condições do vôo 402 para verificar se com aqueles indicadores (velocidade, potência, altitude, inclinação) provocaria a queda.

A suposta falha mecânica que causou a tragédia no vôo 402 da TAM vai virar objeto de estudo de todos os pilotos de Fokker-100 dentro de três meses. A informação é do comandante da TAM Mário Roberto Gnecco, 39, piloto comercial com 17 mil horas de vôo. Dentro de três meses, afirmou, a FAB (Força Aérea Brasileira) deverá emitir um vasto relatório/auditoria sobre as causas do acidente no vôo 402.

Escala da tripulação
será analisada

O Ministério da Aeronáutica e a Polícia Civil de São Paulo requisitam na segunda-feira (4), à TAM, a escala de serviço da tripulação do vôo 402 do Fokker-100 que caiu na quinta-feira, em São Paulo. As cargas horárias do piloto José Antônio Moreno e do co-piloto Ricardo Gomes são o principal alvo de interesse dos dois órgãos. Tanto a Aeronáutica como a Polícia Civil trabalham com a suspeita de que a TAM não estaria cumprindo normas legais sobre tempo de descanso entre dois vôos, sobrecarregando comissários e pilotos da companhia.

O delegado Romeu Tuma Júnior, que preside o inquérito policial, também pedirá à TAM a escala de serviço dos tripulantes que estavam na última viagem do Fokker-100, antes do acidente. Tuma Júnior requisitou na sexta-feira a fita de um cinegrafista amador com images/ feitas logo após a queda do avião. Na segunda-feira, ele deve intimar para depor o mecânico Antonio Bueno, que afirma ter visto o reverso do avião abrir e fechar quatro vezes antes da queda. O depoimento deve acontecer na terça-feira.

IML retifica dados:
98 mortos

O diretor do Instituto Médico Legal de São Paulo, Francisco Claro, retificou o número de vítimas do acidente do Fokker-100. Segundo Claro, o acidente de quinta-feira matou 98 pessoas, e não 102, como vinha sendo divulgado pelo instituto.

O engano foi creditado a um telefonema na madrugada de sexta-feira, informando que mais quatro corpos iriam ao IML. A informação não foi checada e o instituto divulgou o número errado.

Até o final da tarde de segunda-feira, os legistas devem decidir se algum corpo fará o exame de DNA para ser identificado. Claro informou que o exame é complicado e deve demorar de duas a três semanas. Provavelmente, o DNA será retirado de ossos dos cadáveres e do sangue dos parentes, para comparação. Poucos laboratórios fazem esse tipo de exame no Brasil. O governo de São Paulo se responsabilizou por pagar o custo. Faltam ser identificados onze corpos.

Sandra da Mata, irmã do professor Marco Antonio de Oliveira, reclamou das 'informações desencontradas do IML'. Oliveira estava em casa quando parte da casa desabou sobre ele. O motorista que estava com ele ainda está internado no hospital Saboya. Segundo Sandra da Mata, ele teve 75% de queimaduras pelo corpo. Sandra disse que o IML havia informado no sábado que o corpo do professor 'estaria liberado'. Depois de uma reavaliação, a informação foi negada.

Neste domingo à tarde, a dentista particular de Oliveira e os legistas do IML trabalhavam juntos para identificar o corpo. Sandra disse que a família ainda tem esperança de encontrá-lo vivo. Diz que ele pode ter perdido a memória e estar perdido.

Indenizações
às vítimas

A TAM afirmou na sexta-feira (1) que vai indenizar todas as vítimas que estavam a bordo do Fokker 100 sem que seja necessário qualquer iniciativa legal por parte das famílias. As demais vítimas, que foram mortas fora do avião, deverão entrar em contato com a TAM para que o caso seja encaminhado à Unibanco Seguros. A empresa está disposta a fazer acordo com as pessoas que foram prejudicadas e não estavam na aeronave.

Com informações de Agência Folha e AJB


Informações na Internet

  • TAM - Site oficial da empresa