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27/03/2010 - 14h52

Cientista ataca abertura de estradas na Amazônia

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da Agência Folha, em Manaus
KÁTIA BRASIL, LAURA CAPRIGLIONE e MARLENE BERGAMO, enviadas especiais

O cientista que inventou o conceito de diversidade biológica, americano Thomas Lovejoy, criticou ontem, na abertura do Fórum Internacional de Sustentabilidade, em Manaus, a construção de estradas em regiões intocadas da Amazônia.

Para Lovejoy, as rodovias representam impactos sérios e podem ser substituídas por ferrovias e hidrovias.

Segundo o cientista, em um fragmento de cem hectares desmatado perde-se a metade das espécie de aves e as grandes árvores são destruídas. "Pode-se perder até 30% da biomassa, da massa viva da floresta."

Lovejoy fez a crítica ao lado do governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), que -junto aos ministros Dilma Rousseff e Alfredo Nascimento- participou da inauguração, nesta semana, de um trecho inacabado da estrada BR-319 (Manaus-Porto Velho). A estrada é de interesse de Nascimento, que é do Amazonas.

O governo Lula diz que vai autorizar a construção de uma estrada-parque na BR-319.

Segundo o Ministério dos Transportes, o conceito de estrada-parque é deixar no entorno da rodovias várias áreas protegidas, como unidades de conservação -que ainda serão criadas pelo governo federal.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que assistiu à palestra de Lovejoy, disse que o governo está fazendo "um esforço muito grande para retomar os investimentos em ferrovias".

"A estrada [BR-319] tem de ser muito bem fiscalizada, tem de ter um corredor ambiental de proteção, porque, evidentemente, isso tem de ser compatível com a preservação da floresta", afirmou Mercadante.

Histórico

"Mas nós precisamos olhar para [o transporte na] Amazônia como ferrovia e hidrovia, porque são formas de transporte muito mais compatíveis com a sustentabilidade do que as rodovias", disse o senador.

Lovejoy afirmou que acompanhou o impacto ambiental causado pelas rodovias ao estudar a abertura de estradas em Rondônia, Estado ligado ao resto do país pela BR-364, pavimentada nos anos 1980.

"Naquela década nós começamos a ver a presença do fogo, principalmente em Rondônia, e dez anos depois esse fogo se alastrou por conta do El Niño. Houve uma enorme nuvem de fumaça que se colocou sobre a América do Sul", disse Lovejoy.

"E as estradas continuam sendo rasgadas dentro da floresta até hoje, inclusive [estão sendo feitas] três estradas interoceânicas do oeste da Amazônia até o oceano Atlântico."

Lovejoy é doutor em biologia e conselheiro-chefe de biodiversidade para o Banco Mundial. Sobre a pavimentação da BR-319, ele disse que na sua opinião uma ferrovia seria a melhor opção para minimizar os impactos ambientais.

"É bom evitar rodovia. Quando tem que construir uma rodovia tem que planejar o uso da terra antes de construção. Isso incluiu um grande programa de fiscalização", disse o cientista.

O diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, disse que a construção da BR-319 será um incentivo a mais à devastação da floresta. Segundo ele, a estrada atende apenas a interesses eleitorais, representados por políticos com interesse em obter votos no interior do Estado.

"A opção pela ferrovia seria muito mais interessante, já que permitiria um controle mais eficaz da ocupação humana, e apenas nos pontos em que se construíssem as estações."

 

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