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13/05/2002 - 18h03

Mostra de arte punk ironiza jubileu da rainha

CASSUÇA BENEVIDES
da BBC

Em junho de 1977, o grupo de punk rock Sex Pistols lançava "God Save the Queen" (Deus salve a Rainha, o mesmo título do hino nacional britânico), para coincidir com as comemorações do Jubileu de Prata do reinado de Elizabeth 2ª, no Reino Unido.

Um quarto de século depois, a rainha comemora os 50 anos do seu reinado viajando pelo país, e os Sex Pistols anunciaram o relançamento de "God Save the Queen", e a galeria de arte londrina Centre of Attention, organizou uma exposição de 12 artistas britânicos, para comemorar os 25 anos do punk e o jubileu real.

O movimento punk pode ter envelhecido ou virado modismo, mas os 12 artistas que integram a exposição "Vive la Republique" usaram e abusaram do espírito irreverente, agressivo e debochado do punk.

Logo na entrada da galeria, foram amarrados no portão dois ramos de flores, um retrato da rainha-mãe, que morreu recentemente, e um cartão que diz: "Adeus Elisabeth", com grafia errada mesmo.

Memórias do punk

Todos os artistas da mostra são contemporâneos e só um dos trabalhos foi encomendado pela galeria: um estudo em cima do retrato miniatura da rainha Elisabeth, do artista Lucien Freud, feito por Josie McCoy.

Jamie Reid é um dos artistas que exibem trabalhos na mostra. Diretor artístico do Sex Pistols, ele criou a famosa imagem punk da rainha com um alfinete de fralda no lábio.

Desta vez, a rainha aparece no trabalho de Reid como uma colagem em que o rosto dela foi substituído pelo típico café da manhã inglês com feijão ao molho de tomate, ovos fritos, linguiça e torradas.

Vinte e cinco anos depois, a rainha ficou pop nas mãos do artista gráfico Brian Jones. Ele a retratou imitando em papel as serigrafias que Andy Warhol fez de Marilyn Monroe e outras figuras famosas.

Já o artista plástico Bansky pintou um macaco com a tiara da rainha. Ele já é conhecido dos moradores do bairro londrino de Notting Hill. Em grafite, Bansky pichou na fachada da estação de metrô do bairro a figura de Winston Churchill com cabelo ao estilo moicano, tingido de verde.

Bansky, que já foi rotulado por alguns críticos como "vândalo" e por outros como "o novo Andy Warhol", inspirou-se na colocação de uma peruca de moicano na estátua de Churchill em frente ao Parlamento, há dois anos, durante as manifestações de primeiro de maio.

Arte contemporânea

Um dos curadores da exposição, Gary O'Dwyer, disse que as pessoas ficaram um pouco decepcionadas porque queriam ver mais relíquias punks, "mas a intenção era fazer uma exposição de arte contemporânea".

Reclamações mesmo, ele só recebeu uma. Um dos assinantes da mala-direta da galeria se sentiu ofendido e pediu para sair da lista.

Arte

O assinante não deu detalhes sobre o que o fez sentir ofendido. Mas a imagem da rainha é usada em contextos não tão elogiosos.

Em uma instalação, a foto da rainha na nota de 20 libras foi transformada num cartão igual ao usado por prostitutas londrinas e deixados em cabines telefônicas. Ela é descrita como morena e madura no cartão, que é acompanhado por um pedestal e um telefone antigo.

O visitante que disca o número indicado no cartão ouve gravações de discursos da rainha Elizabeth.

A instalação é de Genesis P-Orridge, que foi preso em 1974 por enviar cartões postais com colagens de imagens da rainha, de vaginas e de enfermeiras em hospitais.

Ele foi denunciado por um carteiro e acabou preso por envio de correspondência indecente.

Anti-comercial

"A Centre of Attention" tem uma sala permanente, no bairro de Hackney, no norte de Londres, e promove exposições em teatros, lojas e escritórios. Ela é essencialmente anti-comercial.

A galeria é financiada por doações de artistas e do público e não cobra comissão dos trabalhos vendidos.

O estudante Felix Gill, que visitava a mostra, disse achar "interessante mostrar o jubileu da Rainha sob uma outra ótica". Para ele, a exposição deixa claro que há pessoas que reconhecem que a rainha é uma instituição, mas que têm uma visão diferente dela.

"Não fiquei ofendido de jeito nenhum", disse Gill, que se autodenominou como anti-monarquista.

Para a sorte da galeria e dos artistas, a lei de 1849 que proíbe defender a abolição da monarquia e ainda está em vigência, não é usada desde 1883.
 

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