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25/07/2002 - 13h19

Prefeitos colombianos governam cidades à distância

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Bogotá

O prefeito Javier Carrascal acompanhou a chegada de grupos guerrilheiros e de paramilitares, presenciou massacres e viu muitos dos moradores da pequena El Tarra, no norte de Santader, abandonarem os cultivos tradicionais por plantações de coca.

Agora, Carrascal não sabe direito o que acontece nessa cidade colombiana e teme não poder ver mais a população que o elegeu.

O prefeito é uma das vítimas das ameaças das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, o maior e mais antigo grupo rebelde da América Latina.

Há três semanas, as Farc anunciaram que vão matar ou seqüestrar prefeitos, vereadores e funcionários públicos que não renunciarem aos seus cargos.

Bloqueios das Farc
O prefeito de El Tarra explica que não pode retornar à cidade. "A única maneira de entrar e sair da cidade é por via terrestre", conta. "Há bloqueios das Farc por todos os cantos."

Carrascal não pretende renunciar. Para se manter no poder, está administrando à distância, de Bogotá.

Como ele, outros 160 prefeitos abandonaram suas cidades e migraram para locais mais seguros. Mais de 230 não aguentaram as pressões e renunciaram.

Diante da crise de governabilidade, o presidente Andrés Pastrana se esforça para impedir as renúncias. No entanto, o número de prefeitos afastados é maior a cada dia.

Saída em massa
Em algumas cidades, não existe mais administração municipal devido à saída em massa de vereadores e funcionários.

Em El Tarra, por exemplo, dos 11 vereadores, apenas um permanece no município. Os demais fugiram com medo de serem assassinados ou verem um parente seqüestrado ou morto.

Carrascal afirma ter saído do município para proteger sua familia, mas admite que ainda teme pela vida dos 15 mil habitantes da cidade.

"A guerrilha está na cidade há muito tempo. Os paramilitares chegaram há três anos", diz. "Os dois lados querem dominar a região. Quem sofre é a população civil, em meio ao fogo cruzado."

Boas-vindas a Uribe
Do lado das Farc, os guerrilheiros afirmam que as ameaças representam uma espécie de "boas-vindas" ao presidente eleito Álvaro Uribe e uma bofetada em Pastrana por ter suspenso as negociações de paz.

A guerrilha declara que sua intenção é acabar com a estrutura básica do Estado: seus governantes, suas leis.

Segundo Luiz Pérez Gutiérrez, prefeito de Medellín, segunda cidade mais importante do país, se o governo não tomar uma posição mais rígida, o conflito colombiano deve se agravar.

Pérez diz que o país está caminhando para um golpe de Estado. De acordo com o prefeito, Pastrana precisa adotar medidas mais eficazes, que barrem esse processo de desestabilização das Farc.

Um prefeito por mês
Nos últimos cinco anos, a média de prefeitos assassinados no país tem sido de um por mês, de acordo com levantamento da Federação Colombiana de Municípios.

Segundo Gilberto Toro, diretor-executivo da entidade, renunciar ou governar à distância não são atitudes elogiáveis, mas -em muitos casos- essa é a única alternativa para manter os prefeitos vivos.

Alguns analistas acreditam que a crise de governabilidade na Colômbia é uma resposta adiantada da guerrilha à estratégia de austeridade que Álvaro Uribe vem defendendo desde a sua campanha.

Para o cientista político Vicente Torrijos, as Farc querem isolar e controlar as ações de Uribe antes mesmo de sua posse, em 7 de agosto.
 

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