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07/08/2002 - 10h59

Uribe se prepara para enfrentar crises colombianas

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Bogotá

Em meio a uma forte onda de atentados que sacode a Colômbia desde o último fim de semana, Alvaro Uribe Vélez assume a Presidência do país hoje.

Analistas acreditam que a tarefa de Uribe não será das mais fáceis, em um momento em que os colombianos enfrentam uma de suas piores crises políticas e econômicas.

Reuters - 22.mai.2002
Alvaro Uribe, presidente eleito da Colômbia
Durante a campanha presidencial, o advogado de 50 anos prometeu um governo austero no combate à ação dos grupos guerrilheiros que atuam no país. Por conta do discurso forte, Uribe foi eleito com 53% dos votos.

Apesar de contar com uma imagem favorável para 70% da população, de acordo com uma recente pesquisa, Uribe dá sinais de que sabe que o caminho será difícil.

"Sem milagres"
Durante uma missa realizada na manhã de ontem, em Medellín, o presidente eleito pediu a ajuda de Deus para governar e avisou à população que não poderá fazer milagres, mas garantiu que trabalhará com honra para entregar um país melhor em quatro anos.

"A maioria dos eleitores votou nele, acreditando que o mais importante nesse momento para o país é a segurança militar", disse Leonardo Carvajal, cientista político e professor da Faculdade de Finanças, Governo e Relações Internacionais da Universidade Externado.

"Uribe tem em suas mãos um mandato forte por conta do respaldo dos colombianos que aprovam o fortalecimento das Forças Militares, da Polícia e, sobretudo, da resistência popular contra os paramilitares e a guerrilha", acrescentou Carvajal.

De acordo com o cientista político, o novo presidente deve realizar uma série de reformas constitucionais com o objetivo de obter as ferramentas necessárias para cumprir as promessas de campanha.

Analistas acreditam que uma polêmica redução de direitos civis, citada no início da semana pelo vice-presidente Francisco Santos, pode estar entre as novas medidas.

"O governo quer cortar garantias dos cidadãos, supostamente em favor da segurança, para poder combater com mais eficácia e com as mãos livres a guerrilha mais antiga da América Latina, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)", disse Carvajal.

"Mas, se essa medida terminar numa democracia restrita e num aumento da violação dos direitos humanos, vai haver oposição forte dentro e fora do país".

Estilo político
Para Miguel Garcia, professor de Ciências Políticas da Universidade Los Andes, Uribe vai impor um estilo político que os colombianos não estavam mais acostumados a assistir, depois de oito anos de "presidentes débeis".

De acordo com Garcia, a polêmica e o debate vão fazer parte do dia-a-dia do próximo governo. A expectativa é de que Uribe - dissidente do Partido Liberal -impulsione, a partir desta quarta-feira, uma reforma política para reduzir o tamanho do Congresso colombiano.

A proposta do presidente eleito prevê ainda a abertura de vagas para guerrilheiros ou paramilitares, vinculados a um processo de paz, que desejarem abandonar a clandestinidade para se incorporar a vida civil.

No entanto, a população tem indicado que o maior desafio de Uribe será, sem dúvida, combater as Farc, que a cada dia aparentam estar mais fortes.

Série de atentados
Nos últimos dias, o grupo guerrilheiro tentou demonstrar que não teme o novo presidente. Há pouco mais de um mês, as Farc ameaçaram sequestrar ou matar todos os 1.097 prefeitos colombianos que não renunciassem aos seus cargos.

Na semana passada, os rebeldes foram responsabilizados por uma série de atentados em todas as regiões do país.

Analistas afirmam ainda que Uribe também vai precisar mostrar à comunidade internacional que vai exercer o poder com equilíbrio, combatendo por igual a guerrilha e os paramilitares, sem esquecer da promessa de respeito irrestrito aos direitos humanos.

Além de tentar deter o conflito interno, Uribe terá pela frente uma economia em desaceleração, com crescimento previsto para esse ano de apenas 1,5%. A Colômbia também enfrenta problemas sociais, como o desemprego -que atinge 16% da população economicamente ativa- e a pobreza.

Narcotráfico
Com relação à política de combate ao narcotráfico, o sociólogo Ricardo Vargas acredita que não vai haver mudança.

"Há um compromisso estabelecido de respeitar o conteúdo do Plano Colômbia", diz. "Então, teremos mais fumigações aéreas de papoula e de folhas de coca. Se ocorrerem algumas mudanças, elas serão determinadas pelo Congresso dos Estados Unidos."

Carvajal tem a mesma opinião. De acordo com ele, os americanos vão continuar impondo a política antinarcóticos -a novidade seria a intervenção aérea, com a derrubada de aviões que não cumprirem os requisitos indicados.

Uribe chega hoje à Casa de Narino, depois de ter sofrido 15 atentados contra sua vida ao longo de sua carreira política.

Esquema de segurança
A cerimônia de posse será marcada por um forte esquema de segurança. Apenas os presidentes do Equador, Panamá, Honduras, Argentina e Venezuela, congressistas, ex-presidentes, familiares e mais alguns convidados estrangeiros participarão do evento.

Nas ruas de Bogotá, 21 mil homens da polícia e do Exército estão em alerta máximo para evitar qualquer tentativa de sabotagem.

Nenhuma aeronave comercial poderá sobrevoar o espaço aéreo da capital hoje, sob o risco de ser derrubada. Helicópteros e um avião dos Estados Unidos vão colaborar com a Força Aérea colombiana.

As precauções para prevenir um atentado contra o novo presidente impedirão, inclusive, a presença de jornalistas nacionais e estrangeiros na cerimônia de posse.

Eles estão autorizados a observar a solenidade apenas por televisão, num centro de convenções, localizado a dois quilômetros de distância.

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